- Você me acusa desse jeito, mas tinha planos de se inscrever na NYU junto comigo.

- O quê? – Camila se virou para mim e eu xinguei Normani de todos os nomes possíveis antes de sorrir para a minha namorada.

- Isso foi antes de você parar de me odiar, amor – Eu expliquei.

- Então você tinha planos de se separar de mim... – Ela murmurou fitando o nada como se estivesse assimilando as palavras da bocuda da Normani.

- Você não pode falar nada, Chancho, você queria ir para Tóquio só para ficar longe da Jauregui.

- Mas eu queria porque ela me irritava! – Camila justificou, mas ela não tinha razão nenhuma em nada.

- E você me odiava! – Eu a acusei.

- Te odiava porque você me irritava, cala a boca! – Mas ela sabia o motivo de eu irritar ela mesmo esse motivo não sendo muito coerente.

- Você também me irritava, digo, você também me irrita!

- Parem com isso e nos concentrar na nossa noite antes que eu soque a cara das duas! – Dinah nos ameaçou e passamos o resto do caminho até o colégio apenas tirando fotos e mexendo em tudo que havia dentro da limusine. Também teve o momento que minha namorada idiota quase foi degolada por uma árvore quando eu falei que ela não deveria abrir o teto solar e ela me ignorou, mas eu não quero mencionar isso porque o assunto me aborrece até hoje.

- Finalmente vocês chegaram! – Vero gritou depois de haver corrido até nós junto com Alexa. Seu rosto estava vermelho e nem de longe ela parecia minha amiga de sempre. O vestido preto era longo, mas a toda a parte de beijo era com renda e era possível ter o vislumbre quase total de suas pernas. Sua maquiagem era leve e eu me perguntava como ela havia corrido com salto algo sem se estatelar no chão. – Já viram o meu marido?

Marido?

Ela apontou para um ponto específico e a visão que eu tive quase me fez engasgar de surpresa. Lucy estava conversando com a professora Briggs e eu tinha a certeza de que ela a primeira líder de torcida a usar um terno. Seus cabelos estavam soltos e ela quase não usava maquiagem e apesar do terno ser muito bem cortado, seu modelo era masculino.

- Não olha muito, Jauregay! – Eu despertei com o grito de Vero.

- Ela está um pouco diferente... – Eu murmurei.

- Ela está linda, não é? – Minha amiga perguntou.

- Ela não tem que achar ninguém além de mim, linda! – Minha namorada se intrometeu sem ter sido convidada a entrar na conversa.

- Para com esse ciúme infundado, Chancho! – Dinah acertou um tapa em Camila que doeu até em mim – Adorei o seu vestido, Alexa!

- Obrigada, minha irmã que me obrigou a usar! – Alexa respondeu de maneira tímida puxando a barra vestido para baixo. Ela também estava muito diferente, digo, bonita... não que ela fosse feia ou coisa parecida, mas assim como Vero, ela vivia se escondendo num monte de pano e...

- Eu vou arrancar seus olhos – Minha namorada sussurrou para mim, beliscando a minha cintura.

- Você é a pessoa mais linda desse baile! – Até parece que ela tinha motivos para sentir ciúmes de mim, eu só tinha olhos para ela. Ela estava perfeita com o vestido negro, de seda com uma fenda que ia quase até o quadril e... talvez teria sido melhor eu ter escolhido o vestido. Aquilo com certeza iria me dar uma dor de cabeça dos infernos.

- Nem venha querer jogar charme pra mim, Jauregui – Ela resmungou agarrando a minha mão – Venha comigo porque eu quero fazer uma coisa antes de entrarmos no salão e iniciarmos nossa noite - Ela olhou para as meninas – Vamos encontrar vocês lá dentro. – Ela não me deu oportunidade de protestar e me arrastou para a outra entrada do colégio, que deveria estar sendo vigiada, mas não estava.

- Não tem ninguém aqui – Eu protestei enquanto era puxada através dos corredores desertos

- Eu sei disso! – Ela murmurou sem olhar para mim e continuou andando e eu fui tomando conhecimento do caminho que ela estava percorrendo.

Ela não iria fazer aquilo, iria?

Minha pergunta foi respondida quando ela abriu o armário de vassouras, me puxou para dentro dele e sem me dar tempo para raciocinar atacou meus lábios.

Reviver o nosso primeiro beijo foi uma ótima ideia, mas começou a parecer péssima quando algum tempo e muitos beijos depois, eu senti seus dedos abaixarem a alça do meu vestido, fazendo meu corpo involuntariamente se retrair com a ciência do que ela queria que nós fizéssemos.

Ela parou seus movimentos e se afastou.

- Qual é o problema, amor? - Ela me perguntou séria e eu levantei a alça do vestido, sentindo vergonha de mim mesma.

- Eu... - Pigarreei limpando a garganta e fitei a parede do armário - eu tenho vergonha da minha cicatriz - confessei sentindo um bolor bloquear minha garganta.

- Amor... - Ela suspirou agarrando a minha mão que beliscava o tecido do meu próprio vestido- Essa cicatriz mostra a nova oportunidade que foi dada a você. - Eu sabia que não deveria ser mal agradecida, sabia que havia renascido, mas porra, eu tinha vaidade e aquela cicatriz não era nada bonita.

- Mas ela é horrível! - Eu insisti e seus dedos levantaram o meu queixo.

- Ela te incomoda tanto assim? - Eu assenti me sentindo uma criançona e seus dedos deslizaram do meu queixo, passando pelo vale entre os meus seios até pararem logo abaixo deles.

- Eu não vejo essa cicatriz como algo ruim, eu a amo porque ela faz parte de você agora e eu vou continuar amando-a até que ela desapareça. –Eu franzi as sobrancelhas pra ela, sem conseguir compreendê-la – A marca vai continuar aí, mas eu vou amá-la tanto, mas tanto, que chegará o momento que você não vai mais enxerga-la assim como ela é. – Apesar de suas palavras terem o intuito de me confortarem, eu ainda me sentia em desvantagem diante da mulher à minha frente.

- Mas você é perfeita, isso é injusto! – Eu protestei apontando para seu corpo de alto a baixo e ela bufou.

- Ninguém é perfeito. Todo mundo tem cicatrizes e assim como você tem essa cicatriz marcando a sua vaidade eu também tenho as minhas. –Ela suspirou - Eu sou cubana-mexicana, Lern, cheguei ao país aos sete anos de idade e sofri todo o tipo de preconceito por ser latina. Imagine como era para uma criança se olhar no espelho e ver que sua cicatriz cobria o seu corpo inteiro? Era assim que eu me sentia. -Ela suspirou mais uma vez- A cor da minha pele, os traços do meu rosto, o sangue correndo em minhas veias... tudo isso eram as minhas cicatrizes. Meus pais vieram para Lehighton porque a vizinhança na qual vivíamos era um inferno. Uma vez picharam nossa porta nos chamando de "imigrantes sujos" – Ela sorriu sarcasticamente - eu só tinha nove anos, mas me lembro de tudo. – Ela segurou meu rosto entre suas mãos e seus olhos castanhos que eu tanto amava, penetraram a minha alma - Meus pais, Dinah e Ally amaram minhas cicatrizes até elas desaparecerem e agora eu vou fazer o mesmo com você.

Seus dedos percorreram quentes pela pele do meu rosto e trilharam um caminho lento até os meus ombros, segurando as alças do meu vestido. Seu olhar pedia permissão para continuar e eu a cedi com um aceno leve de cabeça, sentindo a seda deslizar pelo meu corpo, despindo-o diante de olhar contemplativo de Camila. A seda ultrapassou a reta avermelhada e um pouco disforme abaixo dos meus seios, revelando a horrível cicatriz da qual eu sentia tanta vergonha. Eu levantei os braços, pronta para cruza-los na frente do meu peito, mas Camila me conteve e inclinou-se e selou os lábios sobre a marca.

- Você é minha perfeição imperfeita! – Ela murmurou para mim, se erguendo com um sorriso no rosto e eu observei seus traços, cravejando-os novamente em minha memória com a nova ciência de que eles eram suas cicatrizes.

Ela era a minha perfeição e eu a dela, mas não éramos perfeitas. De jeito nenhum.

Isso faz sentido?

You Hate Me While I Love YouWhere stories live. Discover now