50 - Está fazendo de propósito?

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Pedi pelo amor de todos os deuses para que fôssemos em uma simples loja de departamentos, e obviamente ouvi reclamações de Benício. Ele parecia decidido a comprar coisas com preços exorbitantes, então quando notei que meus pedidos não estavam surtindo efeito, garanti a ele que algum dia poderíamos voltar e escolher as lojas que ele quisesse, contanto que aquele dia fosse meu.

Ele acabou aceitando, a contragosto, então fomos parar em uma Macy's. Como queria ir embora logo, escolhi aleatoriamente peças de roupas de diferentes estilos e cores. Não experimentei nada, alegando que qualquer coisa do tamanho P serviria em mim. Por vezes, tentei me separar dele para poder pesquisar preços, mas quando ele me encontrava, já nervoso com o receio de que eu pudesse ter fugido dele, ficava mais furioso ainda quando me via olhando as etiquetas.

Quando decidi que já havia coisas demais, informei-o de minhas escolhas, mas ele não reagiu como o esperado. Parecendo decidido, Benício me avisou de que não sairíamos dali sem, no mínimo, o triplo de peças que eu havia escolhido, e então eu quase quis agredi-lo.

Já era de noite quando chegamos ao apartamento dele. O porteiro foi, mais uma vez, incumbido de levar todas as dezenas de sacolas para cima, provavelmente pensando que eu era algum tipo de aproveitadora barata, me beneficiando da ingenuidade de Benício. Quando o elevador chegou ao último andar, imediatamente voltei aos meus dilemas e preocupações.

Bastou passar pela porta para que eu me lembrasse de me perguntar como seria aquela noite - mais uma noite ao lado dele. Era o segundo dia completo que eu passava na sua companhia, e ainda assim as coisas pareciam estranhas. Felizmente, a quase casualidade daquela tarde de compras no shopping fez com que um pouco do gelo que existia entre nós fosse derretendo, mas o bloco gelado, maciço e invisível ainda estava lá.

Nós não éramos um casal normal, de namorados ou amantes. Éramos duas pessoas vivendo no mesmo ambiente e sem ter ideia de como fazer essa coexistência funcionar confortavelmente. Éramos duas pessoas com muito medo de causar dor uma a outra, de dizer coisas que pudessem ser tomadas como insultos. Éramos pessoas em constante tensão, quando juntas. Em constante agonia de não saber como agir, como olhar, como tocar, como sorrir direito.

- Fome?

Me assustei com sua voz grave me tirando de meus devaneios. Não sabia quanto tempo havia se passado desde que chegamos ali. Notei que estava sentada na cama do quarto de hóspedes, já podendo considerá-lo como meu por me sentir tão mais à vontade ali, sozinha, do que no quarto de Benício, em sua companhia. O que não significava necessariamente que eu me sentisse melhor.

- Não. Não costumo jantar.

Notei que sua expressão parecia levemente decepcionada, mas antes que pudesse dizer a ele que eu não estava negando tudo que ele me oferecia de propósito, Benício falou outra vez.

- Ah... Tudo bem então. Se mudar de ideia, me avise. Eu preparo alguma coisa. Tem frutas na geladeira também.

- Ok. - Falei de forma simples.

- Ok... - Ele começou, com aparência cansada - Eu vou tomar um banho e me deitar, então. Não estou acostumado a ficar andando por tanto tempo em um shopping. Acho que só as mulheres têm esse dom.

Vi um sorriso tímido se formar em seus lábios, como se estivesse tentando me mostrar que tinha acabado de tentar ser engraçado. Continuei séria, não com o intuito de magoá-lo, mas porque eu não conseguia sorrir de forma verdadeira. Não ainda.

Ele voltou a ficar sério ao ver que sua brincadeira não surtiu efeito em mim, e quando falou outra vez, pude notar em seu nervosismo evidente que tudo o que havia dito até agora era só uma desculpa que levaria o tempo necessário para que ele me sondasse.

De Repente, Amor ❲✓❳Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang