Capítulo 25 - Caixa de mentiras

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Para saber que o seu dia vai ser uma merda, não precisa de muito.

Acordar com uma espinha com vida própria, derrubar leite na roupa e precisar trocar depois, bater o dedo mindinho na quina do sofá e coisas do tipo, são claros sinais de que as próximas horas vão ser desastrosos.

Já consciente disso, sai um pouco mais cedo para a escola e fui obrigada a escutar Sally reclamar enquanto passava rímel em seus enormes cílios.

Se eu não a conhecesse e a visse no colégio, apostaria todas as minhas fichas que ela era algo muito próximo de Evelyn. E eu nem estaria tão equivocada assim, visto que as duas tinham a mesma tonalidade capilar e o mesmo apreço pelas roupas que usariam para ir nos mínimos locais.

Como eu já não aguentava mais ouvi-la bufar a cada solavanco, resolvi estacionar até que ela terminasse de se produzir, o que resultou em nós duas correndo feito maratonistas pelos corredores da escola porque estávamos atrasadas.

Mesmo sendo uma garota de exatas auto declarada, eu gostava de literatura, de verdade. No entanto, nesse dia em especial, eu só queria pegar os manuscritos de Maquiavel e jogá-los no fogo do inferno. Eu já estava de saco cheio de ouvir sobre O Príncipe e não dava a mínima para a conduta dele, eu só queria ir logo para a merda do refeitório comer a merda do meu lanche e concluir a merda do meu dia deitada na merda da minha cama, se possível, sem a merda da minha cabeça latejar de dor.

O relógio gigante do corredor alertava-me que estava atrasada para a aula de Mademoiselle Desirée. Eu já a irritava o suficiente trocando bilhetinhos com Juliette para chegar atrasada em sua aula, de modo que desatei a correr.

Entrei na sala e ela estava escrevendo no quadro, porém, assim que me viu, lançou-me um olhar afiado que dizia claramente que eu iria reprovar em sua matéria.

— Essa foi por muito pouco – Juliette sussurrou assim que sentei ao seu lado.

— Nem me fale – sussurrei de volta.

— Senhoritas, emitam qualquer ruído e eu as mandarei direto para a detenção, oui?

Estava na hora de comprar uma coleção premium do Frank Sinatra para essa mulher.

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Na hora do almoço, só fui para o refeitório para sentar com meus amigos e ouvi-los reclamar sobre quão difícil era organizar o baile de formatura, já que eu estava sem fome. Avistei a mesa em que costumávamos nos sentar, e, quando estava quase a alcançando, senti braços ao redor da minha cintura e no minuto seguinte eu estava sendo rodada no ar.

Quando finalmente parei de berrar e já me encontrava em terra firme, percebi que todos do refeitório estavam olhando para mim e para Peter, que não parava de gargalhar.

- Qual é a merda do seu problema, idiota? - Comecei a estapeá-lo e ele riu mais ainda. - Estão todos olhando para a gente, Peter!

Ele se apoiou nos joelhos e começou a restabelecer a sua respiração, e aos poucos percebi que os alunos voltavam para suas próprias vidas.

- Deixe eles, Bris. - Ele veio pra cima de mim com os braços estendidos, os quais eu me recusei a aceitar. - Deixa disso, tampinha, eu estava com saudades!

- O que você quer? - Perguntei, ríspida. Ora, se ele estava com saudades ele que demonstrasse me comprando pizza, não me dando sustos!

- Preciso ir na rua depois da escola, vem comigo? - Ele foi mais direto do que eu pensei, visto a minha ignorância anterior. Neguei com a cabeça. - Ah, vamos, Brise! É pertinho da sua casa e você nem precisa dar carona na hora da volta, diz que sim, vai!

Por trás do gelo [Em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora