Capítulo 8

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Eu não quis perder meu tempo explicando à minha irmã as condições da minha suposta "relação" com Alison. Deixei que ela pensasse o que quisesse e fiquei calado até em casa. Afinal de contas, não era grande coisa.

Meu pai assistia o jogo de basebol na TV da sala de visitas e segurava uma garrafa de cerveja, mas não parecia prestar atenção no programa. Parecia que estava apenas nos esperando. Exalei pesadamente o ar pelo nariz enquanto o via. Mais uma vez me lamentando pela devastação que apenas um dia causou em nossas vidas.

Meu pai não era mais o mesmo cara descontraído que era antes que a mamãe morresse. Antes tínhamos os mesmos dias tediosos de uma família comum que vivia em Beverly Hills, tomávamos o café da manhã juntos enquanto a mamãe falava sobra todos os planos que ela tinha para o dia conosco, já que ela não trabalhava e dedicava todo o seu tempo a nós três. Vivíamos bem, a verdadeira imagem de pôster da família americana, capitalistas e com dinheiro de sobra, inatingíveis pelos problemas esternos e acima das repressão sofrida pelos menos afortunados - assim, triste e soberbo como soa. Então um dia a polícia bate na sua porta e diz que a pessoa que você mais ama, no mundo todo, foi arremessada a uma distância de vários metros por um carro acima do limite de velocidade dirigido por um motorista que achou bacana se embebedar depois do almoço. Tudo acabou, a realidade golpeou nas nossas caras e minha mãe virou uma estatística. E agora meu pai havia se resumido em um cara meio tenso e calado na maior parte do tempo. Como se nossa mãe houvesse levado a melhor parte dele quando foi enterrada. Ele não saía mais. Não se divertia como antes e não sabia como agir como um pai sem ela.

Caramba, eu sentia falta da mamãe também, mas era como se ele sentisse por todos nós o tempo todo, sem nunca estar pronto para dizer adeus.

— Oi, pai! — Mad estava elétrica por causa do passeio, jogou-se sobre o colo do papai rindo agitadamente. Esse som me deixava tranquilo.

— Oi, querida... — ele pareceu agradecido por ter que tirar os olhos da TV — Divertiu-se?

— Muito! — Ela cantarolava — Foi tão legal, nós três andamos juntas e vimos um cara levando um porquinho de fita vermelha e ele era bem pequenininho... Josh está namorando.

— Mesmo? — Ele ergueu os olhos direto para mim, desconfiado e surpreso — Quem?

— Alison Heart. — Disse Medelyn ele me mudou seu olhar de desconfiado para somente gelado, eu quase engoli em seco.

— A filha do senhor Heart? — Ele disse apertando os dentes — Nossa vizinha de calçada?

— Ela mesma... — Mad continuou, sabendo que eu estava em problemas e apenas querendo por mais lenha na fogueira — Vi os dois se beijando na praça de alimentação do shopping.

Ele uniu as sobrancelhas e a pestinha sorria de puro contentamento.

— Não estamos namorando... Só nos beijamos.

— E o que Alison Heart fazia com você? Supostamente devia levar sua irmã e as amiguinhas dela ao shopping e não ficar aos beijos com a filha do meu chefe.

— Não estamos namorando... — repeti. Ele não parecia irritado, mas sim incomodado.

— Mas se marcaram um encontro no domingo e tudo... — Mad comentou e vi pelo canto do olho como ela se divertia por achar que eu estava encrencado e que talvez seria punido. Lhe dirigi um olhar vingativo.

— Madelyn, você não tem um computador pra brincar? — Perguntei sentindo a picuinha e o sentimento de vingança fluírem pelo meu olhar e na minha voz — Por que não dá uma atualizada em seu perfis no Facebook, reddit e twitter?

Ela apenas arregalou os olhos castanhos e correu para cima sem nem se despedir. Nosso pai não permitia que Madelyn tivesse uma conta em nenhum desses sites de redes sociais porque ela só tinha 12 anos. Pedófilos existiam a fervuras nas surface web e Mad podia se cair no papo furado de alguém dizendo ser um adolescente descolado que queria fazer uma amizade e trocar figurinhas, quando na verdade era só mais um velho gordo punheteiro cheio de tesão por garotinhas. O tipo de gente por quem eu tinha nojo.

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora