15 (II)

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O restante daquela semana foi uma vigília interminável. Josh sugeriu a Sophia que ela ficasse longe da oficina e de Oldwheel até que tivessem certeza de que Slendy não estava mais na cidade. Sophia concordou, embora duvidasse que Slendy fosse desistir assim tão fácil. Ela acordava de manhã, tomava café com os Walker e depois sentava-se na cadeira de balanço na varanda da frente, fumando e com a pistola .380 enfiada entre as pernas. Escondia a arma sempre que Eva vinha conversar com ela, coisa que a criança fazia com frequência. Eva arrumava um cantinho perto de Sophia, espalhava no chão seus brinquedos e passava a tarde ali, falando e falando. Sophia a amou ainda mais por isso.

Na sexta-feira de manhã, Lizzy juntou-se a ela. Arrastou uma das cadeiras da cozinha e sentou-se na varanda ao seu lado. Quando Sophia olhou-a, viu que, ao em vez do costumeiro violão, Lizzy tinha no colo uma espingarda.

- Você sabe como usar essa coisa? – perguntou Sophia.

- Claro que sei – Lizzy deu um tapinha na arma. – Papai me levava para caçar quando eu era menor, e ainda me lembro de como atirar. Cacei um coelho uma vez, acertei ele em cheio na cabeça – ela deu um risinho amargo – e passei o resto do mês chorando por causa disso. Mamãe não teria aprovado o passatempo, mas, claro, ela não estava aqui para fazer oposição – suspirou fundo. – Estamos esperando pelo homem que está atrás de você?

Sophia desviou os olhos dela para os pinheiros que cercavam a casa. Tudo era silêncio. Ela escutava as folhas dançando ao som do vento e o barulho da televisão ligada na sala, onde Eva assistia a um filme do Indiana Jones. A garotinha tinha uma queda pelo Harrison Ford desde que fizera com Sophia uma maratona de Star Wars, e Sophia não podia culpá-la.

- Não sei bem – respondeu Sophia. Uma das estacas da cerca de arame que envolvia a propriedade se soltara e batia na terra com tocs! secos. Parecia uma bengala acertando o chão. – Talvez ele já tenha mesmo ido embora, Lizzy. Talvez eu esteja sendo apenas paranoica.

- Mas você não acredita nisso.

Sophia crispou a boca. A pistola .380 era um cutucão frio e metálico entre suas coxas.

- Não. Não acredito. Slendy não vai desistir até colocar as mãos em mim. Ele não é exatamente o tipo de cara que leva as coisas na esportiva.

- Já te disseram que você tem um gosto estragado para homens?

- Já – sorriu Sophia. – Por isso prefiro mulheres.

Elas se entreolharam e começaram a rir. Sem perceber, entrelaçaram os dedos, olhando juntas para a estradinha que descia até desaparecer entre os pinheiros silenciosos.

- Eva quer pescar amanhã – disse Sophia depois de um tempo. – Tem a teoria de que isso vai me deixar menos triste. Quer ir?

- Quero – disse Lizzy, puxando a mão de Sophia e dando um beijo nos dedos dela. – Quero sim.

***

Josh preparou para elas sanduíches com pasta de amendoim e geleia. Colocou-os em uma cesta coberta por um pano quadriculado, vermelho e branco, que entregou nas mãos de Eva. A garotinha, saltitante de tanta empolgação, segurou a cesta pela alça e girou-a uma vez bem alto enquanto dançava pela sala, fugindo da mãe que queria lhe calçar botas de trilha. Josh deu uma risada sonora ao ver a filha e a neta correndo pela casa e juntou-se a Sophia na cozinha, onde ela arrumava as linhas das varas de pesca.

- Pegou as iscas? – perguntou.

Sophia ergueu para ele um potinho cheio de terra escura e de minhocas gordas que se contorciam.

A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now