Capítulo 25

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Deveríamos nascer com algum tipo de transmissor que avisa exatamente quando uma coisa não está do jeito que deveria. Qualquer sinal.

Ou talvez eu só não estava prestando atenção no que acontecia mais adiante. Distraído com a mudança que aconteceu dentro de casa... Pelo que parecia o problema com o Evan trouxe luz à mente do meu pai e ele estava um pouco mais afetivo e parecia se esforçar em ser aquilo que eu e Maddie queríamos que ele fosse, algo além de um fornecedor de dinheiro. Ele estava realmente empenhado, até foi ver a partida de futebol das meninas no colégio da minha irmã, coisa que ele nunca fazia e nem lembrava, e ela ficou feliz em jogar sabendo que ele estava na platéia. Acredito que ele finalmente percebeu que a filha caçula não era mais um bebezinho e passou a falar mais com ela e, bem, comigo também.

Foi como pôr a cabeça sobre a água e sentir um grande alívio. Mas eu me afundava de novo ao levar meus pensamentos para a minha namorada. Ao recordar o nosso dia de filmes e o tudo que fizemos na sala de vídeo. Foi diferente... de tudo que já experimentei na vida, aquilo foi cheio de ternura e inacreditavelmente doce. Não foi só prazer e sensações físicas, eu fiz amor com ela. Por uns instantes eu toquei o nirvana com a ponta dos dedos e dei o meu coração de bandeja para Alison.

Achei que ela iria ficar bem com isso, que a resposta aquela comoção seria positiva e que tudo bem nós atravessarmos essa barreira.

Eu estava errado.

Foi num sábado, apesar de eu ser péssimo com datas eu sei que foi num sábado, que recebi um torpedo dela dizendo «Vem pro portão». Achei meio impessoal, mas olhei da minha janela e a vi de pé ao lado do carro - apesar de saber que ela ainda estava de castigo, então acredito que aquilo tenha sido uma exceção - e fui até lá.

Cara, ela estava linda! Uma calça jeans, botas de veludo preto de cano longo e com salto. Uma blusa branca de botões e mangas curtas. Um colete marrom bem escuro. Cabelo solto e úmidos e aqueles acessórios que ela gostava de usar. Mas Alison parecia tão séria... Quase triste. Franzi o cenho e me aproximei.

— Oi. — ela me cumprimentou como uma pessoa nervosa tentando parecer calma.

— Oi. — me aproximei o suficiente e a beijei nos lábios rapidamente, como eu normalmente fazia quando a encontrava.

— Temos que conversar... — essa é a frase que sempre deixa qualquer ser humano tenso. Não importa de que sexo você seja ou sua religião ou sua cor. Se você namora e ouve isso da sua namorada ou namorado, a coisa é séria e geralmente nunca é um sério bom. Então não foi novidade eu sentir todos os músculos do meu corpo se retesarem.

— Nunca gosto de conversas que começam com essa frase. — e eu conhecia bem o protocolo pois quem as começava era geralmente eu.

— É... E não vai gostar desta. — fitei o mais profundo da imensidão cinzenta decorada de bolinhas azuis dos olhos dela e senti medo, mas acenei dizendo que ela podia dizer — Ouça, eu quero ser breve... — disse esfregando as mãos ansiosamente — Sobre esse relacionamento... — Eu me sentia cada vez mais desconfortável com aquela conversa, principalmente porque ela estava sendo tão direta quanto sempre foi — É melhor pararmos por aqui. — Assim, como uma machadada rápida e firme, eu ouvi as palavras que o meu cérebro buscou evitar desde que eu soube que não podia me ver sem ela.

— Parar? Quer dizer, nós? — Julguei em um par de segundos que talvez tenha ouvido errado, talvez fosse uma completa confusão.

— É. — Eu podia sentir a tensão por baixo das palavras, contida em sua voz, podia sentir que Alison não gostava do que estava fazendo.

— Por que? É algo que a Roxane falou? — Não podia deixar de franzir a testa e arregalar um tanto os meus olhos, ok, eu confesso que estava perplexo e sentindo o meu ego ser chutado que nem um filhote de cachorro — Eu falei para me dizer se ela te incomodasse... Não se importe com ela.

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora