Sobre o olhar de Elizabeth

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— Coloque seu dedo aí, professor. Pelo que vejo, é com a sua digital, que prepotente. — eu reviro os olhos.

A porta destrava, empurro para ele e peço um copo d'água, perdoe-me a mentira, mas precisava sair. Então ouço um estrondo seguido por um palavrão antes mesmo de andar.

— Está tudo bem, senhor Elijah? — pergunto alto, intimidade demais para entrar.

— Me ajude! Acho que quebrei o pé! — me assusto com suas palavras e entro.

Não consigo deixar de observar o lugar, muito bonito e bastante masculino. A sala ampla possuía portas da varanda feitas de vidro do chão ao teto, coberta por cortinas de seda azul acinzentado, as paredes cor de gelo ostentavam quadros antigos pendurados em boa altura, e  chão de piso pérola escura em porcelanato. A primeira vista uma baixa lareira chamava atenção na parede, uma poltrona de veludo vermelho havia sido colocada a sua frente, do outro lado um sofá de couro preto e uma mesinha de centro de madeira rebuscada.

E meu professor estava caído no chão por ter esbarrado e quebrado uma escultura de cristal que estava em cima da mesa de centro, uma mesinha inocente. Apresso o passo e o ajudo a levantar, mas assim que ele começa a se erguer vejo a vertigem em seus olhos e não me esquivo a tempo de não ser banhada por vômito.

— Desculpe, eu fui um menino mau.

— Vamos o senhor precisa descansar. — saímos da sala, eu morrendo com o peso dele sobre o meu, soltando fogo pelas ventas. No corredor para os quartos ele me apóia na parede com mais brutalidade do que eu poderia imaginar, arregalo meus olhos realmente com medo.

— De fato, você quem precisa descansar, vovó. — ele diz e seu hálito sopra em meu rosto, álcool e hortelã, era tão injusta toda essa aproximação: seus braços me cercado empurrando a parede atrás de mim, mas ele não me tocava. Aos poucos seus olhar perdido ganha foco sobre meus olhos, e eles parecem ganhar lucidez.

— Inês? — ele pergunta, com uma onde de reconhecimento, não sei como reagir a esperança que aflora em meu peito, nunca imaginei que ele recordaria de forma tão inesperada, quando eu já havia desistido... — Minha Inês, eu sinto muito... esperei muito tempo por você.

— Eu... te encontrei. — digo arfando e sentindo minha sobrancelha vibrar.

Ele preenche os olhos com ternura, tira uma das mãos e acaricia meu rosto, não vou contra a vontade de usufruir do seu calor, ele levanta meu queixo e umedece os lábios. Mas não continua, parece ter uma tontura e o seguro o guiando até o quarto.

O auxílio para achar a cama, ele se senta meio envergonhado e não tira os olhos dos meus.

— Eu preciso... hum...

— Pegue a roupa que quiser de meu armário — não era isso que iria sugerir, ia dizer que "amanhã nos falamos querido, descanse" — Por favor, eu insisto.

Ele levanta com uma visível dor de cabeça e para à minha frente segurando minhas mãos — Por favor, não posso perder você de novo. — e sai em direção ao banheiro. Assim que some de vista ouço mais um estrondo.

— Você não parece bem.

— Eu me envergonho.

— Deixe isso para lá, e permita que eu lhe ajude... — peço e ele guia minhas mão até o primeiro botão de sua camisa.

Visto de fora, aquele gesto me parecia pervertido e imoral, mas minha timidez ao soltar cada um e o olhar nervoso dele tornou tudo íntimo e doce. A sensação era... Antes de terminar me desvio dele e ligo o chuveiro para ir esquentando.

— Eu... Vou trocar a roupa. Onde eu...

Ele ri com meu constrangimento, mas provavelmente deve ter lembrado que a culpa era dele — No guarda roupa das toalhas, há uma porta, Inês.

Saio sem fôlego por tudo que aconteceu loucamente nos últimos minutos, isso era surreal, contos de fadas não existem... mas por que me sinto tão bem? Passo a mão pelo cabelo, e sem escolha procuro alguma roupa. O guarda roupa de madeira ocupava toda uma parede abri as duas portas do meio e me deparei com o closet, corando por algum motivo que não sabia peguei uma toalha, blusa e...e... uma cueca samba canção de cetim cinza. Era ela ou uma cueca box. Vou até a cozinha, tentando não olhar demais para esse lado material e abro a porta da lavanderia, tiro toda a minha roupa as coloco na máquina que ligo e me enrolo na toalha. Corro para o banheiro de hóspedes e tomo um banho rápido, depois de perder tempo aprendendo a lidar com chuveiro moderno. Coloco as roupas dele e sem saber como e se devo ir para junto dele, eu volto para a cozinha e penso em pegar água para ele, então vejo que Elijah tem coco, minha avó costumava tomar suas cervejas nos finais de semana, sempre lhe dava um copo de água de coco para hidratar depois.

Entro acanhada no quarto e ele está deitado de lado franzindo as sobrancelhas.

— Venha cá — ele tenta sorrir.

Me aproximo e o faço sentar  encostado nos travesseiros — Isso vai ajudar... — ele me encara com aqueles olhos que não devia e bebe a água. Saio dali e arranjo um pano para limpar o chão da sala.

Meu anjo de olhos meigos, não vá.

Sinto a presença dele, enquanto estou ajoelhada limpando, não era nada vergonhoso para mim, mas ele respirou fundo em desaprovo. Estendeu a mão para mim, colocando seu copo na mesinha — Largue isso... Durma comigo está noite.

Meu coração acelera com a facilidade que me ergue e me guia até seu quarto. Estremeço por não entender o que ele quis dizer com "durma comigo" e não estava pronta para fazer certas coisas...

Ele nos aninhou por entre os lençóis brancos e macios, pousando meu corpo sob o seu, ele estava exausto percebi pela melodia de sua respiração, mas passou a mão por meus cabelos úmidos, exatamente como naquela noite, até que adormeceu. Não fiquei tensa porque anseio por este momento há oito anos, e a falta da familiaridade de sua pele quente era algo que sempre me deixou incompleta. Eu estava bem, eu finamente estava com ele e ele se lembrara de mim.

O Inferno de ElijahOnde as histórias ganham vida. Descobre agora