Capítulo 21 - Jogue como uma garota

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Na semana passada, enquanto eu corria pela praia de manhã cedo com a maresia batendo na minha cara, eu podia sentir alguém me observando.

Depois de passar por consultórios psiquiátricos durante anos, você aprende que coisas assim podem ser só alucinações criadas pela sua cabeça conturbada. Então eu apenas ignorei a sensação e continuei meu trajeto até levar o maior susto da história.

Eu quase matei Valentim com os cadarços do meu tênis. Quase.

Devo dizer que sou estupidamente fácil de se assustar, só que segundo o meu antigo psiquiatra, isso era bastante comum e normal em vítimas de abusos sexuais. É algo sobre o seu subconsciente estar ligado e desconfiado vinte e quatro horas por dia e tal.

Assim, quando aquela sacola de pano velho foi colocada na minha cabeça, eu quase enfartei.

Meu coração pulou ao ritmo de System of Down fazendo participação especial em um show de Avenged Sevenfold. Eu juro que, se depois daquilo, tentassem me assustar, meu velho coração não aguentaria o impacto.

A primeira reação espontânea do meu corpo foi entrar em estado estático, mas graças aos poderes de Ares, não durou muito tempo e eu despejei todo o conteúdo do meu conhecimento de palavreado pesado para Kevin.

Eu esperava que surtisse algum efeito e alguma alma bondosa destinada ao Elísio tivesse a capacidade de me libertar daqueles trogloditas. Sinceramente, estava sendo muito fácil eles conseguirem me levar.

Digo, tudo bem que a West Coast é uma escola grande como Nárnia, mas tinha que haver pelo menos uma pessoa vagando sem rumo nos corredores que pudesse me ajudar. Tipo, não é todo dia que um grupo de meninos sai carregando uma garota com os pulsos amarrados e a cabeça tapada.

— Olha, Brise, se você não calar a merda da sua boca nós vamos ter que te amordaçar – reconheci a voz de Kevin bem próxima a mim, ele devia estar ao lado do cara que me carregava como um saco de batatas. Gritei e xinguei pelo menos trinta e duas gerações daquele idiota.

Nem mesmo quando pararam abruptamente e colocaram sabe-se lá o que sobre o pano com cheiro de mofo para amarrar a minha boca, eu me arrependi.

— Veja se tem alguém vindo, Stefan – o garoto que me carregava nas costas falou com outra pessoa. Cravei minhas unhas em suas costas e o ouvi gemer de dor, abençoada seja Sally e o seu talento manicure. — Filha da puta!

— O que foi? – apesar da minha capacidade investigativa ser um lixo, eu tinha certeza que estavam em três quando ouvi a suposta voz de Stefan.

O cara que eu havia perfurado a carne com as unhas parou repentinamente e me transferiu para outra pessoa.

— Sabe, Brise, você não vai jogar hoje, por que não poupa as suas energias e se comporta como uma boa garota? – Kevin falou, revelando ser meu novo carregador.

Porque eu não fui uma boa garota nem no útero da minha mãe, e não vai ser para um bando de estupidos que eu vou ser. Pensei, amordaçada.

— Aaron mandou irmos logo, não tem ninguém no estacionamento – o cara que eu machuquei disse.

Ah, merda.

Eles não podiam me trancar no armário do zelador ao invés de me levarem para longe da escola? Longe de ajuda?

Respire fundo, Brise. Você é uma mulher autossuficiente e vai conseguir se livrar dessa, você só precisa se acalmar.

Por trás do gelo [Em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora