Hábitos Decadentes - Exílio Aberrante

CAPÍTULO 21

          — Koa.

          — Hm? O que quer, Erick?

          — Ainda possui fraturas graves como para não andar?

          — Não.

          Não possui?

          — Não. — disse ele. — Eu não tenho mais nenhuma fratura em meu corpo.

          — Que bom. Fico contente de que você esbanje uma boa recuperação assim tão depressa... que é ainda mais evidente quando você tá em uma forma que não seja a de um gato branco.

          Koa respirou e exalou devagar, logo, ele olhou para a janela e observou o céu. Naquela visão, parecia que ele queria apenas que eu me calasse por um tempo, talvez para apreciar o ambiente, ou mesmo a vista daquela janela até o horizonte, ainda que só pudesse ser visto alguns prédios.

          — O que será agora? — perguntou ele.

          — Tá falando... do que iremos fazer agora?

          — Quando Ravi me jogou um caminhão, você não se irritou. Mesmo após eu ficar inconsciente no chão, eu escutei sua conversa com ele, você não demonstrava nenhum tipo de ira, ódio ou outra emoção em sua voz.

          — Eu...

          — Eu também não demonstraria nada do gênero por você, para que saiba.

          Essas palavras seriam o que chamam de lança divina, uma arma afiada o suficiente como para ultrapassar qualquer escudo e subjugar o adversário, em outras palavras, matá-lo. Contudo, Koa continuou antes que elas se tornassem uma arma feroz.

          — Eu saberia que você estaria bem, portanto, você também sabia que eu não morreria com aquilo.

          Verdade.

          Talvez seja mesquinho demais da minha parte dizer isto, mas, pela primeira vez, posso concordar que a insinuação de outra pessoa é verdade.

          De fato, eu não demonstrei nenhum tipo de fúria, ódio, chateação ou até mesmo comoção sobre o ultraje que foi Ravi ferir Koa daquele jeito. Não havia necessidade, pois ele não fez o mesmo quando Gaizess fez tudo aquilo comigo, pois ambos sabíamos que eu estaria bem, e eu sabia que ele estaria igual como agora.

          — Tá certo, eu não precisei me preocupar com você.

          Ao escutar isso, Koa olhou para mim, esse olhar não era o mesmo vazio esmeralda de antes, mas um sereno e vasto campo que demonstrava a comodidade com minhas palavras.

          — O que fará agora? — perguntou ele.

          — Heh...

          — O que foi? Por que está rindo?

          — Não é nada, apenas fiquei pensando em algo. Já notou quantas vezes já me perguntou isso desde que saímos de Bom Jardim? E agora estamos aqui de novo e você ainda me pergunta isso.

          — Você tem razão. Eu já te perguntei isso diversas vezes, e ainda não me deu uma resposta adequada, não é?

          — Não sei o que dizer exatamente, isso eu admito. E, embora tenha pensado sobre isso nestes dias, eu tive a certeza de que não encontraria uma resposta adequada.

          — E o que Ravi disse.

          Sua morte. O esquecimento de Evanla. A cabeça do vampiro.

          Ainda que ele não me dissesse, eu teria insistido para saber sobre sua morte. Eu ainda quero saber sobre sua morte, não consigo deixar de pensar que ele se tornou uma assombração.

          — O que irá fazer primeiro?

          — O quê?

          — Você já sabe qual dos três irá descobrir primeiro?

          — Os três...

          Não tenho ideia, cada um é mais confuso que o outro. Claramente, Ravi sabia sobre isso, ou pelo menos tinha um olhar superficial de tudo isso. Ele falou sobre o vampiro e como isso tinha relação com a garota Evanla.

          — Achar alguém que não conheço não é fácil.

          Mesmo que Ravi tenha me dado um nome, ainda não posso dizer que consigo encontrá-la, e mesmo que a encontre, o que eu deveria saber? O que eu deveria perguntar? O que isso tem a ver no fim das contas?

          Talvez o mais importante aqui seja...

          — Erick, você se importa realmente de saber alguma dessas coisas?

          Me importar? Eu realmente ligo para alguma dessas coisas? Eu tenho algum motivo para me aventurar novamente por aí? Por acaso, isso tudo é realmente importante para mim?

          — Absolutamente que sim.

          — Entendo...

          Ravi.

          Evanla.

          Até mesmo aquela cabeça imortal.

          Quero saber tudo o que houve com relação a esses três, até lá, eu irei divagar por aí. Até lá, eu irei rever todo o meu passado e saber o que eu esqueci, então, poderei entender tudo o que está acontecendo e o que realmente importa saber.

FIM

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