Jantarinho ou Jantarzinho?

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No passado dia 10 de Novembro foi organizado um jantar com pessoas importantes que vieram de fora para o Web Summit. O jantar decorreu no Panteão Nacional, em Lisboa, no entanto foi decretado como "treta" por membros do governo Português.

Assim como o leitor, perguntei-me como é que um jantar no panteão pode ter sido desprezado por alguns dos membros do governo português, nomeadamente António Filipe (PCP) e a secretária de Estado da indústria. A notícia estava intitulada como "Secretária de Estado da Indústria desvaloriza 'jantarinho' no Panteão". Em primeiro lugar custa-me a acreditar como é que a senhora arriscou escolher uma palavra que suscite tanto desprezo e, ao mesmo tempo, tanta dúvida do ponto de vista lexical.

Se parar para pensar, percebe que o grau diminutivo de "jantar" pode ser escrito de uma das duas maneiras - jantarinho ou jantarzinho. Mas claro, a senhora Ana Lehmann não pensou na oposição que podia vir a surgir ao usar a palavra jantarinho em vez de jantarzinho. Enfim, são coisas que só não repara quem não quer.

Agora falando de coisas menos sérias, porém sérias o suficiente para serem ditas; o jantar com o nome "Founders Summit" contou com várias personalidades que se reuniram para o encerramento do maior evento de tecnologia e empreendedorismo. Contudo, a notícia diz-nos que "Houve um jantarinho organizado por terceiros".

Ao que sei, uns dizem que a polémica surge por tal espaço ter sido concedido para uma ocasião que não está à altura, outros dizem que é "lamentável" pois, quem organizou o jantar não teve a sensatez de sequer pedir autorização ao governo. Mais lamentável ainda é o facto deste jantar não ter contado, nem com a organização, nem com a presença de figuras distintas portuguesas.

Contudo, repare que, de figuras distintas portuguesas o jantar não teve falta. Desde Luís de Camões, Almeida Garrett, Sophia de Mello Breyner, Eusébio e muitos outros participaram, no entanto, em salas à parte. E porquê à parte? Pode perguntar-se o leitor.

Na verdade, sinto que que nem tenho de me justificar perante tão óbvio conflito de gerações. Isto é, já pensou no pinipaque que Camões teria se visse tantas mulheres reunidas de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, ou se ouvisse falar em tantos milhões de euros envolvidos numa só conversa? Ainda melhor, já pensou na tragédia que se instalaria se Almeida Garrett, de tão bom orador que foi, se se pusesse a contar e a interpretar histórias dramáticas no maior evento de tecnologia do mundo? Seria, no mínimo, tão ou menos dramático do que o Panteão ter sido concedido para um jantar organizado por terceiros.

Depois de tudo isto, vejo-me quase, mas mesmo quase obrigado a concordar com a infeliz opinião que se debruça sobre este jantarinho. Todavia, não que o evento não estivesse ao nível do Panteão, só não achei seguro o choque que podiam ter causado às ilustres figuras portuguesas que parcialmente compareceram no jantar de encerramento.

Com um especial agradecimento a Lili, que me ajudou a selecionar o tema.

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