— Elementar, meu querido Erick. Eis a premissa de uma trágica história onde um vagabundo apaixonado decide roubar a máfia russa e tem sua amada sequestrada e morta no processo, dando início à uma jornada sangrenta de ódio e vingança.

          — Tô começando a achar que você assiste tevê demais pro meu gosto.

          — Nunca se assiste tevê demais, tolo. No entanto, se não for essa óbvia resposta, o que seria então?

          — Não sei dizer, ele quer matar alguém e veio chamar a gente porque acha que matamos o Luffma. Sendo assim, acha que a pessoa que ele quer matar não é humano?

          — Ele em si não é humano...

          — É... ele não é muito comum, mas... se quem ele quer matar na verdade for um "quê", então isso meio que explica um pouco o "recuperar meu corpo".

          — Se for uma aberração, acho que a gente não o ajudar foi uma boa.

          — Hm? Do que tá falando?

          — Pense... se essa esquisitice foi a culpada por deixá-lo nesse estado, então o que poderíamos fazer contra algo assim?

          — Acho que tá superestimando-a, a gente cuidou de um vampiro, não?

          — Erick... está escutando o que está falando? Nós mesmos sabemos que não fomos páreos para Luffma, para aquele vampiro, e somente a sorte nos fez sobreviver.

          É verdade.

          Luffma era mais rápido, forte e inteligente do que nós, o que proporcionou nossa vitória foi o acaso, nada além. Esperar que o mesmo aconteça contra uma bizarrice sobrenatural que deixou Ivhan daquele jeito é... espera! Por que estou falando como se eu fosse me envolver nisso? Acabei de rejeitá-lo. Tudo bem que o protagonista sempre se enche de coragem e enfrenta as dificuldades, mas eu não quero morrer jovem — talvez depois de me casar e ter filhos.

          — Falando sobre Luffma — disse Koa —, onde acha que ele está agora?

          — Assim de repente? Bem, não tenho muita ideia, mas qualquer coisa pode ter acontecido... ele pode até tá morto a essa altura, já que não seria estranho alguém ter deixado a caixa de gelo aberto. E eu falando da caixa... nem sei se ele ainda tá nela ou não.

          — Fico me perguntando o que Ivhan faria se tivesse se encontrado com o vampiro Luffma...

          As palavras de Koa pareciam soltas enquanto eu me perdia nas hipóteses do que houve com Luffma, com aquela cabeça e, sendo sincero, gostaria de poder virar a esquina e encontrá-la por acaso — isso acalmaria meu coração.

          No entanto, já estava chegando o pôr-do-sol, e nós devíamos nos preparar. Sendo o gerente um homem ocupado, ele apenas nos deixou junto dos cozinheiros para dar conta do estabelecimento. Para informar, temos três pessoas trabalhando na cozinha, e eu e Koa atendendo os clientes no salão como também revezamos de caixa. Eu sei, é uma bagunça, e pode ficar pior nesse evento, onde deve ter mais pessoas do que estamos acostumados a receber.

          — É uma certeza que só você possui — disse Koa.

          — Você precisa acreditar mais nos demais, essa desconfiança exagerada do potencial das pessoas não te faz bem.

          — Te direi o que não faz bem: arriscar tudo.

          — Tudo bem, não é tão ruim assim.

Hábitos Decadentes - Exílio AberranteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora