Um sentimento de culpa sondou a minha cabeça e eu senti vontade de chorar. Engoli aquele caroço em minha garganta e o choro foi junto.

Entrei e fechei a porta o mais devagar que consegui. Pisei como se estivesse flutuando e nem triscasse no chão. Ele está tão entretido na foto que ainda nem percebeu a minha presença.

- Ela tinha cinco meses.- Digo depois que fiquei um tempo em silêncio, apenas observando a ruguinha que se formava na testa enquanto sorria.

- Que susto.- Disse com a cara assombrada.- Ela sempre foi linda.- Observou a foto novamente.

- Sim.- Sorri lembrando.- Ela sempre foi linda e muito esperta, as vezes eu tenho medo de como ela cresce tão rápido.- Sorri nervosa.

Olliver ficou um bom tempo calado, apenas me olhava e sua expressão era indecifrável. Eu senti a minha espinha gelar e eu não sabia o que fazer, ele não falava nada e aquilo me torturava muito.

Eu não sei se aquela expressão era de... desejo ou se era de raiva por eu ter escondido tudo isso dele. Olliver não ajudava quando não dava nenhuma pista.

Meu coração pulava e aquela sensação que eu sentia quando estava perto dele, voltou com força. Eu não sabia o que fazer, não sei se falava, se ria, se chorava.

Eu apenas estava sentindo aquela sensação boa novamente. E isso, com certeza, era muito ruim. Não posso me apegar à ele, Olliver terá que ir embora novamente e eu não duvidava que aquilo poderia acontecer.

Que droga! Por que eu estou me sentindo mal só em pensar nisso? Por que eu não consigo lidar com isso? Por que eu sou tão idiota a ponto de "voltar" a gostar de uma pessoa que me magoou?

São tantos porquês e nenhuma resposta.

- Por que não me falou da minha filha, Sofia?- Perguntou com um certo rancor.

- Eu tentei, caramba.- Digo e ele estreitou os olhos. Suspirei.- Eu não queria que você a abandonasse, assim como fez comigo.- Confessei e o restante de sua expressão fofa, dissipou.

- Que porra, Sofia.- Gritou de repente, o que me fez dar um pulo, Olliver sempre foi na dele, não é de gritar ou xingar.- Eu não acredito que você pensou isso de mim.- Me olhou incrédulo.

- O que você queria, hein?- Olliver colocou o porta retrato no lugar.

- Queria que você tivesse me escutado, queria que você não tirasse suas próprias conclusões, queria que você não fosse tão dramática e infantil.- Disse tudo de uma vez.- O que eu não queria, era ter que me afastar de você.- Passa as mãos no cabelo e suspira.

- Eu não consegui acreditar, Olliver, vocês estavam se beijando.- Gritei.

- Ela que estava me beijando.- Disse frustrado.

- Para, Olliver, a questão é a nossa filha.- Tentei amenizar.

- Isso faz jus ao que estamos querendo falar.- Diz bravo.- Por que eu queria a Rebeca, Sofia?- Sorri sem humor.

- Porque ela é rica, bonita e, sem esquecer isso, claro, siliconada.- Digo com ironia.

- O que me levaria a querer ficar com ela?- Levanta uma sobrancelha.

- Não sei, droga, quem tem que responder isso é você.- Digo já cheia daquilo.

- Então tá, não me interrompa.- Me avisa.- Eu não vejo essa beleza em Rebeca, não nego, ela pode sim ser bonita, mas não é para mim. Não tem nada que me prenda a ela, o que me importa o dinheiro? O que importa beleza? O que importa o exterior?- Suspirou.- Sei que você pensa que eu...- Parou de falar, sua boca abria e fechava.- Gosto de você porque sinto pena, mas não é.- Passou as mãos pelos cabelos e cruzou os dedos na nuca.- Quantas vezes eu tenho que dizer que gosto de você?

- Você ficou com alguém quando estava fora?- Pergunto de repente e ele petrifica.

- Isso não importa.- Diz nervoso.

- Sim, importa muito.- Digo, mas eu já sabia a resposta.

- Uma, Sofia, uma mulher.- Diz e suspira.- Mas não importou nada para mim, nenhuma mulher me importa, só você e a nossa filha.- Sorri de lado ao falar "nossa filha".

- Você é um cretino.- Balancei a cabeça freneticamente para os lados.- Ficou apenas com uma? vai te lascar, Olliver.- Gritei a última parte.

- Isso não importa, foi apenas uma noite e não valeu nada comparado as nossas noites.- Tentou chegar perto, mas eu me afastei.

- A partir de hoje, Olliver, você só virá em minha casa para tratar de assuntos sobre a Manu, nada a mais que isso.- Disse olhando em seus olhos.

Aquilo doía em mim, e é por isso que eu me odiava ainda mais. Ele ficou com outra mulher e diz que só foi uma noite, o que importa? Ele poderia muito bem estar... Droga! Olliver não é de mentir e não sabe mentir, é o pior mentiroso que conheço.

Logo eu soube que ele estava falando a verdade, mas a merda já está feita e eu não irei pedir desculpas, talvez o destino queira assim, que estejamos afastados.

- O quê?- Olliver gritou.- Esta louca?

- Não, não estou. Não estou aqui para ficar ouvindo você falando quantas mulheres já pegou.- Berrei em sua cara.

- Você que perguntou, Sofia.- Me olha como se eu fosse um extraterrestre.

- Cala a boca.- Gritei, eu não podia pedir desculpas à ele.

- Tá bom, Sofia.- Abaixa a cabeça e da um suspiro cansado.- Eu vou embora. Que horas a Manu sai da creche?- Me olhou.

- Meio dia.- Digo e ele afasta o olhar do meu, como se me olhar ferisse seus belos olhos azuis.

- Eu irei pegar ela hoje.- Estava prestes a contradizer.- Você já ficou tempo demais com ela, quero passar pelo menos alguns minutos com a minha filha.

- Tudo bem.- Digo tristonha por ele não olhar em meus olhos.

- Pretendo contar a ela que ela agora tem um pai.- Olha para o porta retrato novamente, seu rosto ganha um brilho com o sorriso olhando a foto.

- Tudo Bem, traga ela para cá, eu preciso estar junto e me explicar a ela.- Ele me olha por frações de segundos e olha seus sapatos.

É tão estranho como um sapato social era mais atraente. Me arrependi do que disse a ele, mas era orgulhosa demais para pedir desculpas.

- Tá.- Foi apenas o que ele disse e se aproximou.- Se cuida.- Olhou em meus olhos e acabou com espaço entre nós.

Seus lábios se aproximaram e um beijo leve e doce, foi plantado em minha testa. Senti um frio na barriga e eu quis puxa-lo e beija-lo até me cansar.

Com isso, ele se afastou e foi em direção à porta com as mãos no bolso.

Sem saber o porquê, senti um vazio enorme quando ele deixou o meu apartamento. Eu sabia a burrada que tinha feito, mas não posso fazer nada para tapar os buracos.

Era isso mesmo, eu tinha que me acostumar, Olliver não é mais nada meu, é apenas o pai da minha filha.

Apesar de que eu não me conformo com isso, terei que deixa-lo seguir, Olliver é homem, lindo por sinal, não pode ficar sem mulher, ou mulheres.

Meu peito dói com o pensamento, mas é isso que vai acontecer, tenho certeza.

"É isso, Sofia, agora você tem que tentar esquecer de vez o Olliver, mesmo não sabendo por onde começar, nem que seja pelo final, mas você tem que esquecer ele." Pensei.

Laços do destinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora