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Bernard Chapman: Salvamos 19 pessoas naquela noite. Entre elas, 8 crianças. Capturamos Abukcheech e 37 de seus seguidores. O restante – aqueles que não estavam mortos, porque acabamos com a raça de muitos deles – fugiu. Procuramos por eles durante dias, sem encontrar nem sinal. Era como se tivessem sido engolidos pela floresta. Algumas semanas depois, o xerife Lovelace me ligou para contar que tinha encontrado os Monstros de Fallpound desaparecidos. Segundo ele, um fazendeiro que morava próximo à cidadezinha entrara em contato, assustado, dizendo que, abre aspas, uma nuvem de urubus voava acima de seu celeiro, sujando o céu como se fosse um tumor, fecha aspas. O que acha dessa comparação, heim? Bom, de qualquer forma, Lovelace foi investigar e, quando entrou no celeiro, lá estavam eles. Todos mortos. Tomaram veneno ou qualquer coisa assim. Não havia sangue. O que, se você me perguntar, é uma boa coisa. Aqueles filhos da puta já haviam derramado sangue suficiente para umas cem vidas inteiras.

J.P: Por que acha que eles se mataram? Arrependimento?

B.C: Não. Nada disso. Acho que se mataram porque capturamos Abukcheech e eles não tinham mais a quem seguir. Sem líder, ficaram sozinhos. Sem um propósito. Perdidos na escuridão que antes lhes mostrava o caminho. Eles eram insanos, Sr. Pullman, e só Deus sabe o que começaram a ver ou ouvir depois que colocamos Abukcheech atrás das grades. Sabe como funciona aquela coisa toda nas colmeias com as abelhas? Se a rainha morre, as outras morrem também. Acredito que foi mais ou menos isso o que aconteceu. Uma reação em cadeia. Derrube o primeiro dominó e os outros caem. Destrua a base e o edifício inteiro vai ao chão. Mate o líder de uma seita satânica e o restante se entrega de bom grado ao Diabo.

J.P: Entendo. (Pequeno silêncio). A agente Sophia Manning deixou o FBI após os acontecimentos em Fallpound. Correto?

B.C: (Suspiro). Correto.

J.P: Desculpe perguntar, mas o senhor não acha isso estranho? Quero dizer, ela capturou Abukcheech. Uma coisa assim faria com que ela ascendesse rápido dentro do FBI. É o tipo de resultado que faz a carreira de uma pessoa. Sem contar a fama. Aposto que Sophia teria o rosto estampado em cada jornal e noticiário da América. Seria chamada de heroína.

B.C: (Risos). Ah, Sr. Pullman, Sophia nunca teve o menor interesse por fama, nunca desejou ser conhecida como uma heroína. A única coisa que ela sempre quis é aquilo que todos nós queremos.

J.P: Que é?

B.C: Um cantinho de paz (silêncio). Onde quer que Sophia esteja, espero que ela tenha achado o que procurava. Ela merece isso, entende? Deus sabe que ela merece isso mais do que todos nós.

A Voz da Escuridão.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora