Capítulo 17 - O Inferno de Eliza

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Nunca dormi tão serena e tranquila antes, o sol não apareceu nesse dia, e consequentemente não fora meu despertador natural. Nenhum de nós dois vimos quando Vera abrira a porta do quarto e iniciou um ataque histérico.

- Mas o que significa isto!? - ela não respeitou a recomendação de que não deveríamos falar alto perto de Elijah, e com certeza dormir ao lado dele não era permitido. Abri os olhos assustada, interrompendo um sonho com macieiras, estou morta, pensei. Olhei para o lado e ele ainda dormia, acho que a voz dela só apavora à mim. Me levanto e calço as sapatilhas.

- Por favor, grite comigo lá fora.

O médico Cale entrou e entendeu indignado a situação, pediu para que saíssemos do quarto e disse que foi uma atitude imatura, que coloquei a recuperação dele em risco. Ordenou que eu não o visitasse sem devida autorização.

Me desculpe. Era o que eu dizia sem parar o acompanhando pelo corredor enquanto Vera ficará dentro do quarto.

Não teria notado se não fosse o doutor dizer que meus pontos abriram. Coloco a mão do lado direito da barriga, sinto e depois vejo o sangue que suja o blusão azul.

Passo por outra cirurgia, essa mais simples, para o fechamento à laser novamente. Só acordo quando a noite já perdura. A anestesia faz com eu gaste minhas energias apenas para respirar e tentar abrir os olhos era mais que complicado.

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Vera sabia onde isso iria dar, mas sabia também como cortar o mal pela raiz. Ficava transtornada pelos outros não notarem que foi só essa... fedelha reaparecer na vida de seu filho para as coisas voltarem a dar errado. Como Afonso poderia achar errado o que ela fez no passado? Apenas protegera sua família! E continuaria a proteger.

Observou seu filho dormir, e resistiu ao impulso de tocá-lo, fez uma promessa em pensamento de que protegeria ele dele mesmo, à qualquer custo.

À tarde, pediu gentilmente à um enfermeiro de sua "conquistada" confiança para que colocasse um pouco mais de anestesia em uma certa paciente. Elijah só aceitara ver a irmã, pois não queria ver os pais e pedir perdão naquele estado, queria que eles se lembrassem dos erros que ele cometeu no passado e decidissem por conta própria se deveriam o perdoar.

- Você sabe onde ela está? - perguntou à irmã.

Virgínia não poderia lhe dar más notícias por instrução do médico, então apenas disse que Eliza estava descansando.

Quando a noite chegara, Vera foi visitar a aluna de seu filho. Entrou sorrateira no quarto e encostou a porta.

Colocou a bolsa na poltrona e andou até a janela, onde olhou a vista da praça pública florentina.

- Está difícil abrir os olhos? Dizem que isso acontece quando a morte está próxima. - disse sem tom macabro, com a voz ligeiramente animada - Deixe- me lhe contar um segredo.

Ouvindo a mulher Eliza apenas conseguia ver o vulto dos cabelos brancos, por instinto tentou acionar a segurança pelo botão de emergência, mas Vera reparou e o pegou. Em seguida sentou ao lado dela.

- Isso são modos? Se quer conquistar a sogra está fazendo isso errado. - disse momentaneamente severa mas logo voltou a expressão divertida
- Como eu estava dizendo... deixe-me lhe contar um segredo. O lema oculto entre os funcionários da minha rede de hospitais é: " A morte as vezes é solução." Não concorda?

Estou bem, não nada que ela possa fazer contra minha saúde. Não estou enferma como minha avó estava para ela me fazer propostas. Eliza repetia para si mesma sem saber da história toda da morte de sua avó.

- Posso ouvir as engrenagens rodando nessa cabecinha. Deixe-me adivinhar? Acha que sua saúde está saudável e não posso organizar as coisas como organizei com sua avó?

- Não... ouse... falar dela. Como dorme a noite? - ela respiro e ignora a tontura em sua cabeça - Sua proposta foi como se a tivesse matado com as próprias mãos.

- Owh! Estou impressionada com sua resistência a anestesia que mandei de presente. - ela voltou com o olhar severo e se aproximou do meu rosto - Os amigos que me ajudaram a organizar as coisas que sua avó desordenou, foram bem recompensados. Acha que eu não me senti revigorada quando dei as ordens para desligarem os aparelhos que a mantinham viva?

A menina arregala os olhos e tenta se levantar para acabar com a raça daquele demônio em forma de mulher, mas sentiu uma pontada na barriga.

- Não me diga que não suspeitou disso? Ah... deve ser agoniante. Outra coisa - Vera passa a mão pelo cabelo de Eliza que se contorceu com o toque
- Será que você pode confiar nas injeções que levou hoje? Será que você sabe que há pacientes com HIV nesta unidade? Para uma amostra de sangue contaminado cair acidentalmente aqui... seria tão fácil.

- Eu não tenho medo de você. - a jovem mentiu.

- Isso não soou corajoso, soou estúpido. Olha, estou exausta de gastar saliva com você meu doce, estava tentando ser condescendente pelo que fez por meu filho, então me deixe resumir: você terá alta, e sairá daqui ao amanhecer isso depois de falar ao meu filho o quão isso é demais para você, e que é pressão demais ter que ficar por pena com um homem deficiente.

Ela se levanta e antes de sair, olha de volta para a menina que lutara para se sentar.

- Eu desligaria os aparelhos dele, se fosse preciso. Como já sabe, a morte as vezes é solução. Vai pagar para ver ao negar outra proposta?

Assim ela desaparece atrás da porta.

O Inferno de ElijahOnde as histórias ganham vida. Descobre agora