Capítulo 6

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Foi um vexame completamente desnecessário... Mas foi engraçado, eu admito, apesar de tudo. Ver a cara de revolta e surpresa da Rox quando sua roupinha de marca ficou irremediavelmente suja de sorvete de uva, chocolate e kiwi foi a coisa mais hilária que eu já tinha presenciado e segurar a risada naquela hora foi realmente muito difícil. Madelyn ria sem nenhum traço de vergonha, se dobrava sobre si mesma com as mãos na barriga, dando a gargalhada mais engraçada que eu já ouvi sair dela, livre, alta e fresca. Eu estava perdoado então.

E no entanto Alison já não sorria mais. Não parecia estar achando graça como antes, embora não parecia irritada nem nada, apenas séria e sem emoção.

- Você está legal? - perguntei, curioso sobre essa reação repentina quando antes ela ria - Não liga para o que a Roxy faz... Ela só é meio doida... Mas quem não é, não é verdade?

- Não me importo com isso... Ou com ela. - Ela disse encolhendo um ombro - Não é a primeira vez que me chamam de vadia.

Fiquei observando enquanto ela dava um beijo no rosto do Tommy, ajeitando sua posição em seus braços e continuando a olhar para frente. Me perguntei em que momento a palavra "vadia" saiu da boca da Rox, quer dizer ela disse claramente "cadela", mas foi para a Mad e não à Alison.

- Não me lembro de ouvir ela dizer que você era vadia... - Comentei minha observação.

Caminhamos em silencio enquanto eu esperava a resposta, a calçada estava aquecida debaixo dos meus pés, mas havia uma brisa deliciosa que bagunçava seus cabelos loiros e os jogava para trás dos ombros. Tommy voltou a chupar o polegar e acomodou sua cabecinha no oco do pescoço da mãe, meio sonolento. Minha irmã caminhava num ritmo engraçado a nossa frente guiando Cup Cake que a seguia de boca aberta num sorriso canino, trotando e balançando a cauda.

- Mulheres não precisam usar a voz para dizer algumas coisas, Josh. - Ela respondeu calmamente embalando o filho gentilmente - Os olhos dela fitando o meu filho e a mim, me disseram tudo o que eu precisava entender. Eu conheço aquele olhar, não é a primeira vez que o recebo. Mas isso não me deixou chateada, não se preocupe.

- Então o que foi?

- É apenas que ela me lembra a alguém... - Ela disse placidamente, como se embalasse a memória em uma caixa lacrada e a guardasse num buraco escuro, e nas entrelinhas eu podia entender seu cérebro me avisando "e você não vai saber quem é".

Respeitava Alison e suas decisão de manter distância. Para muitas pessoas é realmente difícil criar laços com outras pessoas rapidamente, ainda mais se você vive se mudando como ela e a família faziam. De cidade em cidade através do país, sem manter uma estabilidade. Eu entendia perfeitamente. Mas mais uma vez me perguntei qual era a dela. Por que manter essa distância apenas por não poder ficar tempo o suficiente para manter as pessoas na vida dela? A vida não pode ser completa quando se está solitário o tempo todo, em algum momento se precisa de amigos em volta te fazendo rir e mostrando que a vida não é só um monte de merda acontecendo o tempo todo.

Olhei para cima em busca de ajuda dos céus, o sol já começava a descer na direção das montanhas no meio da tarde, o dia estava quente, com aquele mormaço úmido e fragrante da primavera californiana. O cheiro doce da aproximação do verão pairando tão sutil que era quase imperceptível. A luz do entardecer se chocou contra as mechas loiras da Alison e iluminou seu rosto ressaltando a cor dos seus olhos e o que me pareceu... Cansaço? refletido neles. Merda, isso me cansava também, esperar, querer e não ter, desejar e não poder tocar.

- Vou te levar pra casa... - eu disse deixando escapar um sopro pesado - Você quer?

- Por favor... - Ela respirou fundo parecendo aliviada e eu senti um gosto amargo no fundo da barriga - Tommy precisa de uma fralda limpa.

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora