Capítulo I - Holmes Chapel, Cheshire

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Nunca havia nada de novo na pequenina vila de Holmes Chapel, localizada no pacato condado inglês de Cheshire, assim como em todos os seus outros pequenos vilarejos distribuídos pelos distritos aos arredores. Tinham em comum o fato de serem evitados pela maioria das pessoas que buscavam curtição e agito para suas vidas. Pequenos condados, como o de Cheshire, ganhavam somente a preferência de casais mais velhos e aposentados que buscavam um refúgio calmo e silencioso para passarem o resto de suas vidas. Definitivamente, Holmes Chapel - com seus pouco mais de cinco mil e seiscentos habitantes - não era um vilarejo para onde gente jovem ia, e talvez fosse por isso que ele, Harry, não conseguisse fazer amizades muito promissoras. Faltavam-lhe  opções!

De cachos castanhos, além de grandes e expressivos olhos esverdeados - quase sempre atenuados pelas lentes dos óculos de grau, o qual se fez necessário após tantas horas na frente do computador - Harry Styles era o típico jovem interiorano, pacato e de boa índole. Tinha grandes pretensões futuras, e por motivos óbvios, uma delas era deixar o velho condado de Cheshire e se aventurar na grande e bela Londres.

O fato é que Harry, na sua atual condição de aluno exemplar e condecorado com tantas e tantas medalhas - a ponto de seu pescoço não mais suportar o peso de todas as comendas juntas e penduradas – não era somente um exemplo a ser seguido. Ele era “O exemplo” a ser seguido. Tinha apenas dezesseis anos recém-completados, mas sua grande capacidade de aprendizado o fazia competir com os alunos mais velhos. Talvez isso fosse bom aos olhos dos professores, parentes e pais de alunos, mas sendo um adolescente em meio a outros adolescentes, cuja capacidade mental não era lá muito promissora, o aborrecimento alheio tornou-se algo com que Harry passou a lidar desde muito cedo. Ninguém gosta de ser pior do que ninguém. Não que Harry tentasse se sobrepor, querer parecer esperto e desmerecer os colegas, ao contrário, o garoto até se disponibilizava a ajudar quem estivesse com dúvidas e precisasse de um auxílio. O problema é que sua ajuda não era lá muito bem vista.
 Unem-se então “N” fatores que levaram o garoto, que atualmente cursava o segundo ano do colegial, não ter mais do que dois ou meros três colegas.

Aquela sexta-feira prometia ser tão enfadonha quanto a quinta, quarta, terça e segunda-feira passadas. Desta vez, nem mesmo o Sol havia resolvido dar as caras para enxugar o gramado molhado pelo sereno. Harry vestiu-se com o uniforme: camisa branca, gravata e calças negras de linho - típico vestuário antiquado para um uniforme escolar, mas que combinava perfeitamente com a urbe interiorana. Para quebrar o visual “retrô”, Harry calçava seus tênis favoritos: um par de 'Allstar' brancos que havia ganhado da madrinha que via de vez em nunca. Fora o primeiro presente proveitoso que ela lhe dera, além de um aquário com um peixinho que durou no máximo três meses.
 

- Querido, por que acordou atrasado? – questionava a jovem mãe, já devidamente vestida para o trabalho. Pelo conjunto de terninho e saia, deveria trabalhar em alguma empresa ou escritório.

- O despertador falhou, mãe. – respondeu Harry, com a voz ligeiramente rouca pela falta de uso. Enxugava os lábios na toalha de rosto, enquanto se olhava no espelho, dando uma última conferida no visual. Não que fosse vaidoso, sua real pretensão era checar se as olheiras debaixo dos olhos estavam visíveis demais ou se podiam ser facilmente ignoradas. Não queria que parecesse óbvio que havia ido dormir tarde. A culpa não era sua, e sim do computador. A culpa sempre era dele.

- Vamos logo que eu te deixo na porta do colégio antes de ir ao trabalho. – apressou Anne, gesticulando com a mão enquanto passava a alça bolsa pelo corpo, acomodando-a no ombro direito. – Está esquecendo os óculos, querido! – avisou, apontando para o objeto sobre a pia.

-x-



Harry conferia o feed de notícias e o número de visualizações de seu blog sobre games através do celular. Distraído, sequer havia se dado ao trabalho de prestar atenção nos burburinho de vozes excitadas que preenchiam o ambiente da classe. Se tivesse se atentado, saberia que um novo aluno chegaria ainda hoje.

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