Você só precisa acreditar

394 31 12
                                    

Los Angeles, 24 de dezembro de 2024
Camila arrumava sua mesa com todas as comidas da ceia de Natal. Já era algo próximo das 8 da noite e logo sua família e amigos chegariam para comemorar com ela. Lauren estava sentada no cadeirão junto à mesa, observando a mãe arrumar as coisas. Nesses últimos meses, Camila havia se tornado estável. Não teve nenhuma alucinação ou visão que lhe fizesse entrar em desespero e colocar a sua vida em risco. O tratamento parecia fazer algum efeito e ela estava, finalmente, bem. As coisas voltaram a lhe trazer alegria, seja a filha, o trabalho ou apenas passar algum tempo com os amigos. A preocupação com ela ainda era grande, mas diminuía à medida que ia melhorando. Terminou de arrumar a mesa, colocando mais uma flor dentro do vaso. Pegou a filha no colo, caminhando com ela nos braços, enquanto os pequenos olhinhos castanhos estavam focados no rosto da mãe. Aproximou-se da árvore de Natal modesta em sua sala, com algumas sacolas embaixo dela. Sentou no sofá com Lauren nos braços, pegando um dos presentes que estavam no chão.

-Você quer ver o que a mama comprou? - focou nos olhos da criança. Camila adorava falar com ela, mesmo sem obter respostas. Tirou a caixinha da sacola, abrindo-a e revelando um pequeno brinquedo de criança, daqueles que eles gostam de morder, na cor verde. Lauren logo esticou os bracinhos em busca do brinquedo. - Você gosta? Eu sei que não é muito, mas ultimamente eu tenho me sentido atraída por tudo que é dessa cor. Um dia você vai saber porque, eu prometo.

Camila foi retirada de sua conversa, que era mais um monólogo, já que sua filha permanecia mordendo o brinquedo, ouvindo-a falar, quando ouviu a campainha. A latina colocou sua filha novamente no cadeirão próximo à mesa. Levantou-se indo até a porta e abrindo-a. Encontrou-se com todos os seus amigos que, aparentemente, haviam chegado todos juntos e entraram fazendo barulho. Colocaram seus presentes embaixo da árvore, enchendo as mãos de álcool-gel para poderem pegar Lauren no colo. Pouco tempo depois, os pais e a irmã de Camila chegaram, entrando e se juntando à bagunça que a casa estava. A latina gostava de ter sua casa cheia, de estar próxima de todos que amava e, especialmente, de estar bem e saudável. Tentava ao máximo manter-se forte pelas promessas que havia feito para Clara e Sofia, mas principalmente por si mesma. Agora percebia que valia a pena tentar ficar bem. Assim, podia ter as boas coisas da vida, aproveitar os momentos com as pessoas que amava. Ela percebe que Lauren pode ter sido uma das pessoas que ela mais amou no mundo, mas não era a única. Esse pensamento era um dos poucos que lhe davam força. Não me entenda mal, Camila sentia falta de Lauren mais do que podia expressar em palavras e estar sem ela machucava muito. Com o tempo, ela começou a aprender a como sobreviver sem a morena. Entender que seus amigos, sua família e sua filha também lhe faziam feliz, foi o jeito que encontrou para amenizar sua dor. E parecia funcionar.

Camila se aproximou de sua mãe, que checava se a comida estava pronta de 15 em 15 minutos. Assim, a latina poderia descansar com seus amigos. Tudo o que Sinu queria era ver a filha descansar e faria todos os mínimos detalhes para que conseguisse. Viu a filha parar ao seu lado, observando Shawn andando com Lauren no colo de um lado para o outro. Camila sentiu os braços de sua mãe lhe rodeando em um abraço. A latina deixou-se chorar. Não eram lágrimas tristes, mas sim de emoção, por ter superado tudo o que apareceu em sua frente até o momento. Chorou por ver seus amigos sorrirem, despreocupados, pois ela não lhes dava mais motivos para isso. Sinu secou as lágrimas da filha com os dedos, deixando um beijo em sua bochecha. A latina sorriu para o carinho da mãe.

-Tudo está bem, agora, meu amor. - Sinu disse apertando a filha contra seu corpo.
-Espero que continue assim, Mama.
-Vai continuar, filha. Só depende de você.
-É disso que eu tenho mais medo.
-Mas não deveria. Olhe à sua volta, meu amor. Você vê alguém triste? - Camila negou com a cabeça. - Eu só vejo sorrisos. Todos os seus amigos estão felizes. Olha o tamanho do sorriso no rosto de sua filha. - sorriu ao ver Aj jogando Lauren para o alto e pegando-a no ar, e ela ria tanto que Camila não conseguiu segurar um sorriso inundado por lágrimas.
-E se eu perder tudo isso? E se eu for estúpida o suficiente para acabar com tudo isso?
-Você nunca vai nos perder, Mila. Nem se fizer a coisa mais idiota do mundo. Você tem que confiar em si mesma um pouco. Eu sei que perder Lauren foi a pior coisa do mundo, mas sua vida não pode se resumir a isso, meu amor. Olhe em volta. Olhe as coisas boas que a vida te deu, olhe a filha linda que a vida te deu. - ficou de frente para a latina, colocando as mãos nos ombros dela. - Você passou por coisas horríveis, mas agora está bem. Tudo vai ficar bem, você só tem que acreditar.
-Eu acredito, mama.

Todos reuniram-se à mesa. Lauren, que agora estava no colo de Ariana, foi carregada até o cadeirão ao lado da cadeira de Camila. Sofia também se sentou ao lado da latina enquanto o resto se distribuía nas cadeiras restantes. Comeram e logo depois trocaram os presentes. Não demorou muito para que todos fossem embora e a latina se visse sozinha com Lauren novamente. Ligou as suas músicas no aleatório enquanto arrumava a casa. Tirou a filha do cadeirão, dançando com ela em seus braços. Rodopiou, segurando uma das mãos da criança, imitando uma valsa, um sorriso amplo em seu rosto. Mas o aleatório parecia fazer questão de que ela se lembrasse da falecida namorada. One and only da Adele exalou da pequena caixa de som. Era uma das músicas com que Lauren conquistou Camila há tantos anos. Lágrimas escorreram pelo rosto da latina. As mãos de sua filha tocaram seu rosto, e ela deixou um beijo nelas.

-Sua mãe e eu tínhamos muitas músicas. - disse, conversando com a pequena, que apenas ouvia, com os olhinhos castanhos focados nos lábios da mãe. - Mas essa sempre foi uma especial. Nós dançávamos ao som dela quase todos os dias. É a primeira vez que escuto desde que ela se foi. Eu queria tanto que você tivesse a conhecido. Ela era tão... perfeita. Você iria amá-la e ela te amaria, eu tenho certeza que vocês seriam perfeitas uma para a outra. - passou o dedo indicador delicadamente sobre o pequeno nariz da filha. - Eu sinto muito, meu amor. Sinto muito por não ser a mãe que você merece, por sempre estar te decepcionando. Mas estou tentando melhorar por você, está bem? Tudo o que eu mais quero nesse mundo é que você seja feliz e estou tentando o meu máximo para que você consiga, mas às vezes é tão difícil, sabe? - viu a criança abrir a boca, bocejando e esfregando os olhos. - Você não quer ouvir, não é?

Camila desligou a música e caminhou pelas escadas ainda com a filha nos braços. Lauren encostou a cabeça em seu ombro, levando as mãozinhas ao rosto. A latina adentrou o quarto da pequena, com ela já adormecida no seu colo. Colocou a pequena sobre o berço, cobrindo seu corpinho com os lençóis. Depois de deixar um beijo em sua testa, voltou ao seu quarto, trocando sua roupa natalina por um pijama. Largou seu corpo sobre a cama, coçando os olhos. Encarou seu pulso, agora com uma cicatriz que rasgava sua tatuagem. Suspirou, focando em permanecer forte pela maior quantidade de tempo possível. Encarou seu porta-retrato em cima do criado-mudo, focando nos olhos verdes da fotografia e em como sentia falta deles. Fechou os olhos, forçando a si mesma para não chorar. Não aguentava mais sentir o rosto encharcado, sentir o gosto salgado de suas lágrimas. Ela não sabia como ainda as tinha, mesmo depois de parecer que já havia chorado tudo o que seu corpo suportaria. É verdade que estava melhor, mas nunca estaria completamente bem. Uma parte de si havia se perdido em meio às peças de carro espalhadas pelo asfalto. Lauren levou uma parte dela consigo, a melhor parte, a parte ingênua, inocente e despreocupada, que talvez nunca mais voltaria, por mais que tentasse.
                               *******
É isso por hoje, people
Beijos delusionals, bia💕

Find Me - Camren (Concluída)Where stories live. Discover now