93 - O que vai fazer lá?

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Laralís

QUARTO MÊS

Àquela altura, eu estava completamente transformada, e me transformava continuamente, dia após dia. Não era apenas pela aparência que se podia dizer isso: Embora minha barriga simplesmente houvesse resolvido crescer de uma vez só, compensando os quase três meses de disfarce, era também no meu humor que a gravidez se manifestava.

Se no início as mudanças bruscas de comportamento deixavam tanto Benício quanto a mim mesma um pouco confusos, agora elas pareciam nos pegar completamente de surpresa. Cheguei a ter medo de estar desenvolvendo algum tipo de bipolaridade, já que, às vezes, era uma questão de segundos para que meu humor mudasse radicalmente, com direito à lágrimas e berros. Mas o Dr. Becker nos certificou de que aquilo era normal.

Aparentemente, Benício estava começando a ter um pouco de medo de mim. Claro que grande parte das vezes, quando brigávamos (sempre por motivos idiotas, porque meu humor resolvia entrar em crise) ele não respondia o que responderia normalmente só porque tinha medo que, insistindo na discussão, meu nervosismo atingisse níveis perigosos para a gravidez. Mas em alguns momentos eu realmente o notava um pouco tenso, sendo excessivamente gentil e manso. E mesmo que isso só me enervasse mais, ele parecia decidido a bancar o tipo de namorado "tudo-que-você-quiser,amor".

Ameacei-o de morte algumas vezes, e talvez porque eu parecesse sincera, em determinado momento ele passou a me sufocar menos. Me senti vitoriosa apenas até o momento em que seu pequeno afastamento trouxe uma sensação completamente absurda de abandono. Depois de muito drama, nós dois conseguimos balancear as oscilações que meu humor sofria, e então ele sabia quando era a hora de se afastar e quando era a hora de grudar em mim.

- Amor? - Ele gritou assim que ouvi a porta da sala ser batida.

- Quarto! - Gritei de volta, ainda me encarando no espelho enorme do closet apenas de calcinha e sutiã, exatamente o que estivera fazendo durante os últimos dez minutos.

Benício entrou já com o paletó na mão, desfazendo o nó firme da gravata em seu pescoço e parecendo cansado. Não me mexi, ainda encarando o espelho. Esperei que ele se pronunciasse parado ali atrás de mim, também encarando o nosso reflexo.

- Tudo bem? - Ele perguntou, me olhando como quem olha uma granada prestes a explodir.

Assenti com a cabeça, lutando contra o biquinho pré-choro que começava a se formar no meu rosto.

Ele obviamente percebeu que não estava tudo bem, e por isso se aproximou, beijando meu pescoço de leve enquanto jogava despreocupadamente seu paletó e sua gravata em algum canto, envolvendo seus braços em mim logo em seguida.

- Tem certeza? - Benício insistiu, brincando com a ponta do seu nariz carinhosamente no meu ombro, mas ainda me olhando pelo reflexo com o máximo de cautela.

O choro veio até minha garganta e voltou. Meu queixo tremeu e meu biquinho se transformou em uma careta.

- Estou... horrível. - Consegui falar, tentando não tremer a voz.

Ele suspirou contra meu pescoço.

- Me diga exatamente qual parte em você está horrível. Porque eu não consigo ver...

- Eu toda.

A lágrima que brincava em um dos meus olhos caiu.

- Amor... - Ele começou, com sua voz suave e calma, que demonstrava toda a paciência de um monge budista - Você não consegue ficar feia.

- Eu estou gorda... E deformada...

- Você não está deformada. Mas se a nossa filha está aí dentro, sua pele e seus músculos precisam se esticar.

De Repente, Amor ❲✓❳Where stories live. Discover now