Terceiro Capítulo

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O dia amanheceu chuvoso, novamente, mas a temperatura com certeza estava mais baixa, Eliza sentiu pois seu aquecedor estava quebrado.

Após um banho quente, onde ponderou sobre os acontecimentos do dia anterior, decidiu dar um tempo para sua cabeça e concentrar-se em seus cursos.

Primeiro abriu seu laptop, e vasculhara seu email atrás da avaliação que o professor disse que iria mandar. Ela queria dar tudo de si nela, para mostrar, em termos totalmente profissionais, que era uma aluna aplica e uma arquiteta exemplar. Mas não havia nada em nome da instituição ou dele.

Segundo, apressou-se para sair mais cedo, queria passar no comércio do senhor Giuseppe, desde ontem não comera nada se não contar com o chá de hortelã pela metade, estava faminta.

Saiu da pensão, abrindo seu guarda chuva apesar da chuva não estar forte, atravessou já acenando de volta para o seu Giu. Ele a cumprimentou dizendo que estava mui bela, e lhe serviu pãeszinhos amanteigados, folheados de frango, e um copo cheio de suco de laranja. Ao despedirem-se ele insistiu em entregar à moça, uma caixinha ornamentada feita por sua esposa, parecida com as que rapazes dão nos dias dos namorados. Ela sorriu e agradeceu sem jeito.

Segurando a caixinha em uma mão e o guarda chuva na outra seguiu para o curso.

Depois de alguns minutos entrou de costas na recepção para fechar o guarda chuva, a recepcionista apressou-se em ajudar.

- Ciao, buon Giorno! O tempo está horrível não? - Disse Valentina pegando o objeto da mãe dela e o pendurando com outros.

- Buon Giorno, Valentina. - Sorriu agradecida.

- Chegou cedo, ainda não há meia dúzia de pessoas.

- Ah, não tem problema, preciso procurar um livro na biblioteca.

- Aula de Leggur? - Disse em tom de brincadeira por falar de um dos professores mais exigentes.

- Ele mesmo. Até a saída Valentina.

Eliza subiu para o segundo piso onde ficava a biblioteca, lugar em que o professor Leggur nos dava aula. Havia apenas três em seu curso: Leggur de História em geral, agora Machiavelli de História Castelhana e Luigi de Cálculo. E hoje era o dia de Leggur, exigente e meio autoritário era o preferido de Eliza, pois ele era absurdamente inteligente e sentia prazer em passar o que sabe, por isso exigia envolvimento de todos.

Lendo Neufert um dos melhores livros sobre arquitetura que ela já lera, abriu a caixinha de seu Giu e ficou encantada com a torta de maçã dentro dela, a textura, a detalhada construção... existem muitas formas de se arquitetar.

- Hum... - O olhar curioso do senhor Leggur pairou sobre ela, que só percebera sua presente ao ouvi-lo de tão concentrada no livro e no sabor da torta - Neufert, Eliza? - Perguntou, colocando os óculos e parando com sua postura elegante de sempre.

-É...Neufert. Eu sei que é um clássico, meu preferido. Mas o senhor pode considerar ultrapassado. Eu... É...

- Eu ajudei a escrevê-lo, querida. Adoro quando vejo meus bons alunos lendo um bom livro. - Disse já andando para longe dali.

Isso foi um elogio?

Quando deu o horário certo, os outros alunos começaram a tomar conta da biblioteca sentando em seus lugares, não demorou muito até que Marconi avistar Eliza e pedir para sentar ao seu lado.

Todos deram o devido silêncio que a presença do professor exigia.

-Bom, hoje pedirei à vocês que façam um texto descritivo sobre esta sala em quê estão. Individualmente, para entregarem após o almoço.

Todos começaram a escrever seus rascunhos pensando no tempo e no espaço, pois o prédio era um original da época Renascentista conhecida de cor por muitos. Mas Eliza mantinha o cenho levemente franzido, Marconi ao seu lado parara de escrever por um instante para observá-la, mas não interromperia seus pensamentos.

Ela levantou sem fazer barulho com o caderno em mãos e começou a vagar pelo lugar, tocando a parede, observando o teto e a forma dos detalhes das profundidades, sabendo a textura tanto com as mãos quanto com os olhos, parando apenas para escrever ainda de pé.

Uma voz finíssima a tirou do seu transe - É permitido atrapalhar seus companheiros tão claramente assim professor? Acho que a senhora Eliza perdeu a noção de como se faz um texto.

O professor que observava em um canto da sala formou um sorriso em seu lábios finos, caminhando até próximo à ruiva Alessandra. Mas não fixou o olhar nela ou em Eliza, olhou em volta para todos que tinham parado de escrever também. Eliza continuou parada segurando o caderno como escudo.

- Como vocês acham que poderiam analisar um ambiente parados da forma em que estão? Acham que suas mentes são capazes de reproduzir em palavras toda a história contida nessas paredes, neste teto ou neste chão, sem ao menos serem observados? Vocês estão deixando tudo muito fácil para a senhoria Castro, ela sem problemas pode analisar um ambiente sem o incômodo de outra pessoa a cercando para dividir espaço. Mas eu quero ver como vocês reagem sob pressão. Fora da zona de conforto de vocês. Mexam-se!

O horário do almoço chegou e alguns comprometeram Eliza sem ela saber o motivo, mas eles admiraram a forma dela ver a arquitetura do lugar, levarão isso com eles. Outros acharam que ela apenas queria aparecer.

Em meio aos outros alunos ela conseguiu pegar sua mochila, enfiar seu caderno e seguir o fluxo para o refeitório feito de máquinas de lanches.

Ela ainda estava satisfeita pelo café da manhã de seu Giu, então decidiu ver seu escaninho e seguir de volta para a biblioteca.

Ao abri-lo notou alguns envelopes e papéis um em cima do outro, os pegou e voltou a andar cantarolando.

Folheto sobre um festival da cidade - Ela ainda cantarolava - Um convite que todos os alunos receberam para uma palestra mês que vem do senhor Elijah - Ela ainda cantarolava enquanto passava uns folhetos comércios e parou quando um pequeno papel caiu.

Ela o juntou e o leu.

Mas porque o papel com meu e-mail estaria aqui? Por que o professor colocaria ali?

O professor havia devolvido o que lhe fez confirmar a conduta imatura da aluna.

Ela continuava a cantarolar e sua garganta travou quando virou o outro lado do bilhete:

Machiavelli é um babaca.

Entregou a redação para o professor Leggur que disse entregar o resultado no dia seguinte, e fez o que tinha que fazer na Escola, e quando foi passar pela recepção para ir embora a recepcionista a chamou.

- Sim, Valentina? - perguntou voltando alguns passos para perto do balcão.

- É, senhorita Castro, você teve algum tipo de desentendimento com o senhor Machiavelli?

- Eu não sei...

- Ontem antes de ir embora, ele pediu que eu lhe mandasse sua ficha via Email, e não estava com uma cara boa. Não quero lhe atrapalhar Eliza, mas ele não é o tipo de pessoa que deve-se ter problemas.

- Sim. Hum... obrigada. - Disse e seguiu seu caminho.

A chuva dera uma trégua então Eliza fez o que uma estudante dando adeus à seu curso faria: Comprou a garrafa mais barata de Whisky que encontrou e afogou-se nela em seu pequeno quarto, esquecendo-se de novo das aulas de italiano.

Depois, já fora do seu estado normal, fez as malas, deixando algumas roupas no armário por puro ato de rebeldia e esperança de que o professor apenas risse do que leu. Ouvindo Hello da cantora Adele, ela não conseguia perceber o quão isso era improvável.

Por último, sentindo-se pró ativa, fez uma faxina em seu quarto; uma cama, um armário, uma pia, e um banheiro era tudo o que tinha para arrumar.

Até que ficou bonito. Talvez a próxima pessoa que vier morar aqui goste.

O Inferno de ElijahWhere stories live. Discover now