Capítulo 194 - Calabouço

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Os demônios abriam espaço para que os espectros passassem puxando a arcanjo. As correntes mágicas não só a prendiam, mas como também inutilizava a sua capacidade de criação de gelo — além disso, os espectros iriam a eletrocutar caso fizesse movimentos bruscos, como percebera anteriormente. Andando por entre a horda, os demônios olhavam para a Uriel de forma sedenta, remexendo-se ansiosos por querer devorá-la, contudo os espectros os afastavam com ameaças sinalizadas com suas magias.

Enfim, ficaram de frente para a gigantesca porta do castelo, que era feita de madeira e reforçada com metais e grifos. Sob o ranger alto e agudo, a porta começou a se abrir, e Uriel sentiu um ar mais quente roçar em sua pele. Antes mesmo fosse completamente aberta, os espectros adentraram.

A sala de entrada havia nada de incrível. A construção da parede e das diversas pilastras era de uma pedra cinzenta e lisa, e a iluminação bruxuleante era provida de chamas no alto dos pilares. Ali era tão silencioso e vazio que os passos ecoavam.

Seguindo para uma segunda sala, certas coisas mudaram. A iluminação agora era em abundância, com um grande lustre no centro, onde se encontrava quatro caminhos. No chão, haviam longos tapetes vermelhos. Vários espectros se encontravam ali, parecendo estar no aguardado dela e de mais um ser.

Ora, o ranger da porta ecoou, e quem Uriel já esperava adentrou. O antigo anjo da morte, Azrael, se aproximava a passos lentos. Seu corpo era revestido por sua armadura e o rosto era completamente oculto pela escuridão do capuz. Suas ombreiras, manoplas, botas e algumas partes da couraça era feita de um metal cinzento, enquanto o resto era de couro negro. Em sua cintura, cintilando e tintilando, estavam suas foices de mão, cujas lâminas eram tão curvadas que parecia um "C". As asas negras estavam à mostra.

O anjo caído ficou próximo a arcanjo.

— Você deveria estar morto, Azrael — ela disse.

— Assim como você, quando caiu do céu naquele dia. Mas cá estamos novamente, e você, Uriel, caiu do céu direto para o inferno, em meu covil.

Uriel fintava a escuridão por dentro do capuz com desprezo, e sentia-se ser olhada da mesma forma.

— Poupe-me trabalho e diga logo como está a situação das tropas de Deus.

— Julga que irei contar-lhe sobre os planos do meu Senhor? Julga-me impura assim como você, Azrael? Nunca hei de expor meu Senhor ou o Reino dos Céus; nem sob a pior tortura.

— É o que veremos. — Azrael olhou um de seus espectros. — Levem-na para o calabouço e digam que ordenei a tecelã a responsabilidade de torturá-la para extrair informações. Só pare quando ela disser algo relevante, se não só quando morrer, não antes disto.

Uriel escutou o som do estalar e no momento seguinte sentiu os raios que percorreram pelas correntes atingirem seu corpo, cerrando os dentes de imediato para não gritar de dor. Enquanto isto, Azrael se inclinou para se aproximar dela.

— Lembre-se que eu era devoto assim como você, Uriel. Olha para mim agora... um dos governantes do inferno. Iremos ver se sua é tão inabalável assim.



Os olhos de Uriel lentamente se abriram, e a primeira coisa que reparou foi que estavam em um pequeno quarto escuro. Depois, que estava suspensa no ar por uma corrente que estava presa em seus punhos e também em seus tornozelos. Ademais, estava completamente despida de sua armadura, nua. Tentou usar seu gelo, porém não conseguiu criá-lo.

— Vejo que acordou, anjo — ecoou uma voz. — Não precisa do esforço para usar seu gelo, pois nas algemas há uma runa que impedirá isto.

Seguindo a voz com os olhos, ela encontrou o demônio horrendo. Seu corpo, com a maior parte oculto por um sutil tecido, era grotesco e flácido, com vários orifícios que expeliam um pus amarelado. Sua perna direita era mais robusta que a esquerda; seu olho direito mais caído do que o esquerdo. De sua cabeça, brotavam poucos fios de cabelo. Seu nariz era praticamente dois orifícios e seus lábios achatados e largos. Não obstante, suas mãos eram de pele lisa e formato impecável.

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