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Lili sentia uma falta imensurável da filha, já era o segundo dia que ela não via sua garotinha, e sentia muita falta dela, a casa a deixava com uma sensação de vazio quando Enrica não estava na sala vendo TV, não tinha graça fazer café sem alguém pra entrar na cozinha e torcer o nariz, sentia mais falta ainda da sua menininha que já não existia mais, aquela que Lili carregava pra cama quando adormecia no sofá, aquela que corria com ela na chuva, ou que segurava sua mão pra atravessar a rua, era difícil pensar que Enrica já não precisava mais dela, as vezes Lili pensava em seus dias mais felizes, antes de Henry deixa-las, quando eles jantavam todos juntos e depois iam jogar um jogo qualquer perto da lareira, Henry costumava ligar o velho vinil que ele nunca a deixava jogar fora(que ainda estava na sala) pegava a pequena Enrica no colo e os dois rodopiavam pela sala ao som do vinil.

Lili ainda se perguntava como tudo em sua vida deu tão errado, ela não havia dado ouvidos a sua mãe quando ela a alertou sobre Henry, e quando essa descobriu que ela estava grávida renegou completamente a própria filha e a neta que ela nunca chegou a conhecer, quando Henry foi embora ela sabia que a mãe havia ficado secretamente satisfeita por estar certa, mas como que por milagre ela havia abaixado a guarda depois disso, ligava uma vez por semana para Lili mas nunca pedia pra falar com a neta, nem mesmo queria ouvir quando Lili decidia falar de Enrica, essa era uma das principais causas de discussões  entre as duas.

Lili sempre quis ser uma mãe melhor do que a que tinha, nunca desistiria da sua filha como sua mãe sugeriu que fizesse, no momento que soube que estava grávida não pode deixar de amar aquele pequeno serzinho que crescia dentro de si, como sua mãe poderia sugerir algo assim, ela amava Henry, e mal sabia que amaria essa menininha mais do que tudo na vida, mais do que sua própria vida, Lili não sabia ser capaz de sentir algo tão grande e tão puro por alguém, mas ela sentiu por Enrica ela faria tudo para ve-la feliz e torcia para que acima de tudo ela pudesse amar quem quisesse, não se arrependia de ter se casado com Henry faria tudo de novo se necessário porque os anos que viveu ao seu lado foram os melhores da sua vida.

Ele amava aquela bonequinha tanto quanto ela, isso era algo que apenas eles poderiam enteder, ela podia ver em seus olhos a verdadeira dedicação que tinha pela filha, e por isso ela o perdoava por ter se envolvido com outra mulher, não era mas da sua conta o que ele fazia, eles já não pertenciam um ao outro, o divórcio veio um ano depois, Enrica havia sentido mais do que ninguém falta do pai, Lili tentou com todas suas forças suprir essa falta, mas logo sua garotinha percebeu que as coisas nunca mais seriam as mesmas, por mais que Lili tentasse não conseguia fazer as coisas que ela fazia com o pai, Enrica nunca parecia satisfeita e Lili não a julgava, o mundo dela havia desmoronado, quantas vezes Lili viu seu pequeno passarinho chorar  até dormir sem poder fazer nada, por isso ela nunca perdoaria Henry,nunca o perdoaria por fazer uma menina tão doce quanto Enrica sofrer, isso não tinha perdão.

Henry tinha uma forma toda especial de lidar com Enrica, conversava com ela como se não fosse apenas um criança e sim uma igual, a ajudava rabiscar seus desenhos e tinha uma paciência espantosa que mais tarde Lili aprendeu a ter, ele a colocava pra dormir, e por fim havia se tornado uma parte essencial demais da vida da filha para ser tirada assim dela, Henry ainda tinha sido cara de pau de se despedir, o que irritou muito Lili porque ele prometeu a Enrica que voltaria apesar de não ter a intenção de cumprir a promessa.

Lili estava a ponto de chorar mas uma vez a perda do marido quando se lembrou o havia ido fazer no andar de cima, brincos ela se repreendeu passando mão abaixo dos olhos desejando não ter borrado a maquiagem, como ela era tola, tantos anos depois isso não deveria afeta-la do mesmo jeito, ao parar em frente ao espelho para colocar seus brincos de argola uma tristeza profunda se apossou dela, Lili estava ficando velha, quando foi que isso acontecerá? Até pouco tempo ela não passava de uma adolescente irresponsável como sua filha, é claro que Enrica era mais consciente do que ela jamais seria, mas agora aonde havia um rosto liso já havia os primeiros sinais de marcas de expressões que vinham com a idade, quando de repente Lili se tornou adulta? Ela era jovem e apaixonada, Henry a fazia se sentir assim percebeu, mas quando ele partiu foi como se o tempo tivesse voltado a andar, será que ela ainda poderia ser feliz? Poderia sentir esse amor novamente? Mas a filha era sua vida e quando Enrica partisse? O seria dela, Lili havia vivido para Enrica por tempo de mais para se lembrar de como era antes dela.

O que faria da sua vida sem seu pequeno passarinho?

O som da campainha no andar de baixo a trouxe novamente para o presente, Lili correu apressada apanhando sua bolsa de mão e seus saltos no caminho, e ainda os calçava  meio inclinada quando abriu a porta.

-Uau Lili você tá....muito bonita. -Jason se conteve no último instante para não falar uma besteira, enquanto a média com os olhos.

-Você acha? Não ta meio exagerado? Eu mesma quase não saio então resolvi me arrumar um pouquinho hoje. -Lili pergunta avaliando a si mesma com atenção e alisando o seu vestido com as mãos.

-Ah..não você tá ótima, como eu disse esse restaurante novo parece ser muito bom, ele é um pouco chique então...sua roupa está bem adequada. -Jason brinca a avaliando melhor.

-Ah você também me parece adequando. -Lili brinca avaliando seu terno caro que parecia deixar seus ombros mais largos, indo até ele e fechando a porta.

-Eu vi a En mais cedo, ela foi procurar você na cozinha. -Jason comenta enquanto eles caminhavam lado a lado até o carro.

-Você viu? Como ela tava? Eu to morrendo de saudade do meu bebê, parece que faz séculos que não a vejo. -Lili desabava sorrindo tristemente.

-Ah ela estava bem, parece que uma garota encrequeira ta pegando no pé dela, mas não é nada demais. -Jason garante coçando o cavanhaque com um sorrisinho nos lábios.

-Ah pobre En, ela ainda é tão ingênua, não sabe lidar com essas coisas. -Lili lamenta estalando a língua.

-São dramas da adolescência. -Jason dá é ombros abrindo a porta do mustang para Lili. -Quando você menos espera tudo isso passa. -Ele garante dando a volta no carro e entrando pelo lado do motorista.

-Tem razão. -Lili concorda entregando a ele a chave do carro e deixando os pensamento voarem bem longe.

Destino imperfeitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora