Capítulo I - Enquanto Crianças

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Lannuaine é um nome bastante conhecido pelos elfos de toda a terra. É mais antigo que o reinado dos homens, que as guerras e a posterior paz entre raças. Desde o início, desde que navios vieram do sul, sempre houve elfos em Lannuaine. Eles construíram um grandioso vilarejo, não em tamanho, mas em beleza, e lá viveram, afastados dos conflitos mundanos, durante séculos.

As árvores crescem por dezenas metros, suas copas cheias escondem o sol, e os enormes arbustos e samambaias disfarçam as poucas trilhas nunca mapeadas. Partes da vegetação densa se erguem como paredes. Homens, anões, halflings e outros seres nunca perderam muito tempo se aventurando pela floresta, era muito fácil se perder, sair da trilha, e nunca mais encontrá-la. As folhas se embaralham para os visitantes, trilhas se alongam nas duas direções, a sensação é de nunca estar se movendo. Plantas rasteiras parecem se mexer enquanto o explorador não está olhando, tramando e conspirando. Barulhos estranhos sempre os cercam, e surge o medo de ser puxado para o mato fechado por alguma criatura desconhecida.

Os de sorte logo chamam a atenção de algum elfo que, conhecendo aquela mata a ponto de sentir falta de um galho que caiu de uma árvore, conduz o explorador de volta a uma trilha em questão de minutos. O elfo sempre desaparece logo em seguida, desconfiado que é de qualquer estranho andando pelas suas terras, e deixa o aventureiro se perguntando se havia sonhado com aquela aparição.

Esses são os sortudos. São poucos os elfos que habitam a vasta floresta, e exploradores perdidos podem passar despercebidos por dias e mais dias. Caso consigam sobreviver, encontrando água e comida, em algum momento serão resgatados e guiados para um caminho seguro. Não são todos que conseguem. Também não são todos que confiam nos elfos, consideram essas criaturas egoístas e arrogantes, e não acreditam que teriam a boa vontade de levá-los a uma trilha para fora daquele labirinto verde. Acham que é algum tipo de armadilha, e preferem seguir seus caminhos sozinhos. Esses cometem o pior erro. Elfos não são arrogantes, apesar de passarem essa imagem, mas também não se importam o suficiente com os homens ou anões para insistir. Aqueles que recusam ajuda não recebem uma segunda chance, e são abandonados à própria sorte.

Lannuaine, no entanto, não é ameaçadora para seus habitantes, a floresta canta em seus ouvidos, as folhas dançam com sua presença, e o vilarejo pertence àquele lugar tanto quanto suas árvores. Poucos homens já visitaram Lannionad, a cidade dos elfos, mas histórias sobre sua beleza alcançam os quatro cantos da terra. Diz-se, entre eles, que o vilarejo é tão belo quanto a floresta é assustadora.

Quatro torres de pedra se erguem junto às árvores, marcando os limites da cidade. Já quase não se vê mais a pedra que, depois dos muitos séculos, foi coberta pelo musgo e pela vegetação. Flores azuis, vermelhas, amarelas e roxas se mesclam com trepadeiras que chegam até o alto da torre, pássaros fazem ninhos nos buracos entre as pedras, e as construções parecem adquirir vida.

Os elfos construíram suas casas no alto, e rampas de madeira circulam por entre as árvores para alcançá-las. Corrimões da galho, lembrando chifres de cervos e decorados com fios dourados e flores, acompanham as rampas. Todo o ar parece cintilar, como se minúsculos vagalumes dividissem a cidade com os elfos. Cada casa tem características peculiares, mas todas integram Lannuaine como se tivessem crescido naturalmente. Os Ilphelkiir, que fazem hidromel há mil e duzentos anos, haviam transformado sua casa em uma gigantesca colmeia, folhas douradas formam hexágonos e brilham ainda mais ao refletir a luz do sol. Os Holimion, melhores joalheiros que a floresta conhecia, e talvez que os elfos conhecessem, tinham construído seu lar como uma dália cor de rosa, feita de pedras preciosas e prata. Os Meliamme, apesar de uma família de guerreiros, tinham a moradia mais delicada de todas, construída com vidros coloridos no formato de uma lagarta. Quando o sol batia diretamente na casa, iluminava seu redor com reflexos na cor verde, amarelo, ou laranja.

Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]Where stories live. Discover now