Eu nunca fui honesta e isso fez ele pensar que eu me achava boa demais para a fazenda, para esse lugar... Para ele.

Harry agora pensava que era estragado demais para mim, que eu nunca entenderia. Mas a verdade apenas deixou claro o quanto eu e ele somos os mesmos.

A garota estragada e o garoto quebrado.

Ele conseguiu ser sincero com tudo isso... Eu conseguiria também?

Eu não tinha certeza, mas sabia que tinha que tentar.

Eu devia isso... A ele e a mim mesma.

— Onde ele está? – questionei quando alcancei a casa, olhando aflita para Maya sentada no sofá.

Ela abriu a boca, mas não disse nada, assustada com meu estado deplorável pós-tempestade.

— Cadê ele, Maya? – insisti.

Ela mordeu a boca e me fitou apreensiva enquanto suspirava. Indicou a porta do nosso quarto com a cabeça, sem saber ao certo como falar comigo.

Não esperei nem mais um segundo antes de andar apressada na direção que ela tinha indicado, entrando e fechando a porta com força atrás de mim.

Levei alguns segundos para conseguir focalizar todo o cômodo, eu ainda não estava nas minhas melhores condições físicas enquanto passava os olhos pelos cantos escurecidos, procurando por qualquer sinal dele, mas não o encontrei em lugar algum.

Meu coração começou a bater mais forte e eu já estava voltando a ficar nervosa quando o barulho do chuveiro chamou minha atenção.

Cheguei a prender a respiração ofegante para tentar ouvir melhor, tentando constatar se aquilo era mesmo real ou obra da minha imaginação. Mas o barulho continuou, abafado pela porta encostada.

Eu senti como se estivesse assistindo à cena de fora, me vi respirando fundo e entrando no banheiro em passos calmos, porém decididos.

Eu não estava coordenando os meus movimentos, estava cansada demais para pensar... Para racionar sobre qualquer coisa. Meu corpo tinha assumido o controle e havia decidido me levar até ele.

Apoiei na pia e encarei o reflexo enquanto o barulho da água do chuveiro ecoava pelas paredes, a cortina estava fechada e escondia Harry de mim. Ele se mantinha em silêncio lá dentro, alheio à minha presença.

Observei meus traços úmidos pela chuva, o rosto pálido e linhas marcadas pela exaustão, procurando nos meus olhos opacos alguma inspiração para saber o que falar... E como falar. Mas nada me vinha em mente.

Eu sabia o que queria dizer... Eu queria que ele soubesse que eu sabia como ele se sentia, que eu o entendia... Deus, eu o entendia perfeitamente! Sabia como era se esconder atrás de um personagem, por trás de uma máscara, fugindo da dor e da culpa.

Queria dizer que tudo ia ficar bem, que tudo fica melhor com o tempo. A dor não vai embora, mas fica mais fácil de ignorá-la. Também queria que ele soubesse que eu nunca pensei que ele não fosse bom o suficiente para mim, muito pelo contrário... Talvez eu não o merecesse no fim das contas, pois Harry fazia com que eu me sentisse livre, enquanto a minha culpa estava sempre presente para me lembrar que eu não merecia sonhar com liberdade.

Eu queria dizer que eu sentia muito... E principalmente que eu queria tentar. Eu queria tentar com ele, se ele ainda quisesse tentar comigo.

Eu queria dizer todas essas coisas... Mas não encontrava as palavras na minha garganta seca.

Fitei o reflexo abatido por vários minutos até me dar conta de que eu nunca me entendia bem com ele através de conversas. Um de nós dois sempre dizia algo errado e tudo desandava.

Fuck Me [HS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora