Parte 16

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Acostumada com a enormidade do palácio real, Raquel conhecia todos os cantos do castelo, mas localizar três seres sem a ajuda dos guardas se demonstrava uma tarefa bastante complicada, e já não aguentava mais passar por cômodo atrás de cômodo, corredor atrás de corredor, sem encontrar o que procurava. Ainda assim, não queria perguntar onde estavam os elfos. Ao se utilizar dos caminhos oficiais, o correto seria se dirigir ao Duque quando os encontrasse, afinal de contas, ela era a herdeira do trono. Porém Raquel não confiava no Duque elfo, pelo simples fato dele ter vindo até Cáhida para se encontrar com seu tio.

O plano da princesa era primeiro conversar com a guarda-costas de Ghrèin, queria descobrir se a floresta ainda era a mesma que seu pai tinha se apaixonado, o lugar paradisíaco sobre o qual seus livros contavam, e, principalmente, se a Virtude permanecia longe de suas fronteiras, assim como todo o tipo de organização humana sempre estivera. Tinha pouco tempo, a comitiva de Lannuaine deixaria a cidade real naquela mesma tarde.

Para seu alívio, acabou por encontrar a elfa primeiro, ela estava sentada em um banco de pedra no pátio central, rosto virado para o céu, olhos fechados, como se estivesse absorvendo o calor do sol. Nossa, o cabelo é lindo, a princesa pensou. Já havia visto vários elfos em sua vida, mas nunca nenhum com cabelos de uma cor tão intensa. Ela parecia uma estátua sentada ali, algo esculpido, inventado. A pele tão clara, quase acinzentada, o cabelo de um azul tão forte, os traços finos, alongados, do rosto. Raquel se aproximou e se deu conta de que não sabia o nome da elfa. Perguntava-se como chamá-la, para tirá-la de seu aparente transe, quando ela abriu os olhos e virou o rosto em sua direção, encarando a princesa com curiosidade. Raquel percebeu de imediato que a elfa não a reconhecia. Não soube se isso era bom ou ruim.

— Olá. Você veio da floresta, não? Lannuaine?

A elfa pareceu surpresa, mas assentiu.

— E como você se chama? — a princesa continuou.

— Ara.

Raquel se apresentou apenas pelo nome e sentou-se do lado da elfa.

— Meu pai adora todas as histórias que escuta sobre a sua floresta. Ele sonha em visitá-la algum dia.

Ara sorriu, disse:

— Ela não é minha, nem de nenhum elfo. Nem mesmo daquele que vocês chamam de Duque. Mas é sim um lugar que vale visitar, é lindo. — a elfa pausou, refletiu por um momento, e continuou. — Talvez seja uma boa ideia encontrar um guia antes de entrar em Lannuaine só, os humanos tem bastante dificuldade em seguir as trilhas.

Raquel ergueu as sobrancelhas.

— Eu sempre ouvi falar que não existia qualquer trilha lá.

Ara deu de ombros.

— Elas existem, mas vocês não conseguem ver, eu acho. E nós precisamos perder nosso tempo ajudando exploradores perdidos que não fazem ideia de onde estão.

A princesa riu, falou:

— É a primeira vez que vejo um elfo reclamado de algo ser desperdício de tempo, vocês tem tanto.

— Estando aqui nesse castelo, nem parece que temos tanto assim. Vocês fazem tudo tão devagar, se eu não soubesse nada sobre humanos, acharia que vivem o dobro do tempo que os elfos.

Raquel considerou aquela fala por um momento com uma careta no rosto, depois se lembrou de todas as burocracias e reuniões que seu pai tinha que enfrentar em seu governo, e acabou por concordar.

— O reino dos homens não tem nada de incrível por si só. Mas e a floresta? Pode me contar mais sobre ela?

Ara levantou novamente o rosto para o céu. De olhos fechados, descreveu da melhor forma que pôde a floresta, a vila élfica e o grande carvalho onde morava. Sua fala era melódica, beirava uma música. Elfos tinham dificuldade em não cantar quando contavam sobre algo que amavam tanto. O relato fez Raquel sorrir.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Where stories live. Discover now