123 - Sétimo mês;

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Benício

Foi no sétimo mês que eu perdi a exclusividade. Minha filha estava crescendo, ficando forte e se manifestando agora quando outras mãos a "tocavam". E eu me sentia um pouco dividido: Se de um lado achava adorável vê-la chutar todo mundo, do outro estava um pouco triste por saber que algo que era só nosso havia deixado de ser.

- Ela chutou! - Minha mãe falou em duas oitavas acima do normal - Eu senti!

No momento seguinte, as mãos do meu pai fizeram companhia às dela, com o intuito de se certificar de que aquilo não era uma mentira.

- Uau! - Ele exclamou dois segundos depois - Ela chutou mesmo! E chutou forte pra alguém tão pequena!

- Vamos controlar nossas alegrias. - Laralís falou, tentando esconder o riso - Benício está magoado.

- Claro que não estou... - Respondi, soando como uma criança mentirosa.

- Ah, está sim. Você não é mais o preferido dela.

- Ei, só porque eu não tenho mais exclusividade não quer dizer que não seja o preferido. - Argumentei - Você vai ver. Ela vai me achar o máximo.

- Já vi que teremos trabalho em "desmimá-la", Lís. - Minha mãe falou outra vez, rindo como uma pré-adolescente ao sentir mais um chute.

- E quanto ao novo professor de hidroginástica, mãe? - Perguntei, levando o assunto para outro lado, talvez propositalmente.

A professora de Laralís havia recebido uma proposta no outro canto do país, e teria que nos deixar. Mas eu insistia com os exercícios durante a gravidez: Se o médico disse que faria bem para ela e para a minha filha, então eu não pouparia esforços para mantê-los.

- Ah, estou vendo isso. - Ela respondeu, ainda distraída com a barriga palpitante - É difícil encontrar algum professor bom, disponível e que aceite dar as aulas na casa do aluno. Mas vou conseguir achar. Só peço que tenham um pouco de paciência.

Laralís estava paciente. Eu, nem tanto. Queria que ela se ocupasse logo com alguma coisa: Temia que a gravidez a estivesse chateando nesse aspecto. E eu não queria que a gravidez a chateasse de forma alguma.

A visita ao obstetra foi normal. Era sempre um alívio ouvi-lo dizer que tudo parecia bem naquela gravidez. O Dr. Lewis nos informou sobre as diferenças e as vantagens entre parto normal e cesariana, e como era de se esperar, ela preferiu a primeira opção. Eu também gostava mais dessa ideia, mas era claro que quem decidiria esse aspecto era ela. Não era eu que teria que sentir uma criança inteira saindo de mim.

O doutor também começou a nos preparar para a aproximação do parto, que, pelos nossos cálculos, se daria em meados de setembro. E eu estava tão vidrado nessa data que esqueci de outra data igualmente importante.

- Filho?

Tirei os olhos do computador e vi meu pai à minha frente. Ele parecia um pouco agitado.

- Que foi?

- Sua mãe acabou de me ligar. Parece que sua irmã entrou em trabalho de parto.

Eu não sei porque aquilo me deixou tão nervoso. Ela estava grávida, e com nove meses de gestação (mesmo que eu tivesse esquecido disso), era de se esperar que ela entrasse em trabalho de parto. O bebê não ficaria lá dentro para sempre.

- E agora? - Falei com a voz um pouco esganiçada. Ele me encarou como se não tivesse entendido minha pergunta.

- Agora... Ela vai parir.

- Ela está bem?

- Não sei. Quem ligou foi o Jorge. Ele parecia tranquilo...

- Mas o Jorge sempre parece tranquilo!

De Repente, Amor ❲✓❳Onde as histórias ganham vida. Descobre agora