— Prostituição de novo? E você, por que não tenta esse plano no meu lugar?

          — Eu?! Não, eu não...

          — Ah, vamos! Você seria uma bela pros-ti-tu-ta.

          — Espera! O que vo...

          Eu consegui.

          Koa até então tinha usado isso contra mim, o que, de fato, era sua arma secreta para me irritar constantemente — e estava conseguindo até pouco tempo. Porém, agora eu tive não só a chance, como toda uma situação que favorecesse a possibilidade de usar isso contra ele.

          — Aposto que teria uma fila inteira de clientes — indiquei com um sorriso espantoso em meu rosto.

          — Não! Pare com isso! — pediu Koa com arrependimento. — Eu sei o que está fazendo, não continue!

          — Tudo bem. Eu tenho uma ideia de como conseguir algum dinheiro e sair daqui.

          — Então você vai...

          — Sem prostituição. Sem qualquer coisa de teor sexual.

          — Então o que é?

          — Iremos trabalhar.

          — Hã?!

          Trabalho.

          O bom e velho trabalho honesto.

          Para que fique claro, não. Sendo totalmente sincero, e talvez este seja o momento de maior decisão na minha vida, então mereça esta verdade... eu jamais trabalhei. Nunca. Nenhuma vez.

          Também não é como se eu tivesse uma vida de alta classe com banheiras de ouro repletas de notas de cem, na verdade, sempre vivi de uma maneira comum, simples. Porém, em situação alguma eu tive a necessidade de trabalhar, o que fortalece o fato de que meus pais trabalharam arduamente para evitar qualquer esforço antes do momento adequado. Em outra situação, minha mãe impediria esse ato e me indicaria fazê-lo apenas daqui a dez anos. Mas...

          Por jamais ter trabalhado, nem mesmo sei como ou por onde começar. Citei essa opção por ser — além da mais óbvia — a mais "fácil", mas não sei nem mesmo o que fazer — isto, claro, se eu sei fazer algo também. Ainda que eu perambulasse pela cidade inteira à procura de algo, eu nem mesmo saberia o que procurar. Então, de certa forma, essa não é uma excelente ideia. O que realmente me intriga é o que fazer quando achar um trabalho.

          O que fazer. Novamente usando palavras adjuntas para retratar uma coisa que não sei.

          Pérolas não possui um acervo muito grande de trabalhos que eu e Koa possamos fazer. O mais provável é que teremos problemas pelo menos nas quatro primeiras tentativas, eu diria três, mas conhecendo a gente...

          Em outras palavras, será um dos maiores desafios da minha vida.

          Mas antes de qualquer coisa, antes mesmo de levantar-me de onde estava, afastando a caixa de gelo com a cabeça do vampiro, tive Koa obstruindo minha visão periférica, estando agachado em minha frente; por um segundo, ele movimentou-se o bastante como para ver o que havia atrás dele. No instante em que a imagem que eu vi refletiu em minha retina, eu congelei. Diria que fiquei pasmo, mas eu pude falar alguma coisa, e foi exatamente o que fiz.

          — Koa, poderia me dizer quem é esse senhor sentado ali? — perguntei com meu dedo apontado para o homem sentado em uma cadeira no outro lado da sala em que eu e Koa dormimos.

Hábitos Decadentes - Exílio AberranteWhere stories live. Discover now