Capítulo 195 - Circunstâncias

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A sala do trono era iluminada pela luz das constelações, pois não havia teto. Era desnecessariamente grande, tendo em vista que não havia nada além de uma extensa mesa e o próprio trono, onde Azrael se sentava no momento. As pedras que compunham eram cinzentas e fissuradas. No centro de tudo, havia uma espécie de poço, onde almas azuis ondulavam, presas em grilhões invisíveis.

Com a entrada da Uriel, Azrael nada fez além de se reconfortar em seu trono de pedra polida negra, onde as costas subiam além da altura de sua cabeça.

— Como conseguistes fugir das correntes mágicas? — perguntou a ela.

— Seria um tolo se julga que eu contaria.

— Justo. Uma pena, Uriel, pois realmente pensava em tornar você uma de nós, caso contasse algo, naturalmente.

— Por que me juntaria a vocês, Azrael? Só tenho um Senhor. — Uriel abaixou a espada e adotou uma pose serena. — Bahamut tentou ir contra Ele uma vez, e fora selado. Na segunda tentativa, morto. Ganância julgou que estava no controle do Reino dos Céus, mas, na verdade, estava vivenciando um plano além de sua compreensão, e também morreu, assim como todos os outros anjos traidores. Não vejo um fim diferente para o Lúcifer.

— Tem razão sobre todos estes fatos, mas... quem aplicou a sentença a estes tiranos? — Azrael deu uma curta e maliciosa risada. — Isto mesmo, os Selos. Morte, Peste, Fome, Guerra, Fúria... e até mesmo aquela demônio, Mikaela. Os nephilins e uma demônio que deram seu sangue e um pouco mais para manter o Equilíbrio. E o que seu Senhor fez além de ficar sentado e fingir-se de morto?! Apenas observando a destruição se alastrando entre suas criações e fazendo nada!

— Suas mãos servem para a criação, e não para a destruição!

— Ah, é... você não sabe da verdade, assim como eu não sabia. — O anjo caído gargalhou intensamente. — O que vou lhe contar agora apenas Lúcifer, Miguel, Tyrael e os Selos deveriam saber, mas Lúcifer me contou. Bem... Bahamut é filho de Deus.

Asneira! — vociferou ela, com fúria.

Não é! Seu Senhor cedeu metade de seu poder supremo e moldou Bahamut com as próprias imponentes mãos! Seu argumento é fútil, pois não fora Ele que criou a mim, Lúcifer e Ganância?!

— Não darei ouvidos as suas palavras imundas que tentam me persuadir ao mau caminho. Nunca que eu acreditaria em um ser vil.

Tola e cega! Diferente de você, cansei de receber migalhas; de ser um reles arcanjo que só servia para direcionar almas! Agora, sou Azrael, um dos Dedos do imperador Lúcifer; o Senhor deste paço, deste andar e do meu próprio exército. Ademais, sou um dos principais responsáveis pela criação dos demônios e acerca dos estudos deste submundo. E o que é você, Uriel, sem seu título ínfimo de arcanjo?

Uriel encostou a mão na grandiosa porta, e o gelo a encobriu por completo, selando a passagem. Ela, com um olhar fulminante, encarou Azrael.

— Venha cá e descubra — respondeu.

Azrael se ergueu do trono ao mesmo tempo em que empunhava suas foices de mão. Suas asas penadas negras se estenderam e ele saltou em direção a Uriel. Ela, por sua vez, saltou em direção a ele. As foices encontram a espada em um baque poderoso e ressoante, e os corpos de ambos ficaram inertes no ar. Usufruindo das asas, eles giraram em direções opostas, e as lâminas se encontraram novamente, porém a foice esquerda se manteve livre, obrigando Uriel se abaixar para esquivar, contudo a fazendo encontrar uma brecha. Rapidamente, ela cravejou sua mão esquerda com pedaços de gelo pontiagudos e golpeou o anjo caído no estômago, penetrando no couro da armadura e o arremessando violentamente contra a parede.

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