Capítulo 32 - Às vezes nem pizza melhora o dia

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Na segunda série fui obrigada a fazer um trabalho em homenagem ao dia das mães. Veja bem, naquela época já deveria ter uns dois anos que eu não tinha notícias da minha. O que eu me lembro, era de vovô dizendo que ela estava em um lugar calmo e bonito para poder melhorar. Na minha cabeça de oito anos, ela estava na Disney. Eventualmente descobri que ela estava na reabilitação, tratando-se contra as drogas e o álcool. Depois nunca mais tive notícias suas.

Aquele trabalho idiota estava me dando dor de cabeça à beça, ninguém na escola sabia sobre o meu passado e eu fazia questão que assim fosse até a minha formatura. Eu era meio que uma vampira: misteriosa, pálida e calada. Enfim, eu precisava elaborar uma apresentação que demonstrasse o significado da maternidade e eu não tinha ideia do que fazer. Art tinha um dicionário em casa e de acordo com ele, mãe era "1. Mulher que deu à luz 2. Mulher que cria e educa criança ou adolescente que não foi gerado por ela, mas com quem estabelece laços maternais e a quem pode estar ligada por vínculos jurídicos", além de ser originado do latim mater e ser um substantivo feminino.

Tendo em vista o que eu descobri, fiz um cartaz com o significado da palavra mãe e o dediquei para o meu avô e fiz-lhe um poeminha. No fim, todos descobriram sobre a minha mãe.

Vê? Desde muito nova Clarisse Parkins Campbell só me trouxe problemas, além disso, ela só tinha me dado à luz. Nada de laços afetivos ou jurídicos, já que a minha guarda estava em nome do meu pai.

- Você é tão mais linda pessoalmente, filha. - ela tentou tocar em meu rosto, mas eu me afastei bruscamente.

- Não me chame assim. Você não é a minha mãe. - cuspi as palavras. Em outra ocasião, se eu fosse uma observadora da cena, eu até sentiria pena pelo o modo que falei.

- Brise, quanto a isso, nós temos que nos resolver, fi... - ela se calou. - Precisamos conversar, será que não poderia ser em um lugar mais particular? - seu olhar foi para trás de mim, onde Apolo estava com as mãos em meus ombros, uma de cada lado.

Meu sangue começou a ferver e eu sentia que a qualquer momento meu coração pularia fora do meu corpo. Meus lábios começaram a sangrar depois de toda a pressão que pus ao mordê-los, meu corpo tremia e estava consumido por raiva.

- Não! - gritei e algumas pessoas dentro da pizzaria olharam através das janelas de vidro. - Nós não podemos, sabe por quê? Porque essa conversa nunca irá acontecer!

E aí eu corri para o carro e me tranquei lá dentro.

Ok, isso não tinha sido nada infantil, mas eu não queria ficar mais nem um segundo em sua presença.

Apolo disse alguma coisa para ela, que assentiu e voltou sabe-se lá para onde, do buraco do inferno, suponho; depois ele me tirou do banco do motorista e nos levou até em casa.

Minha cabeça era um campo minado que a todo segundo uma bomba diferente estourava, chegamos em casa e eu nem tinha dado conta. Só voltei em mim quando Apolo falou comigo.

- Você precisa conversar com o seu pai. - olhei em seus olhos e assenti devagar. - Vou levá-la até o escritório dele, depois é com você, mas quando acabar, vá até o meu quarto, está bem?

O jeito que ele falava comigo me deu vontade de chorar, seu rosto era pura preocupação e era perceptível o quanto ele estava querendo ir junto, entretanto sabia que era algo que eu tinha que resolver sozinha. Pulei em seu pescoço e respirei fundo antes de soltá-lo. Quando já estávamos perto do cômodo, ouvimos o que parecia uma briga entre Sol e meu pai. Franzi o cenho. Desde quando cheguei, eu nunca ouvi sequer uma discussão, eles eram um casal diplomático.

Entrar ou não entrar? Eis a questão. Shakespeare deveria estar se remexendo no túmulo perante a minha paráfrase.

Bati na porta e entrei quase que de supetão.

Por trás do gelo [Em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora