Capítulo 18 - Por um bem maior

Start from the beginning
                                    

— Sobre isso, por que? Por que não chamá-los?

Encolhi os ombros, balançando-os com descaso.

— Para aumentar ainda mais a plateia? Para ter Sally e todos os outros em cima de mim com pena? – perguntei retrucando. — Não gosto desse tipo de atenção.

Apolo ficou encarando-me. Ele nem piscava, muito menos esboçava alguma expressão que denunciasse sobre o quê ele estava pensando.

— Tudo bem – falou por fim. — Quando podemos ir à delegacia? – pisquei sem entender.

— Perdão?

— Nós vamos denunciá-lo – Apolo disse. — Você não está pensando em deixá-lo escapar ileso, está?

Bom, eu estava sim. Não havia provas do que ele havia tentado fazer comigo, então seria uma perda de tempo.

— Você não pode estar falando sério – falou após o meu silêncio. — Whitford, se ele tentou com você, já tentou com outras e possivelmente continuará tentando. Não trata-se apenas de você, mas de outras mulheres que correm risco de serem abusadas por ele!

— Eu não tenho provas, Apolo! – falei. — É a minha palavra contra a dele e nós dois sabemos que as chances dele sair sem um arranhão são imensas! E se ele descobrir que foi eu? E aí? – perguntei retórica. — Vou ser perseguida, ameaçada ou pior!

— Você tem noção do quanto egoísta você está soando agora?

— Egoísta? – perdi a calma e saí do seu lado, ficando em pé. — Eu não preciso e não quero ninguém olhando para mim como se eu fosse um objeto frágil e que no mínimo toque irá se espatifar! Já é ruim o suficiente ter o meu passado, não preciso disso no meu presente também!

— Céus! – Maddox bufou, levantando-se. — Você age como se tivesse sido a única a ter um passado tenebroso, pior! Você age como se não fosse acontecer com mais ninguém, como se ser assediada fosse banal e pode ser deixado de lado!

— Eu sei que não fui a primeira e, infelizmente, nem a última – falei mais baixo. —, mas não há provas, não há nada que prove que ele tentou me dopar. Não há nada que eu possa fazer.

Aquilo estava ficando, além de repetitivo, cansativo, mas Apolo não parecia querer encerrar o assunto tão cedo. Ele olhava para mim não como se eu fosse idiota, mas como se eu fosse ingênua demais para lidar com a situação.

— Você quer saber o que pode fazer para ajudar as outras pessoas? – perguntou. — Você pode denunciar, pode deixar a polícia agir e acabar com o pesadelo de centenas de pessoas. Você pode impedir que futuramente mais garotas caiam nessa furada, você pode fazer como eu.

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que você pode ser uma pessoa que já foi abusada na infância, e que agora faz de tudo para punir quem abusa e impedir que novos abusos sejam feitos.

Demorou cerca de dez segundos até a ficha cair e eu entender completamente o que ele quis dizer com aquilo. Demorou mais cinco para eu dizer alguma coisa.

— Eu não fazia ideia – sussurrei, chocada demais para ter qualquer reação.

— Eu sei, Whitford – Apolo falou, esfregando as duas mãos no rosto. — E eu preferia que não fizesse ideia nem agora nem nunca.

Dito isso, ele me largou na sala sozinha com meu corpo paralisado. Forcei cada célula do meu corpo a recompor-se e ir atrás dele. Não é todo dia que uma revelação desse nível chega até nós. Além disso, não era como se eu pudesse ignorar tudo aquilo.

Por trás do gelo [Em revisão]Where stories live. Discover now