CAPÍTULO 1

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UM

          Estive pensando no quão esgotante é uma viagem.

          Acontece de você se desgastar mais em uma viagem de relaxamento do que em casa, chega a ser irônico. Constantemente as pessoas usam do artifício de tirar uma folga de sua cidade para descobrirem novos ares — embora isso não dure mais do que um fim de semana, no máximo.

          Mas a viagem que eu fiz não foi de relaxamento, na verdade, eu decidi que deveria deixar a cidade na qual nasci e cresci e, com meu amigo, decidi ir para outro lugar por um tempo.

          Não pense que eu sou um irresponsável, minha casa não ficou sozinha, eu não fugi também, apenas saí por um tempo — e sobre sozinha, há o seguro da prefeitura.

          Eu fiquei meio indeciso para onde ir, após tudo o que me ocorreu, eu pensei em ir para o mais longe possível, e aconteceu de eu parar aqui.

          Fonte Nova.

          Fonte Nova não é tão longe de onde eu vivia, não é como atravessar a rua, mas também não leva uma semana para se chegar. Mas esta não é uma história sobre a cidade, é apenas um dado curioso que gostaria de compartilhar. Na nossa situação atual — falando mais sobre a situação financeira — isso foi o máximo que eu consegui pagar, o que me faz repensar se deveria arrumar um emprego, mas isso é para outro dia.

          Não é muito diferente de onde eu vivia, ao todo, é um lugar grande, parece estar em constante movimento — se é que não possui vida própria, é claro. Não tem forma de me perder aqui também, então diria que é um lugar até interessante para se estar, o que é algo totalmente diferente do que eu tinha.

          Porém, devo tomar cuidado com um certo alguém se perdendo...

          Hm? Onde ele... Não, é brincadeira...

          Após pagar o adiantamento do quarto que alugamos, descemos para ir até uma praça em frente dali, porém... ele desapareceu. Não, ele se perdeu.

          Eu sei o que eu disse antes e posso acabar me contradizendo, mas estava apenas me gabando. A praça não é enorme, dá para ver todos os arredores sem problemas, e isso, de fato, já é um problema, ele poderia estar em qualquer lugar, e eu não perceberia. Poderia estar na sorveteria, na lanchonete, no restaurante, no shopping, nos comércios... não, espera, tem certos lugares que ele nunca tocaria.

          Se bem me lembro, ele odeia comida industrializada, e, sendo que reclamou a viagem inteira — que não durou tanto assim — acho que iria procurar o que comer. Sendo assim, não, sendo especificamente assim, existe um filtro de locações em que ele realmente estaria, não é?

          E devo parar de falar comigo mesmo também? As pessoas me olham estranho.

          Voltando, isso pode cortar a sorveteria, o shopping e a lanchonete. Só restando então o restaurante e os comércios pequenos.

          — O que eu faria em um comércio? — disse uma voz em tom de sarcasmo perto de mim.

          — ... Uh?!

          Virei-me em seguida, foi quase um giro de balé, podia-se dizer que eu seria um bailarino esplêndido se me dedicasse mais. Ao virar, reencontro meu perdido perjuro, aquele que eu citei várias vezes e omiti tudo sobre ele até este momento, quase uma criança a se cuidar — embora pareça ser da minha idade, possui apenas quatro anos.

Hábitos Decadentes - Exílio AberranteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora