29 - Quem é aquele homem?

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...

Eram quase 20h agora, e estava perplexo como aquele dia havia sido tão improdutivo e degradante. Duda me pagaria por aquilo.

Tentei ocupar meu tempo com tantas coisas quanto me fora possível lembrar, mas nada adiantou. Busquei em meus arquivos culinários a receita mais difícil que consegui encontrar e me preparei para o desafio. Lembrei que antigamente essa era uma forma de distração ótima, mas devia imaginar que "antigamente" não se encaixava em nada no meu "ultimamente". Escolhi com cuidado um livro da minha biblioteca não muito grande, prestando atenção para não pegar qualquer coisa relacionada a drama, ou romance, ou qualquer coisa que me fizesse lembrar de coisas que eu queria deixar de lado, mas esqueci que nenhuma leitura conseguia me prender quando eu não estava em paz comigo mesmo. Arrisquei desenhos engraçados na televisão, tentei arquitetar mudanças na disposição dos móveis no meu quarto, comecei a arrumar alguns armários, mas nada foi o suficiente.

Eu ainda pensava nela. Eu ainda sentia sua falta, e por algum motivo idiota, quanto mais eu tentava esquecê-la, mas eu lembrava dela. Dito isso, como eu estava há praticamente uma semana tentando arrancá-la à força da minha cabeça, era óbvio que agora eu estava em um estado tão deplorável de auto-flagelação que sequer conseguia pensar direito.

Usando essa desculpa para mim mesmo - o que não diminuiu minha culpa - me vesti de qualquer jeito e tomei a atitude mais desesperada e imbecil que podia tomar.

Eu iria até Laralís outra vez.

...

Eu insistia para mim mesmo que o que iria fazer não era nada demais.
Eu não pagaria pelo programa dela. Tudo o que eu queria era vê-la, dizer um oi. Era ridículo, mas eu tinha certeza que no momento em que a visse e simplesmente trocasse meia dúzia de palavras com ela, eu me sentiria muito melhor. E era só o que eu queria. Era muito pouco para me crucificar.

Mas mesmo assim, eu me crucificava. Eu era um fraco, e nunca duvidei disso, mas era revoltante saber que minha fraqueza não me permitia seguir com um plano tão bem pensado. De qualquer forma, essa era a hora de escolher entre meu orgulho e a dor que atravessava e rasgava meu peito de um lado a outro, a dor que diminuiria se eu a visse.

Eu não conseguia mais lidar com aquela dor.

Quando atravessei a porta da frente da Casa de Tanya, senti meus nervos à flor da pele. Não era normal aquele nervosismo todo, mas eu não quis pensar sobre isso, então apenas continuei andando um pouco apressado para o lugar mais escuro do ambiente.

Sentei-me na mesa vazia mais ao canto, enquanto olhava em volta para ver se alguém havia reparado em mim.

- Nossa, estávamos preocupadas com você!

Virei-me surpreso e vi Vanessa sentada ao meu lado. Quando foi que ela chegou ali?

- Ah, oi.

- Olá. Então, por onde esteve?

- Ocupado.

Minha atenção agora estava voltada para o ambiente, mais precisamente para a busca de uma certa garota que trabalhava naquela casa.

- Nós estranhamos você ter ficado tanto tempo sem vir ver a Lís.

Olhei para ela sem entender o que ela quis dizer com aquilo.

- Quê?

- Bom, ela parece ser sua favorita, né? Todas nós ficamos surpresas por você ter ficado tanto tempo longe dela. Quer dizer, só quem pareceu não dar muita importância pra isso foi ela.

Encarei-a sem saber o que falar. A verdade era que até eu mesmo estava surpreso de conseguir ficar tanto tempo longe dela, então não poderia julgá-las por sentir a mesma coisa. Mas agora, estava passando por um pequeno dilema. Por um lado, fiquei aliviado porque, se Laralís não havia dado importância ao meu desaparecimento repentino, isso talvez significasse que ela não tenha ficado chateada comigo. Por outro lado, por que ela não havia dado importância? Ela não tinha dito que me queria por perto? Será que ela não fazia questão da minha presença?

De Repente, Amor ❲✓❳Where stories live. Discover now