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Lou Campbell pegou a pasta em cima de sua mesa e girou-a nas mãos. Vinha adiando aquilo durante os últimos três dias, mas agora não podia mais fugir. Olhou para o símbolo na frente da pasta – um punho dourado segurando uma espada – e, com um suspiro que balançou seus ombros largos, leu as palavras abaixo do desenho:

Projeto Carrie

Espécime 0067

Espécime. Como ele odiava aquela palavra. Era tudo, menos humana. Fazia-o pensar em alienígenas e monstros deformados flutuando em líquidos verdes dentro de tubos de ensaio no laboratório de um algum cientista maluco.

Era isso o que eles eram? Loucos com um laboratório?

Lou Campbell abriu a pasta. Havia apenas duas coisas dentro dela: um documento datilografado em uma máquina de escrever e a foto de um rapaz. O jovem tinha olhos azuis e cabelos cacheados que desciam como pequenos tobogãs até seus ombros. Chamava-se Alan Deblois. Campbell encarou-o por um longo tempo. Acima de sua cabeça, um ar-condicionado zumbia e gelava a sala de paredes brancas e piso escuro. O lugar não possuía adorno algum, sem um enfeite ou quadro sequer, tão desprovido de personalidade quanto uma mente com amnésia. Os únicos móveis ali eram uma mesa e duas cadeiras.

Depois de ler três vezes o documento, Lou Campbell fechou a pasta e colocou-a de lado. Alan Deblois tinha 22 anos. O Punho o encontrara no Canadá. Até onde Campbell sabia, esse rapaz era o primeiro espécime que eles achavam por aquelas bandas geladas.

Tirou do gancho o telefone negro que ficava em sua mesa e discou.

- Central de Atendimento, como posso ajudar? – perguntou uma mulher.

- Oi, Kristy. Aqui é o Lou. Você pode pedir para o Ford dar um pulinho na minha sala, por favor?

- É pra já, Lou.

- Você é um anjo, Kristy.

Desligou e recostou-se na cadeira, cruzando as mãos na barriga e fechando os olhos. Sentia-se exausto. Esperava do fundo do coração que Alan Deblois não lhes desse muito problema. O pessoal de Washington estava no pé deles por causa daquela garota, ameaçando fechar o Punho e acabar com tudo, e a última coisa que Lou Campbell queria era se transformar em um Aiden Harvey.

Ford bateu à porta dele cinco minutos depois e enfiou a cabeça na sala.

- Chamou, Lou?

- Chamei, Pete. Entre e sente-se, vamos.

Peter Ford obedeceu, ocupando a cadeira à frente de Campbell. Os olhos verdes dele caíram na pasta e Ford soltou um suspiro.

- Ah, então é sobre isso.

- É sobre isso. Você é o responsável por esse garoto Deblois, não é?

- Espécime.

As sobrancelhas de Campbell se ergueram e ele esqueceu-se do que ia falar em seguida.

- Como é?

- Espécime, Lou – disse Ford. – Espécime 67, para ser mais específico. Sabe que não os chamamos pelos nomes. Fica fácil de se apegar.

Certo. Fácil de se apegar. Da mesma forma que você não dá nomes aos porcos ou bois que vão para o abate. Não quer sentir falta deles depois que são triturados.

A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now