- Hum... Já vou indo... Peça a Lauren para me ligar assim que puder – Ela se virou e começou a se afastar – Melhoras! – Assim que a porta de entrada foi fechada, eu voltei correndo para o meu quarto e ali desabei.

Eu não poderia submete-la ao martírio de me ver morrer aos poucos. Ela não merecia um amor quer iria morrer em breve. Ela não merecia alguém que dali a algum tempo não conseguiria nem pentear o cabelo sem que tivesse uma crise respiratória. Ela não merecia alguém quebrado, cheia de cicatrizes como eu.

Eu precisava terminar aquilo antes que crescesse, antes que ela me amasse, antes que as coisas começassem a ficar feias. Eu precisava cortar e enterrar o nosso amor antes que a tempestade chegasse, mas eu ainda não tinha coragem.

- Amor... – Ela murmurou para mim no dia seguinte.

- Sim, Camz. – Eu respondi com um sorriso que não passou de um curvar de lábios.

Estávamos no mesmo parque aonde meses atrás eu a chamei para o primeiro encontro, no mesmo lugar aonde semanas antes gravamos o nosso nome em um banco que havia na calçada, estávamos no mesmo lugar aonde eu me permitiria pela última vez imaginar uma vida com Camila.

- Ouça essa poesia – Ela murmurou deitada em meu colo enquanto eu me recostava ao tronco de uma das árvores. – É de um cantor brasileiro e postaram no grupo de estudos de língua portuguesa, eu a traduzi para você. – Ela disse com os olhos voltados para o bloco onde ela, às vezes, escrevia.

- Sou toda ouvidos. –Murmurei acariciando as mechas castanhas de seus cabelos, pensando no quanto sentiria falta daquilo quando tudo acabasse.

E então sua voz rouca começou aquele recital particular.

"Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio;

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito,

Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe

Seja linda, ainda que triste;

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante;

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece

E nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas como a única coisa que resta

A um homem inundado de sentimentos;

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço;

E que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada;

Porque metade de mim é o que penso

Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste

E que o convívio comigo mesmo

Se torne ao menos suportável;

Que o espelho reflita em meu rosto

Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,

A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais;

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;

Porque metade de mim é plateia

E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade... também."

- Amor, o que aconteceu? –Por entre as lágrimas que eu não conseguia mais conter, vislumbrei sua silhueta preocupada me fitando e aquilo fez com que eu chorasse mais ainda. Era como se aquelas palavras houvessem sido encravadas no fundo da minha alma e depois retiradas a força dolorosamente e postas sobre o papel.

- Eu... –Tomei fôlego – eu achei lindo... – Eu sorri antes de ser acometida por mais uma crise de choro.

- Lauren, o que está acontecendo? –Ela se sentou de frente para mim. – Desde que chegamos eu tenho notado você quieta e não estou reclamando, mas hoje você está muito mais grudenta que o normal. –Eu a puxei pelos braços e a fiz sentar-se em meu colo, logo a abraçando.

- Eu só estou de TPM amor... –Eu apertei sem a vontade de soltar – Eu te amo, sabia? – Ela me abraçou de volta e plantou um beijo em meu pescoço antes de suspirar.

- Eu também te amo, Lauren!

Ela também me amava e a vida era uma merda.

You Hate Me While I Love YouWhere stories live. Discover now