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Dez quilômetros, muitos surtos de pânico, e três horas depois, Enrica tinha um braço enfaixado com uma gaze delicada ao redor de onde jazia sua primeira tatuagem, e que ainda ardia um pouco, Kennedy tinha uma igual em volta do braço com que segurava o volante, e agia como se tivessem acabado de fazer a coisa mais natural do mundo.

-Mais uma manhã de ressaca na minha vida. -Kennedy havia dito pra expressar a naturalidade de suas ações.

-Se minha mãe ver isso ela mesma vai se dispor a remover...-Enrica diz puxando a manga do seu uniforme delicadamente até os pulsos, tomando o cuidado de não encostar no braço.

-Ela não vai saber. -Kennedy garantiu a ela com aquelas covinhas adoráveis que teriam feito ela se atirar de um prédio se ele pedisse.

-Se eu morrer não te quero no meu enterro. -Enrica resmunga virando para olhar a paisagem passar na janela.

-Ela te ama não é? Quando, e se, ela descobrir vai te perdoar, é isso que famílias normais fazem... -Kennedy diz de repente muito concentrado na estrada.

-Por que seus pais precisariam te perdoar? -Enrica deixa escapar se arrependo das suas palavras assim que viu a a expressão no rosto de Kennedy.

-Por nada, esquece isso tá? -Kennedy pede a ela carinhoso e paciênte voltando a fitar a estrada.

Enrica acendiu, mas sabia que não ia esquecer até por que algo que havia visto naquela manhã ainda não sairá de sua cabeça, algodões encharcados de sangue no lixo do banheiro, seringas aparentemente limpas e nunca usadas, mas só o fato de ele ainda guardar aquele tipo de coisa lhe causava arrepios, sabia que não devia perguntar, que não devia desconfiar de Kennedy, mas era muito difícil confiar em alguém que não parecia confiar em ninguém, nem mesmo na própria namorada.

                                ...

James chegou um tanto pálido na cozinha do refeitório, assustando Lily que de pronto perguntou:

-É a En? Ela tá bem? -Lili questiona largando sua bisnaga, para lhe dedicar total atenção.

-Não Lili meu Deus calma, En está bem...ainda deve estar dormindo. -James a acalma, mas não parecia aliviado.

-O que foi? -Lili pergunta ansiosa por respostas enquanto tirava o avental.

-Seu...Henry está na direção. -James fala meio encabulado.

-Henry? -Lili questiona confusa como se ele tivesse acabado de falar a maior insanidade da sua vida.

-Quantos ex-maridos você tem? -James brinca afim de aliviar o clima.

-Felizmente só um, mas não sei o que ele possa querer aqui, espero que ele não pretenda falar com En. -Lili parecia ter envelhecido vinte anos de repente tamanha era sua preocupação, e ruguinhas adoráveis surgiram nos cantos de seus olhos James notou.

-Eu não acho que seja disso que se trate, ouvir falar que o diretor está conversando com o novo bem feitor da escola. -James comenta com um olhar duvidoso.

-É bem a cara de Henry achar que pode comprar a confiança da filha desse jeito, por qual outro motivo ele estaria fazendo doações? -Lili se perguntou em voz alta mas James sabia que ela não esperava uma resposta, ao menos não dele.

-Se quiser pode ir lá falar com ele, eu te cubro por aqui, e você sabe que aqui só lota no almoço... -James da de ombros já se perguntando mentalmente aonde diabos poderia ter se metido Matheus.

-Jura? Obrigada, eu vou tentar não demorar. -Lili fala grata dando um abraço rápido em James e correndo até a porta antes que esse pudesse mudar de idéia.

-Boa sorte. -James disse mais para si mesmo já que Lili já tinha ido.

O fato é que depois dessa notícia ele não teve coragem de dizer que não encontrava Enrica em lugar nenhum, e torceu para que ela aparece antes que Lili pudesse dar sua falta, caso o contrário ela estaria em sérios apuros quando voltasse.

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Destino imperfeitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora