Dia sem aula

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Terça Feira, 1° de Maio de 2018

– Ué, vocês não viriam de roupa?

Falei isso logo após em que sair do ônibus escolar em meio aos outros alunos. Estava uma tarde muito quente. Estavam lá, os três sentados num banco da beira da estrada.

– A gente veio de roupa.- Ana respondeu irônica.

– Tô dizendo roupa normal.- falei surpreso. Porque eles disseram que não iriam de farda, mas sim de roupa normal.

– Eu vim foi de farda. Pelo sim pelo não, eu entro na escola.- Rafaela disse.

– Ah mas eles mandaram a gente vim de roupa...- respondi revirando os olhos com aquela situação.

–  Só por que eles mandaram?- Rafaela retrucou.

Eu já me localizava sentado. O sol mais quente do que nunca.

– Se eu morasse aqui eu não viria agora.- Rafaela disse mudando de assunto.

– Muito menos eu.- falei concordando com ela.

– Até chegar 15:30 da tarde...- Gustavo falou desanimado.

– E ainda teve gente que trouxe bolsa, caderno, livros, meu Deus!- Rafaela disse revoltada.

– Credo! Tem gente besta! Sabe que hoje não tem aula.- falei revoltado com aquela situação dos calouros.

Ficamos conversando coisas paralelas por um bom tempo.

– Vamos?- Gustavo convidou.

– Ah não.- falei sem coragem de me levantar– O ar não deve nem tá ligado.

– A gente liga pelo botãozinho lá em cima.- ele diz.

Que cara chato! Eu nem queria ir pra escola naquele momento. Mas até que era melhor. Aquele calor dos infernos, estava me matando. Então fomos.

Não havia quase ninguém.

– Não tem quase ninguém!- falei.

– Ah se eu morasse aqui!!- Rafaela exclamou novamente.

Entramos na sala só havia 4 alunos. E eu fui logo reclamando. Vi que eu tinha que ir no banheiro. Gustavo já havia ido e eu nem tinha reparado.


– Gustavo tá na banheiro, Edson.- Rafaela me alerta.

– Hã...- me faço de desentendido.

– Entra lá.- ela diz.

Ela falou isso quando estava entrando dentro do banheiro ( o banheiro masculino e feminino fica um após o outro). Comecei a passar água no rosto. E eu claro, não podia fazer o que se tava passando pela minha cabeça.

Fui em direção à pia do banheiro das meninas. Como não tinha ninguém na escola, nem me incomodei. Aí eu resmunguei algo do tipo "Gustavo tá bem cagando dentro do banheiro". Demos uma gargalhada. E nem sinal dele.

Algumas horas depois, estávamos ajeitando os últimos retoques da nossa tenda que ficava fora da escola ( no pátio ) . Eu nem ajudava. Ficava mais era no celular.

Depois voltamos pra nossa sala. Já tinham alguns alunos já circulando pelos corredores da escola e outros nas sala.

Ajudei a encher alguns balões. ( Eu tava sentado junto com Gustavo e Ana na mesa. Ele no meio. Depois de enchermos os balões, ele passou a mão pelas minhas coxas).

Voltamos pra fora. Depois pra sala.

– Edson, sonhei que tu apareceu vestido de mulher e que os olhos dos teus pais estavam cegos...- Gustavo fala uma coisa sem nexo algum.

– O quê menino?- falo sem entender merda nenhuma.

Estávamos a fazer nuvens de TNT, e, cobrindo por cima, cola isopor e algodão. Para ficar num formato de nuvens. Rafaela, Ana, Diego, eu e Gustavo fazendo esse trabalho todo.

– “Ah eles não podem me ver, por isso me vesti assim".- Gustavo repetiu a frase que eu dizia no sonho dele.

– Meu Deus! Nunca que vou me vestir de mulher!- falei.

– Todo mundo dizendo pros teus pais, e tu negando dizendo que era só mentira... "É mentira"- ele falava.

Todos nós gargalhamos.

Falei que eu havia sonhado um sonho também e que tinha sido na casa de Rafaela. Ela logo se mostrou curiosa querendo saber.

– Eu não vou contar...- disse.

– Ah vai sim. Se envolve minha casa...- ela falou.

E eu não falei.


Gustavo me falou, que um dia que faltei aula, um dos meninos perguntou a ele se eu era gay.

– E tu falou o quê?- comecei a ficar tenso.

– Rapaz eu não sei, acho que é...- ele disse

– Assim que é amigo?...- falei já me irritando.

– Não, não, eu falei que não sabia...- ele tentou se defender.

– Ata bom... Sei.- fiquei desconfiado.

– Eles devem perceber por causa dos teus produtos de beleza...- Gustavo continuou.

– Ah tô nem ai pra eles.- disse.

E esse menino que perguntou isso pra Gustavo, estava alguns passos atrás de nós. Ele veio pra perto de nós. E eu falei "vou já lavar minhas mãos e usar meu creminho". Falei com deboche. Aí ele saiu logo em seguida

– Tu é doido falar isso perto dele!?- disse, Gustavo.

– Tô nem ai pra ele...

Ficamos alguns minutos ainda fazendo as nuvens.


Pronto. Nossa tenda já estava pronta. Duas mesas encostadas na parede com panos de TNT azuis por cima. Por cima, duas Maquetes. Na parede, um TNT azul cor de Céu com nuvens de TNT dependurados, assim representando um céu. Ao lado, um mural de fotos: com representatividade à cidade. Muitos alunos da nossa sala terminando os últimos reparos.

À direita muitos de outras tendas mal feitas. A única bonitinha era nossa.

Muitos dos meus colegas se orgulharam do trabalho bem feito. Melhor trabalho. O único perfeito. O melhor de todos.

Começamos a tirar fotos para que nosso trabalho fosse registrado.

Com muitos minutos depois, começou a formar chuva. Teve um dos meus colegas que falou assim "o nosso único trabalho bem feito e já quer chover pra estragar tudo".

A gente não tava mesmo com sorte. Quando não demorou muito começou a chover. Começamos a tirar nossos trabalhos pregados na parede para que não molhassem.

A chuva forte.

Como nossa tenda era maior, ficamos lá mesmo, enquanto o outro alunos tiverem que correr para dentro da escola.

Mesmo com a chuva o som não fora desligado. E a música tocava.

E todos nós sendo exprimidos um contra aos outros. A chuva caia com intensidade. Depois ficou mais fraca.

A música em que tocara no momento era ruim. Rafaela tava atrás de mim. Alice ao meu lado. Amália à minha frente, meio pro lado. Gustavo mais na frente...

Os meninos atrás de mim, começaram a cantarolar a música.

– Que música ruim.- eu disse.

– Pior...- Rafaela concordou.

- Tirem isso ai...- gritei.

Os meninos ouviram. E um em especial falou "Edson, gosta da música da barbie". Rafaela riu. Alice ao meu lado também "eita, Edson”, ela falou. Eu quis ri também, mas me segurei.

E o lourinho (Hilbert) pela terceira vez consecutiva falou "Edson gosta da música da barbie". Eu não aguentei tive de ri. E os meninos fizeram um "Uhhuulll” sorrindo da situação.

Eu não me incomodei com isso. Mas me deu uma vontade de responder cantando a música de Kelly Kee. Aí eles iam ver que eu gostava mesmo da barbie girl. Hahahahahaahaha


O evento já se estendia há muito tempo.

Alunos apresentavam seus trabalhos.

Havia alunos do turno da noite, tarde e manhã. Era muita gente mesmo.

Já se aproximava das 17:13 da tarde.

Nosso trabalho ainda não havia sido apresentado. E não ia dar tempo de a gente ficar.

Uma "peça" estressante estava sendo apresentada na frente no momento.

– Isso não vai acabar não?- Rafaela disse frustada.

Todos já estavam reclamando da "peça" exaustiva. Então, Amália e Rafaela foram aonde um dos professores avisar que não podíamos mais esperar devido ao horário do ônibus já está chegando...

Quando elas voltaram avisou-nos que podíamos ir. E fomos: Eu, Rafaela, Alice, Gustavo, Luan, Ana, Amália...

Alguns deles foram num supermercado lá. Eu fui. Mas sair logo. Não havia nada de bom pra eu comprar lá.

Comprei salgadinho em outro lugar... e fiquei no celular em meio a uma multidão de alunos ao meu redor.

Era estranho uma sensação que eu tava sentindo. Me sentia assim sozinho. Perdido. Calado. Sozinho.

Minha amiga com que eu tava conversando pela rede social falou pra eu não ligar pra isso e que eles eram tudo besta.

O ônibus chegou. Para tirar aquela sensação estranha.

Cheguei em casa bem. Graças ao meu Deus.

Choveu bastante ontem há noite.


E hoje. Hoje não teve aula. Feriado. Muito bom esse feriado. Não ir pra escola é ótimo.

Querida Kitty, eu esqueci de te falar uma coisa que Gustavo falou já tem alguns dias, e que me lembrei ontem há noite.

"É mais estranho uma mulher com mulher, do que um homem com outro".

Ele não só falou isso pra mim, como pra Rafaela, Ana e Catarina que estavam na hora.

Hoje o dia foi chato aqui. Acordei às 11:20 da manhã. Fui na casa de vovó. Banhei. Almocei. Li meu livro. E agora estou escrevendo aqui.

Já são 15:47 da tarde. E vou já ficar na internet.

Então... Até mais...

Edson

O Garoto do Diário [ REVISADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora