Livro 1 - A Elfa, O Homem e a Ordem [completo]

Capítulo III - A Guerreira [Parte 09]

Era noite, o treinamento já havia chegado ao fim com o dia chuvoso e quente. Os jovens elfos estavam exaustos, porém, ao escutarem seus nomes, qualquer sinal de cansaço havia desaparecido e ambos precisaram conter sua excitação.

Os quatro guerreiros convocados seguiram Stiùireadh até Lùchairt, para uma sala na qual Ara e Blath nunca haviam entrado. A decoração era simples, havia uma mesa grande de madeira no centro, com as cadeiras ao seu redor, uma tapeçaria com o mapa da Terra de Todos pendurada na parede, e uma estante com algumas armas e equipamentos que aparentavam estar esquecidos ali.

A atenção dos jovens recaiu de imediato sobre o mapa, bastante detalhado e desenhado, com representações simples de como seriam as muitas cidades espalhadas pelo reino. Ara e Blath não conheciam nada daquilo, olhavam com curiosidade para as figuras de castelos, portos, pontes e outras construções que não conseguiam imaginar como seriam na realidade. Estavam acostumados com o palácio dentro da árvore, com casas em formato de folhas, animais ou flores, muito diferentes das moradias em cidades habitadas por outras raças.

— Ara e Blath, vocês acompanharão os outros dois apenas para observação. — começou Stiùireadh. Os jovens poderiam ter se decepcionado, mas a possibilidade de conhecer qualquer coisa nova já os animava. Ainda mais, Ara conhecia bem seu professor de arco, e achava pouco provável que ele desse ouvidos à essa parte. — Os Holimion estavam na fronteira da floresta vendendo joias para mercadores anões, agora há pouco, e dois trolls surgiram e levaram a mercadoria.

— Eles estavam carregando um baú de joias a noite? É pedir para os trolls sentirem o cheio do ouro. — Gaoth comentou, irritada por seu trabalho ser resultado do descuido de outros.

Stiùreadh balançou a cabeça, erguendo as sobrancelhas, concordando com a elfa, mas sem dizê-lo em voz alta.

— Pelo que entendi, os anões se atrasaram, a troca deveria ter acontecido antes do sol se pôr.

Gaoth murmurava em desaprovação, reclamando dos anões e de seu comportamento inconsequente.

— Preciso que vocês encontrem os trolls e recuperem a mercadoria. Se preferirem esperar até o dia, para pegar as joias enquanto eles estiverem dormindo, não me oponho. Não os esperaremos para os exercícios de amanhã.

Era toda a informação que guerreiros experientes precisavam. Gaoth e Anluath se levantaram, cumprimentaram Stiùreadh com um aceno de cabeça e deixaram a sala. Ara e Blath se entreolharam, sem saber o que deveriam fazer em seguida, e apenas seguiram os elfos mais velhos, que se dirigiram a saída de Lannionad sem pressa, conversando, como se a tarefa que estavam prestes a realizar fosse tão simples quanto assar uma torta.

Anluath, deixou Gaoth para caminhar com os elfos jovens, alguns metros atrás.

— Como estão se sentindo? — ele perguntou, mais interessado na resposta de Ara do que de Blath.

— Ótimo! Finalmente vamos fazer algo! Quer dizer... Assistir né? Ver alguma coisa diferente. — Blath respondeu.

Ara estava distraída, olhando para frente, sua mente perdida em devaneios sobre outras criaturas, quantas delas sua mãe havia conhecido, quantas eram confiáveis.

— Não tenho ideia de como são trolls. — ela respondeu, apenas. — Eu vi uma ilustração em um livro, uma vez, mas não parecia ser muito realista.

— Aposto que eles são mais bonitos no livro. — Anluath respondeu, com uma careta, e voltou para o lado de Gaoth.

Após alguns minutos, os quatro alcançaram a fronteira da floresta, o ponto onde as árvores deixavam de crescer unidas e a vegetação se tornava rasteira, dando início à planície. Ara nunca havia chegado até ali, nem deixado a proteção das árvores, e ao dar o primeiro passo na trilha que saía de Lannuaine, sentiu o coração pulsar cada vez mais rápido e mais forte. Se demorou em dar o passo que a levaria para o mais distante que já havia ido em toda a sua vida. Imaginou que os outros não haviam notado, não reparou no sorriso de Anluath, meio divertido, meio orgulhoso.