Capítulo VIII - Gota Dágua

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O resultado das noites anteriores passadas em claro era nitidamente visível nos olhos mortificados atrás das lentes dos óculos. Harry havia vindo direto para a escola, sem dormir nem mesmo por meia hora entre sábado, domingo e a madrugada de segunda-feira. Nenhum cochilo, nada que pudesse tirá-lo da frente do computador. Seus esforços valeriam a pena – ele acreditava– afinal, fora difícil conseguir a tão almejada espada para presentear Laglord. O fato de ter deixado o amigo virtual irritado na noite retrasada havia atingido Harry bem mais do que ele pensava que fosse possível. Laglord sempre fora um grande amigo, desde que se esbarraram em um cenário do jogo há alguns anos, como já foi dito. Acontece que nenhuma briga, desde então, havia rolado entre os dois. Nada, nem um suposto desentendimento, ao contrário. Apesar de gênios diferentes, Lexus94 e Laglord eram excelentes companheiros de jogo. E, apesar de discreto, Laglord era um bom ouvinte e tudo o que Harry menos precisava era tê-lo magoado.

Mas o presente haveria de funcionar. Harry sabia da importância daquela arma para o amigo. Há alguns bons meses Laglord estava cobiçando aquele item, e agora o teria.


A dor de cabeça veio como consequência das noites em claro, tão forte e tão intensa que Harry achou que seu cérebro fosse derreter. Os exercícios que o professor Nick havia passado pareciam nublados em sua vista, como se a lente de seus óculos estivessem embaçadas. Num gesto rápido, o nerd removeu a armação do rosto, coçando os olhos com as costas das mãos. Respirou fundo, tomando coragem para encarar a folha de papel mais uma vez. Não seria fácil se concentrar o suficiente para responder aquelas questões com o mínimo de coerência.

A solução fora pedir para usar o banheiro, como desculpa para molhar o rosto, tomar um gole d’água e respirar. Já no banheiro, Harry encostou a cabeça na parede fria de azulejo, fechando os olhos por alguns instantes. O rosto já molhado gotejava, salpicando a camisa do colégio. Estava com tanto sono que poderia dormir ali, rente a parede. A ideia parecia tentadora, mas Harry sabia que iria levar um tombo se o fizesse, sem contar que podiam entrar no banheiro a qualquer hora e vê-lo ali feito um idiota.

- Você tá bem?

A tão conhecida voz de Louis soou baixa – bem mais baixa do que o costume – alarmando ligeiramente o nerd distraído.  Após o leve sobressaltar, Harry abriu os olhos, enxergando a figura distante - um tanto distorcida - de Louis, aproximar-se. Estava sem os óculos, não enxergava muito bem de longe, mas sabia que aquela voz pertencia somente a uma pessoa.

- Oi Lou. Estou bem sim, só senti uma leve canseira, por isso vim molhar o rosto.

- Por que está se sentindo tão cansado? Não dormiu bem à noite?

- Pra ser franco eu nem deitei na minha cama. Vim direto do pc pro colégio.

- Sério? Você é doido...

- Já disse que sim... – riu o garoto, piscando lentamente. – Mas valeu a pena.

- Não faço a menor ideia de como perder uma noite de sono possa “valer a pena”.

- Na verdade foram duas, mas valeram Lou, acredite. Vou fazer alguém feliz hoje, e é isso que importa.

- Fazer quem feliz? – a nota irônica no tom vocal do punk não passou despercebida.

- Alguém Lou, alguém... – respondeu despreocupado, soltando o ar dos pulmões. Não achava prudente contar para Louis que jogava RPG online, não queria ouvir mais piadinhas sobre o quão geek ele era ou algo do gênero.

- Tá ficando com alguém?

- Eu? Olha pra mim Louis, acha que alguém nesse mundo ia querer ficar comigo?

Teenage KicksWhere stories live. Discover now