Capítulo 35 - Eliza

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- Então é sério mesmo?

- O quê?

- Você e Elijah? - Gabriel perguntara passando a mão por entre seus cabelos castanhos e compridos.

- Pare de encher a menina. Venha cá. - Clary pegara em meu braço e começamos a andar mais a frente à caminho do Instituto. - Foi mal. - dissera ao suspirar parecendo subitamente séria, então soube que não era à intromissão do irmão que se referia.

- Você não tinha como saber que Elijah estava sob efeito de alguma droga naquela noite.

- E fala sério, se me contassem eu não acreditaria nisso! Por isso procurei as filmagens, porque queria provar que estava certa...Mas por uma loucura, descobri que Elijah dizia a verdade. Sinto muito por quase acabar com o namoro de vocês.

- Tá tudo bem, você chegou à tempo. Não precisa mais me pedir desculpas, está bem? - digo meio embaraçada.

Ela sorri e volta a falar de assuntos aleatórios com sua efervescência.

Após alguns minutos de caminhada cumprimentamos a recepcionista Valentina, e Leggur. Ele nos repreende pelo atraso e eu sigo para sala de aula e os irmãos para a sala de Elijah, assumindo (graças à Deus) o meu lugar de assistente dele.

Não daria para ficar sempre tão perto dele. Além de ser desrespeito. Estava claro para os dois que não poderíamos ter nada antes do fim do semestre. Pelo menos estava claro para mim, não colocaria a carreira dele em risco.

Após a aula de Luigi, eu ainda estava analisando a folha do simulado, à caminho da lanchonete no andar de cima. Geometria, design gráfico e projeções sempre foram meu forte, como poderia ter errado uma questão daquelas! Certo que a culpa não fora do meu escalímetro... Um súbito choque me espanta. A pessoa a minha frente parecia ter notado minha chegada mas se negava a desviar, tornando o esbarrão mais forte do que o necessário.

- Me desc...

- Suas lentes de contato não combatem sua miopia, querida?

Como ela sabia que eu usava lentes de contato?

- Me desculpe Alessandra. - Suspiro e desvio de seu contato visual para voltar a andar pelo corredor. Ele segurara meu braço por um instante, mas assim que virei para ver se era isso mesmo que ela estava fazendo, ela soltara com um sorriso e então cruzou seus próprios braços.

Nesse momento o sinal do intervalo tocara, de forma ensurdecedora, liberando os outros alunos para o almoço.

Eu estava ali, a encarando, Alessandra e seu sorriso sem sentido. Então resolvi perguntar.

- Qual o seu problema? - semicerrei os olhos esperando uma resposta.

- Era você, coelhinha.

Arregalei os olhos por ela saber o apelido que ele havia me posto. Antes que eu pudesse rebater meu celular começou a vibrar no bolso esquerdo, insistentemente. Como se várias mensagens chegassem sem parar. Reparei todos em volta passando com os celulares em mãos, e então alternavam olhares espantados da tela do aparelho para mim, e vice versa. Desbloqueio a tela do meu, e abro um aplicativo de comunicação simultânea, as fotos surgem, carregam e em seguida surgem as mesmas outra vez num fluxo sem fim.

Elijah e eu.

Meu fôlego se perde no caminho da respiração, e meus músculos tensionados estremecem. Não sei por quanto tempo estive ali em choque, mas logo Clary estava ao meu lado me levando para longe, enquanto Gabriel pegava a mochila que eu havia largado ao chão.

- Fica calma. Vou acabar com quem fez isso. - dizia ela quando entramos no elevador.

- Elijah. Eu preciso avisar a ele.

Gabriel e Clary se encararam, como se escondessem algo de mim.

- O que houve? - Não obtive resposta - Gabriel!? - insisti.

- Estávamos na sala 3002, dando assistência e aprendendo sobre o cotidiano dele. Quando ele deu play no slide do telão... haviam fotos de vocês.

- O hackear que fez isso não é amador... - o elevador se abrira antes de Clary explicar suas teorias que em qualquer outro momento me fascinaria, menos agora.

Os poucos funcionários e dois ou três estudantes me encararam assim que sai do elevador, apesar de já estarem surpresos com uma briga que se ouvia de longe por estar acontecendo em algum lugar do primeiro piso.

As vozes eram de Leggur e Elijah, gritando no mesmo nível, apesar de nunca ter visto Leggur elevar o tom de voz. Eu estava sendo puxada por Clary. Ela dizia sem parar que não era o melhor momento para que eu falasse com Elijah, mas eu precisava falar com ele!

Dizer que vai ficar tudo bem!

Quando uma porta se escancarou brutalmente, vi um Elijah de semblante sombrio sair. Me soltei das mãos de Clary, mas acabei por tropeçar em um cadarço desamarrado.

Estive segurando o impacto dessa situação desde os olhares maldosos de todos meus colegas de classe e seus sussuros: "esse rosto de santinha nunca me enganou" "Mais uma que caiu na lábia do professor" " Ela fez o que eu queira ter feito faz tempo"

Ali com as mãos ao chão gelado e os joelhos doendo pelo choque da queda... Eu só precisava que ele dissesse que tudo ia ficar bem outra vez, como hoje de manhã.

Meu rosto queimava numa agonia crescente enquanto eu tentava erguer o olhar, banhado em lágrimas, até ele.

Mas assim que o fiz, ele jogara um olhar de desprezo em minha direção e passara ao meu lado sem hesitar, então seguira para a recepção e de lá fora embora.

Soltei um suspiro com pesar e incredulidade, apoiei as mãos no piso e comecei a me erguer. Não reparei se as pessoas estavam me encarando, porque era óbvio que estavam. Alessandra surgira com a abertura da porta do elevador.

- Ora... Ora... Meu amigo disse que você ficaria bem de joelhos.

- O QUE EU FIZ À VOCÊ!?- Um grito rouco saía rasgando minha garganta. Eu, como se em mim não estivesse, fui contaminada por um ódio que nunca senti quando parti para cima dela. Mas fui impedida por Clary que tomou a frente.

- Vem, vamos sair daqui. - Dizia Gabriel me segurando, enquanto Clary berrava atrocidades para Alessandra.

Eles me colocaram em um táxi, mas não ousaram a falar nada.

Eu pensava em como Alessandra podia ser amiga de Marcos, em como conseguira aquelas fotos porque era óbvio que havia sido ela a mandar para todo mundo, e conclui que possivelmente ela teria me enviado aquelas ameaças e não Vera. Era insuportável lembrar do olhar de Elijah ao me ver humilhada. Nenhum tremor, nenhum sinal de desconforto, não havia nada ali que remetesse ao Elijah que conheço.

Como um dia de recomeço lento pode desandar para o fim súbito, duro e... devastador? Eu sabia que nossa carreira e todo resto acabara ali, junto com minha dignidade. Esse era o truque escondido na manga que Marcos trazia? O que eu fiz para isso acontecer comigo? Dentre todas as universitárias e formandas... Por que eu? PORQUE as coisas não podiam simplesmente ser fáceis para mim? Uma vez só?

Por que Elijah fizera aquilo?

Será que vale tanto a pena sacrificar tudo em prol desse sentimento? Fazer justo como minha mãe e estragar todo o resto? Se eu enfrentaria o mundo com uma mão só? Não sei, mas faria o que pudesse se Elijah segurasse a outra.

O Inferno de Elijahحيث تعيش القصص. اكتشف الآن