Epílogo

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Há uma estranha e indecifrável magia que envolve um sujeito no momento em que ele percebe que a vida esta, enfim, completa. Sendo cada humano na terra único e inigualável, claramente essa completude nunca é a mesma para todas as pessoas. Para mim foi em uma piscina azul inflável no meio da sala, com a minha mulher gritando no inacreditável desafio da dor do trabalho de parto, me observando de um jeito estranho - meio homicida, meio maníaco e meio aliviado - como se eu fosse um ponto de foco para sua concentração ou talvez somente uma representação do seu desejo de vingança.

Mesmo temendo que posteriormente ela pudesse realmente me sufocar deliciosa e lentamente por fazê-la passar por aquilo mais uma vez, não houve nem um segundo que eu desejasse mudar em todo o nosso tempo juntos. Todos os nossos risos e nossas conversas, nossos momentos juntos sozinhos ou rodeados pela família... As brigas! Tivemos brigas ótimas... Ou mesmo a ordem que as coisas aconteceram. Acho que tudo foi perfeito do jeito que foi.

Claro que quando éramos só nós dois e o Tommy já era maravilhoso, mas já havíamos decidido que queríamos dar muitos netos para nossos pais mimarem além de um único menino de de 6 anos - tivemos o nosso pequenino Tate, uma gestação tranquila até que no momento de nascer ele desistiu no meio do caminho. O parto demorou umas boas 36 horas com minha garota implorando por algo que fizesse aquilo parar, no entanto assim que Tate se moveu um pouquinho, seu nascimento foi quase uma escorregada nos últimos cinco minutos. E eu fui pai de um recém nascido pela primeira vez. E aquele momento foi mágico! Aquela coisinha rosa e socada, gritando e se esticando e sendo escorregadio que nem um peixe era totalmente nosso e era perfeito!

A primeira semana sempre é difícil, mas depois que se pega o jeito, você realmente pega o jeito da coisa.

Alison havia abandonado a vontade de voltar para o interior, ela estava muito mais acostumada ao ritmo urbano e ao trabalho. Porém, ela ainda desejava um lugar com muito espaço para nossos filhos correrem. Acabamos encontrando uma casa por perto que se encaixava no nosso perfil e nos mudamos assim que o Tate nasceu - embora os pais dela ainda insistiam que não precisávamos deixar a mansão - e pedimos que Tamara viesse conosco já que ela era tão afeiçoada ao Tommy e não poderíamos confiar nossos meninos a outra pessoa mais que a ela quando não estávamos em casa.

E de repente as coisas melhoraram tão rápido. Gostamos tanto de ser pais juntos que queríamos mais daquilo, e quando Tate fez um ano e três meses, decidimos ter outro bebê. E tivemos dois de uma só vez.

Minha doce e tímida Emma, com seus olhos azuis e cabelos cor de mel escuro, assustadoramente parecida com a mãe - assim como o Tate era a minha imagem quando garoto. Emma me tirou do universo de naves espaciais e Cowboy para um cheio de princesas e castelos e me fez amar cada segundo disso, me fez sentir como um herói de contos de fadas e um rei de um lugar muito distante, por ela eu vesti a armadura de pai coruja. Me levando aos seus recitais de balé, aulas de equitação e comparecendo aos seus chás da tarde. Ela sozinha me desarmava completamente - depois da Alison - e para isso bastava aquele beicinho vermelho e tremulo, olhos aguados e bochechas vermelhas enquanto ela miava "... mas, papai..." e ela me tinha na ponta dos dedos.

E logo a Hailey, escorregando para a terra logo após a irmã, e graças a ela decidimos que dois meninos e duas meninas estavam ótimos demais, já que minha caçula, com seus agudos olhos castanhos, se mostrou um pequeno pandemônio. Meu temor por Hailey é que um dia sua boca iria conseguir que a matassem, pois ela não media palavras, mesmo na tão tenra idade de 4 anos, além de possuir uma inacreditável memória para palavrões e uma acuidade impressionante para usá-los no momento correto. Como quando ela mesma desenhou nos relatórios semanais de uma apresentação importante para um projeto novo e quando eu a questionei sobre o que ela achava daquilo ela disse "acho que você esta na merda...", bom, graças aquilo eu estava mesmo, e levei um maldito tempo para arranjar outra cópia. Uma moeda para o pote dos palavrões da Hailey. Com mais algumas e ela poderia pagar sozinha uma viajem à China e uma estadia num hotel. Além da sua afeição a objetos pontiagudos e brilhantes que poderiam machucá-la de verdade.

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora