Outra bifurcação. Dessa vez, direita. Enquanto virava, Sophia pensou em uma de suas histórias favoritas quando criança, Teseu no labirinto do Minotauro, e ocorreu-lhe que sua situação não era muito diferente da do herói grego: ambos perdidos em um lugar escuro, com medo e longe de casa, com uma besta à espreita esperando o momento de devorá-los. Exceto que Sophia não possuía um carretel de fio de ouro para ajudá-la a encontrar o caminho de volta. Mas ela também não sabia se sairia viva dali, então para o inferno com a porra do fio.

Aquela parte do corredor acabava não em duas, mas em três vias diferentes, cada uma delas seguindo até onde a visão de Sophia alcançava. Assim como a Casa Maluca, aquele labirinto também parecia maior do que era de fato. Sophia devia estar vagando entre os espelhos, tendo como companhia apenas seus inúmeros reflexos e os ecos de seus passos, por quase uma hora. Embora ela não tivesse certeza. Era fácil perder a noção do tempo ali, tão fácil quanto se perder.

Quanto perder a sanidade.

Sophia parou diante do ponto em que o corredor se dividia em três, baixou a arma e fechou os olhos. Achou escutar passos, botas pesadas fazendo bam-bam-bam!

- Pietra não está comigo! – ela disse, ainda de olhos fechados. O som de botas correndo diminuiu até parar. – Mas acho que você já sabe.

Silêncio. Não, não silêncio: Sophia escutava o silvo da respiração dele. Deus, ele devia estar muito perto agora. Ainda assim, a garota não abriu os olhos.

- Deixe Joanna ir, e você e eu podemos terminar com isso.

- Onde está Pietra? – quando ele falou, a voz dele veio de todos os lados. De cima, de baixo, da esquerda, da direita, como se ele ocupasse todo aquele labirinto.

Como se ele vivesse não entre, mas dentro dos espelhos.

Sophia não abriu os olhos.

- Ela está segura – respondeu. Sentia a pistola melada em sua palma coberta de suor. Fechou os dedos com mais força na arma. Não queria nem pensar no que faria se ela escorregasse. – Sou só eu.

Bam-bam-bam! O som das botas no chão veio da esquerda... Ou da direita? Merda, ele estava em todos os lugares. Escutá-lo era como tentar usar apenas os ouvidos para isolar uma nota específica em uma música de dez minutos de duração.

- Que seja. Pego você, e depois pego Pietra.

- Eu sei quem você é – Sophia repetiu.

- Você não sabe nada sobre mim.

- Eu conheci seu pai – disse Sophia, e escutou o exato momento em que os passos dele pararam de súbito, como um disco colocado no pause. – Você não morreu, não é? Ele disse para todo mundo que o filho dele havia morrido naquela casa de fazenda, mas era mentira. Você sobreviveu.

Sophia não achou que fosse ter uma resposta, mas ele respondeu. Sem o som das botas para confundi-la, ela conseguiu identificar com exatidão a direção pela qual ele se aproximava: direita.

- Foi – ele disse. – Eu sobrevivi. Sobrevivi a ele. Sobrevivi à infância naquela fazenda e aos cuidados do meu querido papai.

E, meu Deus, que coisa terrível deve ter sido crescer naquela casa de fazenda nos arredores de Massachusetts, sozinho e isolado do mundo, tendo como companhia apenas as vozes dentro de sua cabeça. Que coisa terrível ser filho de Slendy.

A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now