Capítulo III - A Guerreira [Parte 09]

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Tornar-se um guerreiro e deixar de ser aprendiz é um rito de passagem. Significa novas responsabilidades e, acima de tudo, confiança. Ser confiado para proteger seus irmãos, a floresta, e todos os seus seres.

Os jovens elfos prosseguiam com o treinamento árduo e diário, mas deixavam de ser alunos. Não seriam mais acompanhados a todo o momento pelo Maighstir, não teriam alguém para corrigir cada pequeno erro, para chamar a atenção por qualquer deslize. Por isso, a passagem não acontecia para todos de uma turma ao mesmo tempo. É o Maighstir quem diz quando um elfo está pronto, e o grupo de aprendizes vai aos poucos diminuindo, até que o último seja confiado a se tornar um guerreiro de Lannuaine. Ara e Blath haviam foram apontados juntos para a passagem.

— Ainda uma criança, e já tão habilidosa quanto a mãe. — Dìon disse, abraçando sua filha. Ara precisou conter suas lágrimas, segurou o pai com força entre os braços.

— Besteira. Eu posso estar treinando com guerreiros de verdade agora, mas mamãe era muito mais do que isso.

Estavam na cozinha de Lùchairt. Dìon começava os preparativos para o café da manhã e Ara se aprontava para o primeiro dia do novo treinamento.

— Isso significa que você já pode ser chamada para missões? — Dìon perguntou, enquanto picava frutas. Não levantou o rosto, não queria que a filha visse a tristeza em seu olhar. Estava orgulhoso, porém temia que alguma das missões de Ara lhe trouxesse o mesmo triste destino de Lórien.

— Sim! Mal posso esperar, teremos a oportunidade de conhecer cidades grandes, castelos, e não sei mais o que!

Dìon continuou com seu sorriso triste:

— Que ótimo, querida.

Sem notar, Ara despediu-se do pai e saltitou para fora da cozinha, ansiosa para encontrar os seus novos companheiros de treino.

Para a felicidade de Dìon, missões demoraram a chegar. A rotina de Ara e Blath sofreu ligeira transformação, não repetiam os mesmos exercícios todos os dias, pois haviam novas habilidades a serem desenvolvidas. A jovem elfa se apaixonou pelo jogo dos lenços, pelo desafio de se camuflar na floresta e aproximar-se de um guerreiro sem ser notada, queria ser tão boa quanto Gaoth, Sgàil, ou Anluath. Fora isso, seus dias tornavam-se cada vez mais monótonos e a ansiedade para sua primeira tarefa de verdade crescia.

— Quando você acha que vão nos deixar fazer alguma coisa interessante? — Blath perguntou à Ara. Estavam sentados em uma praça de Lannionad, suspensa a metros do chão, aproveitando o pouco tempo livre que tinham e escutando a canção de outros elfos. A música contava histórias de tempos passados, quando seus ancestrais ainda habitavam os Salões Austrais, com os Pais de Tudo. Ara estava distraída com a melodia e precisou de uma cotovelada do amigo para prestar atenção.

— Eu não tenho ideia, mas espero que logo. — ela respondeu.

— Para onde você acha que vamos? Para uma cidade de humanos? Ou com o povo formiga? Queria tanto ver algum deles, imagine, formigas do tamanho de elfos.

Ara arregalou os olhos.

— Isso existe?! Anluath falou de formigas, eu só achei que era um formigueiro gigantesco!

Blath riu, e confirmou a existência de tais seres, seu pai havia lhe contado sobre quando os viu pela primeira vez, e o quanto tinha achado estranho.

— Eu quero ver o mar. — Ara comentou.

Ficaram os dois sonhando, esperando pelo grande dia, quando ouviriam Stiùireadh, o elfo que coordenava as missões, chamar:

— Anluath, Gaoth, Ara e Blath. Preciso de vocês.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora