Capítulo 14

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Helena havia aceitado ir almoçar no casarão, logicamente a pedido de Josef. Ela havia entendido como uma forma de desculpas (ou nem isso. Somente pela simplicidade com que ele a tratava, o carinho em que sentia), mesmo que partisse dele e não de Sebastian. Como prometido, Josef mandou que José Alfredo buscasse a jovem em sua casa — sua mãe se recusou a ir, pois preferiu deixar que a filha se divertisse com eles (de uma certa forma, ela não queria atrapalhar).

No carro, rumo a fazenda, os dois conversavam de forma harmônica.

— Você tem gostado bastante de ir para a fazenda, não? — Sorriu abafado.

— Desta vez foi o Josef que me convidou — Explicou vagamente.

— Ele é um grande homem — Disse — Deixou que todos nós trabalhássemos de novo, mesmo que o antigo dono tenha demitido quase todos os empregados.

— Tenho que concordar.

— Eu sinto pena dele, pois, aquela sua esposa é um demônio — Disse baixinho — Você poderá me julgar, entre tantas outras coisas, mas ela é um verdadeiro demônio!

— Pode ficar tranquilo, pois eu tenho meus motivos para achar que ela saiu do inferno — Seu tom de voz era sério.

— Eu não deveria falar essas coisas dela, mas é a pura verdade. Ontem mesmo ela me insultou, me chamando de peão imundo. — Bufou — Marcos me contou que ela fez o mesmo com ele...

— Não dê atenção a ela!

Os dois falaram bastante sobre o que pensavam de Avril. De um todo, foi um assunto bastante produtivo, pois, muitas das coisas que falavam, acabavam rindo e cada vez riam mais alto. O caminho até a fazenda foi tranquilo, tirando o fato de que do lado de fora do carro, estava bastante quente. Onde passavam, ficava um rastro de poeira.

Quase um mês antes havia chovido, mas depois disto, nem uma garoa passou. O resultado da chuva passada foi deixar a estrada de barro ainda mais dura, pois quase tudo o que passava ali deixava um rastro de poeira, mais denso que a névoa de uma manhã gélida.

A viagem durou pouco mais de dez minutos e rapidamente eles chegaram. Josef estava na varanda, certamente logo a espera de Helena, que não hesitou em demorar a sair do carro, andando rapidamente até onde ele estava. Bem antes de pôr os pés para fora, ela se despediu de José — ele pediu segredo para o assunto que estavam falando, criando teorias sobre a Avril ser a própria filha do demônio.

— Eu fico feliz que você tenha vindo — Ele foi até Helena e lhe de um beijo no topo de sua cabeça. A jovem se sentiu claramente estranha — a ausência de seu pai foi completamente preenchida por sua mãe, que fez os dois papéis, dando amor e carinho e tudo o que ela pudesse proporcionar para vê-la bem —, no entanto, aquele gesto fez que um vazio dentro de si despertasse.

Ela apenas sorriu nervosa, pois ainda estava tentando descobrir o que havia lhe acontecido.

De fato, ela sempre ficou curiosa para que sua mãe falasse sobre seu pai, no entanto, sempre foi doloroso para que Teresa conversasse com Helena sobre tal assunto.

— Vamos para dentro, pois o almoço será servido em breve — Avisou.

Com passos lentos, Josef guiou-a até a sala onde o almoço seria servido. Ele a levou com a mãe em seu ombro — um gesto singelo, que fez Helena novamente sentir-se estranha. Por onze anos ela não sentiu falta de seu pai ou se quer quis saber dele, no entanto, estes pensamentos estavam se fazendo presentes por alguns dias (ela os deixava de lado, mas em um gesto involuntário eles logo voltavam).

Ao chegarem na sala, Irina e Sebastian já estavam sentados e olharam para ela.

— Que surpresa — Irina lhe deu um sorriso — Eu não sabia que você viria hoje.

Uma Chance Para Viver - Livro 1Where stories live. Discover now