Você é nossa filha

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Los Angeles, 04 de outubro de 2024
Camila abriu os olhos. Estar no hospital novamente causou calafrios e um frio em seu estômago. As lembranças do acidente atingiram-na com toda a força. Ela respirou fundo. Não sabia quem havia lhe tirado daquela situação e, também, não sabia se estava agradecida por ter salvo sua vida ou frustrada por não ter conseguido chegar onde queria. Moveu seu rosto lentamente, avistando Sofia e Ariana conversando. Pelas mãos trêmulas da melhor amiga, a latina soube que era ela quem tinha lhe encontrado. As duas se conheciam a tanto tempo que já estavam acostumadas com a linguagem corporal uma da outra. Ao perceber que Camila havia acordado, as outras garotas aproximaram-se dela, preocupadas. A latina ouvia as palavras reconfortantes e acabava por sentir-se cada vez pior pelo que havia feito. Sua intenção nunca foi preocupar aqueles que amava, mas com sua decisão, era algo inevitável. A porta não demorou para abrir, revelando Clara, visivelmente preocupada com a ex-nora. Os olhos da cubana marejaram ao encontrarem os da mãe de Lauren. As duas outras jovens saíram do quarto, deixando apenas Camila e sua ex-sogra para trás.

-Eu sinto muito, Sra. Jauregui. - Clara tomou as mãos da latina.
-Ei, meu amor, está tudo bem. Me escuta... eu sei o quanto a morte de Lauren te atingiu, mas acho que você está sendo dura demais consigo mesma. Nada do que houve foi culpa sua.
-Eu não sei... Me sinto responsável por fazer com que todos sofram. Por ter arrancado Lauren da vida de todos. Por ter tirado sua filha de você.
-Não quero que me entenda mal, perder Lauren foi a pior coisa do mundo. Eu tenho certeza de que você entende o que eu digo. - Clara pôde sentir as mãos trêmulas da latina sob as suas. Apertou-as um pouco mais forte, tentando acalmá-la. - Você se lembra de quando nos conhecemos pela primeira vez? - Camila concordou com a cabeça. - Eu e Michael te amamos instantaneamente. Você entrou para a família logo ali, e é isso que quero que você entenda, meu amor. Você é nossa filha, Camila. É por isso que estou pedindo para você parar de se machucar, por favor. Foi muito difícil perder Lauren, e nem eu, nem Michael, suportaríamos perder outra filha.
-Eu sinto muito, Sra. Jauregui. Foi mais forte que eu. Eu também considero vocês minha família e eu prometo que vou fazer meu melhor para que nada disso aconteça de novo.

A mãe de Lauren levantou e abraçou a nora, antes de deixar o quarto. Quando Clara saiu pela porta, Ariana entrou imediatamente. Camila se viu pressionada pelo número de perguntas feitas pela melhor amiga, sem contar o esporro e a abordagem menos dócil dela, fazendo a culpa lhe atingir de diversas maneiras. Sentindo-se amargurada, a latina escolheu descansar sozinha. Apesar de não fazer muito tempo desde que acordara, conversar e pensar naquele assunto era exaustivo tanto mental quanto fisicamente. Ela recostou sua cabeça no travesseiro, tentando pensar em qualquer coisa que não fossem os olhos verdes. Do lado de fora do quarto, Sofia encontrava-se com Clara. Depois de um abraço apertado, as duas se sentaram em cadeiras vazias no corredor do hospital.

-Obrigada por ter vindo, Sra. Jauregui. Camila precisava ouvir algumas palavras amorosas de você.
-Obrigada você por me chamar e pagar por tudo.
-Faço qualquer coisa para ver minha irmã sorrir novamente.
-Seus pais não vão ficar bravos por conta do dinheiro?
-Pode deixar que eu me viro com eles. - Clara sorriu para a jovem de 13 anos que havia visto crescer e que, por conta do acidente e Camila, teve que amadurecer mais cedo do que deveria. - Tem mais alguma coisa que você acha que eu possa fazer pela Mila?
-Acho que ela precisa de um choque de realidade. Ela entende que Lauren se foi e nunca mais vai voltar, mas ela se prende demais a isso. É hora dela seguir em frente e alguém precisa dizer isso à ela.
-Tudo bem. Eu vou cuidar disso, não se preocupe.

As duas se despediram com outro abraço. Sofia, agora, encontrava-se em meio a dois problemas. Teria que achar um modo de encarar seus pais por ter gastado dinheiro com a família de Lauren. E a parte mais difícil, dizer para Camila que era hora de seguir em frente. Qualquer palavra colocada de forma errada poderia causar uma reação indesejada da latina. Sofia entrou no quarto, em que Ariana e seus pais estavam conversando, enquanto sua irmã dormia. Ela se juntou à conversa, querendo que esse dia acabasse para que ela pudesse descansar e pensar sobre o que fazer.

Los Angeles, 10 de outubro de 2024
Sofia acordou com o despertador ressoando em sua cabeça. Algo mais forte que ela insistia para que ignorasse e voltasse a dormir, mas levantou. No fundo, ela sabia que se não acordasse sozinha, seus pais invadiriam seu quarto e lhe tirariam da cama a força. Coçou os olhos enquanto sentava e apertava a tela do celular para fazer com aquele som irritante cessasse. Levantou-se e vestiu o uniforme do colégio, descendo as escadas logo em seguida. Sentou à mesa junto com seus pais. Eles encaravam a filha, preocupados com tudo o que estava presenciando, mesmo tão jovem. Ela comia em silêncio, com mil coisas passando por sua cabeça. A perda de Lauren, sua irmã no hospital por tentar se machucar, o gasto do dinheiro de seus pais e como eles reagiriam. Sinuhe observou o suspiro da filha, que levava o cereal à boca.

-Quer conversar sobre alguma coisa, Sofi? - a mãe perguntou encarando os olhos castanhos da filha.
-Como o quê?
-Como com o que você gastou uma quantidade absurda com seu cartão de crédito. - a garota engoliu em seco. Não esperava ter essa conversa logo cedo.
-Eu sinto muito, mas foi algo que eu achei necessário. Eu paguei as passagens e o hotel da tia Clara para que pudesse vir falar com a Camila. Podemos dizer para Mila que não foi culpa dela quantas vezes quisermos, mas ela parece não acreditar. Achei que ouvir da Clara faria alguma diferença. Quem sabe assim ela possa parar de se machucar.
-Não estamos bravos, Sofia. - Alejandro disse ao ver sua filha se justificar demais.
-Não estão?
-Claro que não. - Sinu disse. - Ficamos felizes que se preocupe com sua irmã. Nós sabemos que a morte de Lauren não foi fácil para você, muito menos para Camila. E vê-la sofrer também está acabando conosco e imagino que com você também. Por isso, se precisar conversar, estamos aqui, meu amor.
-Obrigada, mãe.

Terminou seu café da manhã mais tranquila. Seus pais lhe deixaram na escola no caminho do trabalho. Era perceptível que Sofia não era a mesma criança desde o acidente. A perda de Lauren e a reação de Camila fizeram com que presenciasse coisas que talvez fosse nova demais para entender. E isso a mudou. Sua personalidade extrovertida e falante deu lugar a uma criança quieta e tímida. Todo dia rezava para acordar e que tudo não houvesse passado de um sonho, mas sempre que acordava, se decepcionava. As aulas pareciam passar rapidamente. Rápido demais, quando ela só queria que o tempo parasse. Deixou a escola, entrando no carro de seus pais. Seguiram para o hospital. Camila parecia melhorar com a visita de Clara. Sofia sentiu-se orgulhosa por ter tomado a decisão certa. Lembrou da sugestão da mãe de Lauren. Tinha que dizer para sua irmã que era hora de seguir em frente. Como faria isso se ela mesma pensava na morena todas as noites antes de dormir? Pediu para que seus pais deixassem as duas sozinhas.

-Mila, você sabe que a única coisa que eu quero é te ver feliz, não sabe? - a latina concordou, franzindo o cenho, sem entender onde a irmã queria chegar. - Eu sei que você ama muito a Lauren, eu também amo, mas... não acha que talvez seja hora de seguir em frente? - Camila deu um sorriso frouxo.
-Não acha que eu já tentei? - disse com as lágrimas escorrendo por seu rosto. - Eu me levanto todos os dias e digo para mim mesma que não vou pensar nela, mas não é tão fácil quanto parece.
-Eu sei. E me sinto uma hipócrita dizendo isso, porque eu também não consigo ficar sem pensar nela. Mas, eu sinto que isso te destrói mais do que deveria. Talvez nunca vamos conseguir superá-la, mas por favor pare de se machucar. Eu não aguento te ver nesse estado. Eu não quero te perder também, Mila. - disse sem conseguir conter o choro.
-Você não vai me perder, Sofi. Estou aqui, agora. Não quero que sofra por minha causa, ouviu?
-Isso é impossível. Somos próximas demais. Se eu te perder, acho que me perco também.
-Não! Eu não vou deixar com que isso aconteça.
-Você promete que eu não vou te perder?
-Prometo, Sofia.

Camila abriu os braços ao ver que a irmã se aproximava. Sentiu seu corpo ser pressionado em um abraço apertado. Secou o rosto molhado por lágrimas de Sofia com os dedos. Deixou um beijo suave na testa dela, que sorriu ao sentir o carinho da irmã. Mesmo que todas as palavras de Camila não fossem da boca para fora, ela sabia que era uma promessa difícil de cumprir. Ela queria ser forte, mas quem poderia garantir que ela não se machucaria novamente? Estava em um dilema entre acabar com seu próprio sofrimento, mas isso faria com que sua família entrasse em uma dor ainda maior e que sua filha crescesse sem uma mãe. Tentaria ao máximo se controlar, mas como ter certeza de que nada se repetisse? Parecia ser algo que teria de aprender se quisesse cumprir a promessa feita à sua irmã.
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Foi isso por hoje, meus anjinhos. Espero que tenham gostado.
Beijos delusionals, bia💕

Find Me - Camren (Concluída)Where stories live. Discover now