Doentes nós somos

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Partindo da definição de doença que consta no website "Significados.com.br", vou-me assumir como tal e explicar-vos porquê. Vou tentar transmitir-vos a mensagem porque é que somos todos uns doentes ou, pelo menos, estamos mais vezes doentes do que achamos.

Ora preste muita atenção à definição que se encontra no site acima referido:

'Doença é um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. O vocábulo é de origem latina, em que "dolentia" significa "dor, padecimento".

Em geral, a doença é caracterizada como ausência de saúde, um estado que ao atingir um indivíduo provoca distúrbios das funções físicas e mentais. Pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou endógenos (internos, do próprio organismo). (...)'

Até aqui, parece-nos verossímil e, até este estágio, nenhum de vocês se acha um doente. Mas nunca exprienciou alterações, ou melhor, distúrbios quer no comportamento psicológico, quer no físico quando se encontra diante da pessoa que ama?

Bem, já Platão dizia que o amor era uma perigosa doença mental. Porém, como todo o bom pseudo-cientista (com certificado em cultura geral) sabe que os distúrbios causados a nível mental, refletem também consequências a nível físico de um indivíduo. Vai dizer-me que não?

Então nunca lhe aconteceu estar a passar e deparar-se com a tal pessoa que o interpela e o meu querido leitor não sabe como reagir, quase como se fosse um camião na sua direção? (sem ofensa) Tem que olhar para o chão, senão tem um ataque cardíaco. Ou tem de beber cinco litros de água antecipadamente para não desidratar enquanto conversa com essa pessoa. Por outras palavras - o seu cérebro dispara, sem pensar duas vezes, uma série de hormonas associadas ao amor. Todavia, essas hormonas fazem-no agir como um doente. A nível químico, o organismo reage como se estivesse na presença de um agente patológico, perigoso, ou sob o efeito de drogas.

Mais à frente, já no fim da definição de doença, lê-se: 'Dependendo do contexto, alguns conceitos, tais como anormalidade, desordem, patologia, perturbação etc., são utilizados como sinônimos de doença.

No sentido figurado, doença é um vício ou uma mania, considerados como desequilíbrio. Por exemplo: O impulso de comprar sapatos já virou doença.'

Quero deixar bem claro que, pior que o impulso de comprar sapatos, é mesmo o impulso involuntário de gostar de alguém. Comprar sapatos, implica que tenhamos dinheiro, que tenhamos espaço no nosso quarto para os guardar pelo que, face ao ato de comprar, surge uma série de limitações.

Mas amar. Ao amar, a nossa carteira não se torna vítima, nem precisamos de nos preocupar com o espaço do nosso quarto, pois o nosso coração é bem mais amplo que o nosso quarto. Serve para guardar um mundo inteiro. Deste modo, estamos muito mais susceptíveis a este trágico acidente. Talvez também porque nenhum de nós tenha dinheiro para comprar sapatos.

Por fim, se reparar no último parágrafo "vício ou uma mania" é um sintoma, sem margem de dúvida, inerente ao amor (pelo menos na fase inicial). Temos o vício de ir ver fotografias daquela pessoa, temos a mania de escrever coisas sem sentido sobre essa mesma pessoa. Temos o vício de não comer porque essa pessoa não está por perto ou temos a mania de estar sempre a falar com ela, mesmo que não tenhamos resposta.

Em conclusão eu sou, por natureza um doente. E o leitor, agora já se considera um?

Mistifórios do Hoje: Uma Sova de 2017Where stories live. Discover now