— Segure isto — disse Koa, enquanto me entregava uma caixa do tamanho de uma cadeira.

          — Para o que é isso, exatamente? — questionei enquanto bisbilhotava a caixa.

          — Veja.

          Com um estilete que Koa me dera, coloquei a caixa no chão e levemente passei o estilete, rasgando o lacre, dobrei a aba, e lá estava.

          Surpresa.

          Era um traje aparentemente.

          Falar traje deixa parecer que era algo elegante, ou talvez até roupas, porém.

          Era uma fantasia — droga! Isso quase soou erótico.

          Tirei da caixa e o estendi para ver completo. Parecia uma placa enorme, não, na verdade, parecia uma barra de cereal gigante em vertical com um furo do tamanho da minha cara no centro. Justamente onde acho que a minha entraria.

          — Humph. — Koa fez um som semelhante à quando nos engasgamos enquanto rimos.

          Parecia um deboche, uma piada ruim, mas eu entendia perfeitamente, até porque não seria Koa a usar isso, mas eu, pelo visto, ou ele não estaria tão sorridente, e então disse:

          — O gerente disse para colocar agora e ir lá para frente, acredito que você desempenhará uma performance acima do esperado, considerando que é de você que estamos falando.

         Inacreditável, alguém que tem menos tempo de cena que os personagens especiais e nenhuma fala possui tamanha imponência. Acaba sendo um pouco desproporcional, nem eu tenho essa autonomia.

          — Tem certeza de que ele disse pra eu usar isso? — questionei, com relutância.

          — Estou apenas repetindo o que me disseram, acredito que ele viu suas capacidades especiais e não espera algo desse nível de mais ninguém.

          — Por que tô imaginando que isso é produto da sua mente sádica de algum modo?

          — Você é desconfiado demais, tente acreditar em minhas palavras uma vez pelo menos.

          — Eu não ficaria com tanto receio se não fosse você.

          — Isso é um pouco ofensivo.

          — Considerando tudo o que temos passado juntos, acho que no mínimo eu deva te ofender um pouco pra apaziguar os meus nervos.

          — É como se você estivesse dando tapas em meu rosto.

          — Pensei que tava, espera... eu não tava? Acho que eu deveria ser mais rude a partir de agora.

* * *

          Várias pessoas.

          Um sol escaldante.

          Eram apenas doze horas, e o sol já possuía o asfalto como uma churrasqueira em domingo de verão quando saí com a fantasia de peixe frito, que mais parecia um retângulo dourado. Diversas pessoas que passavam me olhavam de lado. Isso não acontecia por desprezarem o peixe frito ou simplesmente odiarem pessoas com fantasias, só havia um motivo, uma única razão que fazia essas pessoas, trabalhadores do dia-a-dia, olharem para minha pessoa com olhares nebulosos.

          Minha cara.

          Resumindo, minha expressão nada favorecia para a simpatia com o produto que estava promovendo, de maneira rude, eu estragava o marketing. Não fora minha culpa. Jamais colaboraria para a falta da entrada de dinheiro justamente quando preciso dele, porém...

Hábitos Decadentes - Exílio AberranteWhere stories live. Discover now