78 - Qual é o seu nome?

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Laralís

Eu estava sentada na borda de um chafariz. Era primavera àquela altura, e eu podia dizer isso principalmente pelo jardim à minha frente, repleto de camélias dos mais variados tipos e cores. Inspirei profundamente para sentir o cheiro de grama fresca. O sol dava ao clima uma temperatura agradavelmente morna, ideal.

Me sentia incrivelmente feliz e completa, e sequer sabia o motivo. Não me movi, com medo que aquela sensação me deixasse.

Diferentemente das outras ocasiões, eu sabia que estava sonhando.

Ao longe, vi uma pessoa. Mais precisamente uma criança, uma menina, talvez com seus oito anos de idade. Ela veio correndo até mim, e quando me alcançou constatei que não a conhecia. Mas algo nela chamou instantaneamente minha atenção.

Aqueles eram os olhos que eu mais amava. Eram de um dourado tão conhecido, tão perfeito, que não consegui deixar de olhá-los. Eram os mesmíssimos olhos de Benício.

Imediatamente me dei conta de que amava aquela menina mais do que qualquer coisa no mundo.

- Olá. Qual é o seu nome? - Perguntei, desgrudando uma mecha de cabelos do seu rosto suado e colocando-a atrás de sua orelha.

- Não tenho nome ainda. - Ela respondeu, e a voz me pareceu tão melodiosa quando um coral de anjos.

Estranhei aquela resposta.

Eu poderia estar sonhando com a filha de Alice, ainda não nascida? Isso explicaria os olhos da menina serem os de Benício, que por sua vez eram iguais aos da irmã.

Mas ainda assim, algo nela me atraía. Como um ímã.

Ela sorriu, e outra vez a lembrança de Benício veio forte demais. De alguma forma, senti que ela também me amava, mesmo nunca tendo me visto na vida.

Tudo naquele sonho era estranho.

Fui subitamente acordada por uma dor, essa bastante real. Tão forte que me perguntei como sequer havia conseguido dormir. Depois de algum tempo tentando voltar à realidade, completamente perdida, consegui identificar que a dor estava na minha cabeça. Identificar a parte do corpo que doía era um começo.

Demorei alguns minutos para tomar a coragem de abrir os olhos. Quando o fiz, até mesmo a luz fraca que as cortinas do quarto de Benício filtravam foram o suficiente para transformar aquele pequeno momento em um inferno. Fechei os olhos muito rapidamente outra vez, tentando engolir, mas minha língua parecia feita de pano. Talvez alguém tivesse me espancado antes que eu caísse no sono, porque todos os músculos do meu corpo pareciam um pouco podres.

Girei a cabeça devagar para o lado só para constatar que Benício, como quase sempre, não estava ali.

Conjurando das profundezas dos meus músculos toda a força que havia em mim, sentei na cama ainda de olhos fechados. Infelizmente, o movimento foi rápido demais, então uma tontura desnorteante e um enjoo súbito me tomaram de imediato. Senti alguma coisa querendo sair de mim à força, e me desesperei ao constatar que, mesmo que conseguisse ir caminhando até o banheiro - o que não era o caso - eu provavelmente acabaria vomitando no carpete antes de chegar no meio do caminho.

Sem opção nenhuma, me curvei na cama, colocando a cabeça para fora dela e simplesmente deixando que um jato nojento saísse pela minha boca. Mas aquilo foi tudo que saiu. A ânsia vinha a cada cinco segundos, mas meu estômago vazio não tinha nada para expelir. E cada vez que ela vinha, vinha com tanta força que minha cabeça parecia a ponto de explodir, me fazendo implorar silenciosamente por um desmaio.

De Repente, Amor ❲✓❳Where stories live. Discover now