Até quando?

109 12 6
                                    

Domingo, 08 de Abril de 2018

Querida Kitty,

Hoje o dia todo foi sol. Acordei e não fiquei fazendo nada. Só na internet. Minha mãe havia ido pra igreja.

Até que durante o dia eu estava contente, até feliz.
Há dias que não me sentia assim.

À tarde fiquei assistindo a final do The Voice Kids. Foi demais. A Eduarda Brasil foi a grande vencedora, time da Simone e Simária (amo essas coleguinhas; já já você irá entender o porquê gosto delas).

Depois fui pra internet. Fiquei lá por uma meia hora e voltei.

Fui sentar na casa dos vizinhos pra fofocar. Hahaha. Brincadeirinha. Mas é isso mesmo.

Só sei que esse pessoal gostam de me ver sorrindo.

Por volta das 7 horas da noite, fui na rua. Aproveitei e fiquei na internet- wifi.

Fiquei conversando com minha amiga, que amo muito. Gosto tanto dela, e sei que ela está lendo isto aqui. Ela me ajuda muito e sou muito grato a ela. Gosto muito de você, Paloma.

Acredite, ficamos conversando por via voz no whatsaap por mais de 1 hora de relógio.

Quando vi que já estava ficando tarde, resolvi voltar pra casa.

E foi nessa volta que me aconteceu algo.

Teve duas pessoas que me chamaram pra conversar. Eles perguntaram o porquê de eu não ter ido mais na rua e de não ter andado mais com ele, como se isso fosse alguma obrigação minha. Em um dado momento de nossa conversa, um deles falou uma coisa que fiquei meio encabulado, fiquei tentando decifrar o que ele estava querendo dizer.

- Não te finge de santa- ele disse.

- Ué, não fiz nada.- tentei me defender.

- Só estou te falando pra tu ficar esperto...- Chico falou com um olhar misterioso.

Eu não entendi o pseudônimo dele. Falei pra ele explicar o que era. Ele estava querendo dizer que não era pra eu "roubar" o macho dele. Foi isso que entendi.

Eu disse a ele que não sabia nem do que ele estava falando.

O outro amigo dele que estava junto dele, falou que eu me faço de desentendido. Que no fim eu sou um alguém não confiável.

Eu falei pra ele que não estava querendo nada com ninguém e que era ele que ficava inventando coisas.

- Tu quer um tapa?- Tavinho falou.

Nunca imaginei ele falar isso para mim. Mas infelizmente, o ser humano é nojento.

- Vocês que ficam inventando coisas, como se eu fizesse algo!!- falei bastante revoltado.

Estávamos na porta da casa de Tavinho. A casa dele é um bar. Do lado que estávamos era a parte da casa, enquanto o bar ficava do outro lado.

Estava em pé. Chico também. Enquanto Otávio estava sentado.
Otávio queria mesmo me dá um tapa. Ele olhou pra mim com cara de raiva, e eu com outra. Confrontei mesmo.

Eu senti como se aquele tapa tivesse vindo. Como se eu tivesse sentido a dor do tapa. Naquele momento tive uma coragem imensa para enfrentá-lo. Admito que não fiquei com medo.

Ele tem 25 anos, bem mais velho do que eu. Então, talvez eu apanharia certo.
Eu não entendo por que ia apanhar de algo que nem mesmo eu estava entendendo.

Então disse que ia mesmo me bater, e perguntou-me novamente. Só olhei pra cara dele com a fúria de um cão sarnento. Estava injuriado com aquela situação. Então fui embora dizendo para ele que não queria nada. E quase chorei. Mas segurei as lágrimas.

“Não, não, chora. Para de ser besta, não chora” dizia a mim.

Voltei pra casa virado no cão. Indignado com aquela situação. Aquele filho da puta desgraçado. Filho de uma rapariga. Eu só queria chorar. Então tomei banho. Me vesti. E fui para um lugar onde eu podia chorar.

O choro veio aos poucos. E me desabei.

“Meu Deus, não aguento mais. Estou cansado disso, as pessoas simplesmente me odeiam. Por quê?”
“Não fiz nada pra elas. Por quê essas pessoas não me deixam em paz?”

Comecei a falar tudo isso ao choro. Comecei a ficar mais desesperado e lembrar de tudo que passei. Estava ao soluços. Era muitas lágrimas.

“Eu só queria ser um alguém normal. Ter amigos. Falar com as pessoas. Por quê não posso? Amanhã começará tudo de novo. Eu queria apenas sumir daqui agora e ninguém nunca me encontrar.”

“Como pode um menino tão bom, sofrer assim? Eu não entendo!”

Kitty, sinceramente não sei mais o que fazer. Estou preso num túnel que não tem fim. Me sinto preso ao um lugar que não posso sair, um lugar onde não posso nem pedir socorro, um lugar onde ninguém consegue escutar meu grito.

Comecei a abraçar a mim mesmo. Sentado naquela cadeira, só eu e meu choro. A vontade que tinha era de alguém me abraçar bem forte e me dizer que tudo ia ficar bem. Mas isso não era possível naquele momento.

Quando estou feliz, sempre vem algo que destrói tudo, e me deixa triste.

Me despeço hoje por aqui.

Edson

O Garoto do Diário [ REVISADO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora