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-Pai. -Foi tudo que Enrica conseguiu murmurar, uma parte dela queria desesperadamente correr para seus braços, e a outra não sabia como reagir.

-Minha garotinha... -Ele diz a olhando de volta com evidente emoção, se aproximando delaba passos lentos.

Enrica o observava pasma, voltando a lembrar daquele dia em que ele se ajoelhou no chão da sala, pra ficar da sua altura, olhou nos seus olhos e jurou que iria voltar, ela era tão pequena e ingênua, não merecia o que ele a fez passar por se despedir, Enrica preferia que ele nunca tivesse feito aquelas promesas vazias que não tinha a intenção de cumprir, por que elas lhe deram esperanças por um longo tempo.

Mas antes que sua cabeça pudesse seguir esse raciocínio, Henry a abraçou apertado e ela se aconchegou no seu peito, sentindo seu cheiro estranhamente familiar que ela pensara ter esquecido a muitos anos atrás, se sentia como uma criança novamente cujo a promessa finalmente havia sido cumprida.

-Papai. -Ela repete emocionada deitando a cabeça em seu ombro e o segurando com força, como se a qualquer momento ele pudesse fugir.

-En, senti tanta sua falta pequena. -Ele se afastou para olha-la melhor. -Se bem que já está tão grande... -Henry sorri para ela carinhosamente.

Enrica retribuiu o sorriso por um breve instante, até se lembrar do que seu pai havia feito, nesse momento o sorriso em seu rosto morreu e ela questionou:

-Se sentiu tanta falta porque não voltou antes? -Enrica pergunta friamente limpando as lágrimas rapidamente de seu rosto.

-En querida, precisamos conversar...mas não aqui. -Henry diz indicando o corredor em que eles estavam. -Ainda gosta de milkshake de morango? -Henry pergunta numa oferta amigável.

Enrica não quis dizer a ele que agora seguia uma dieta rígida para manter o físico pra aula de dança, e que não tomava um milkshake desde de os dez anos, mas afinal que mal faria? E eles precisavam mesmo conversar.

-Passei naquela lanchonete...que costumava levar você com suas amigas, nas tarde de sexta lembra? -Henry comenta animado. -Acredita que eles ainda estão abertos?

-Incrivel. -Enrica tenta acompanhar seu intusiasmo.

-Quer ir lá? Você adorava aquele lugar né? -Henry sugere começando a andar até a porta.

-É...quando eu tinha cinco anos. -Enrica fala com mais desdém do que pretendia.

Henry parou de andar e a fitou:

-Tem razão querida, eu não te conheço muito bem agora, e se quiser podemos ir em outro lugar, mas eu estou me esforçando pra tentar te conhecer, então acha que pode me dá uma chance? -Henry pede parecendo sincero.

-Tudo bem, o lugar do Milkshake tá bom. -Enrica concorda acendindo e o seguindo até a porta.

Andaram pelo campus lado a lado em silêncio, e vez ou outra Henry a olhava pelo canto do olho como que para se acostumar com a idéia de aquela garota, era sua menininha de tantos anos atrás.

Quando chegaram no estacionamento, Enrica ficou surpresa ao constatar que o BMW M3 estacionado ali, era o carro de seu pai, um homem de meia idade e terno saiu de trás do volante e abriu a porta do conversível preto para eles.

-Você tem um motorista? -Enrica perguntou abismada.

-Ah tenho, Richard essa é minha filha, Enrica. -Henry diz com descaso entrando no banco carona.

Em seguida Richard foi até a porta traseira e a abriu para Enrica.

-É um prazer conhece-la senhorita, seu pai me falou muito sobre você. -Richard diz esperando que ela se acomodasse para fechar a porta.

-Falou é? -Enrica comenta se questionado o que Henry teria tido ao homem.

A viagem até a lanchonete foi bem silenciosa, Henry passou boa parte dela falando ao celular com seus acionistas, seja lá o que isso significasse Enrica pensou, quando já estavam quase chegando Richard parou num semáforo, e Enrica pode ver pelas janelas escuras do carro a escola em que estudou durante a alfabetização, havia muitas crianças brincando no pátio enquanto esperava seus pais, outras corriam para os braços dos seus pais assim que os viam chegado, Enrica não pode deixar de se sentir nostálgica.

Lembrou de si mesma correndo para os braços do pai, como ele sempre carregava e beijava seu rosto, contava a ela como havia sido seu dia, e depois a incentivava a fazer o mesmo, como eles pareciam ter uma dinâmica divertida, como ele sempre a deixava correr pela calçada até em casa, ou a levava nos ombros enquanto ela tentava alcançar as folhas nas árvores, Enrica sentia falta "daquele" pai, atencioso e amoroso, não sabia dizer se "esse" homem ainda era assim, para ela ele ainda parecia um completo desconhecido.

Enrica também lembrou do pai ligando um disco de vinil na sala, e a carregando para que os dois pudessem dançar "valsa" pela sala, depois que ela fizesse as honras era a vez de sua mãe, Enrica sentiu saudades daquela época aonde tudo era verdadeiramente simples sem maiores complicações.

Sentiu o carro parar e logo Richard corria até eles para abrir suas portas.

-Obrigada Richard. -Enrica diz com sorriso educado.

-Disponha senhorita. -Ele responde automaticamente parecendo satisfeito.

Henry apenas passa por ele sem lhe dirigir o olhar, agora ele desligava o celular e o guardava numa mala preta, que Enrica não sabia porque ele a estava levando mas também não perguntou.

Henry escolheu uma mesa perto da parede de vidro, que permitia vê a rua lá fora, crianças brincavam no playground do outro lado da rua, e outras voltavam de mãos dadas com seus pais da escola, além disso a rua estava deserta e o sol de final de tarde estava alaranjado assim como todo o céu, Henry pediu o cardápio e a deixou escolher o que preferia comer, o que seria um alívio se a menção ao Milkshake não a tivesse deixado cheia de vontade de tomar um, então foi isso que ela pediu, enquanto Henry pediu um capuccino e algumas rosquinhas calóricas, Enrica pensava que se ele continuasse nesse ritmo provavelmente teria um ataque cardíaco em breve, mas tentou não ser chata em relação a isso, quando os pedidos chegaram ele disse:

-Então pequena En, o que andou aprontando em minha ausência? -Ele questiona com um sorriso largo no rosto.



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⏰ Última atualização: Aug 05, 2018 ⏰

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