Capítulo 7

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Me preparar para falar com Alison outra vez, no dia seguinte, foi como me preparar para ir a uma guerra. Era preciso reunir fibra e um pouco de resistência, pois eu não tinha a menor ideia de com o que iria lidar e levei algum tempo para arquitetar alguma coisa. Lhe dando o espaço que ela precisava antes de tentar outra vez.

— Alison... — Chamei-a logo antes que pudesse entrar na sala. — Hey, Alison.

— O que é? — Ela perguntou já se armando novamente de sarcasmo e frases cortantes e eu achei que já fosse começar a suar, mesmo com toda excitação aquele tom podia minar a minha coragem.

— Ah... Calma... — Pedi tentando não representar uma ameaça.

— O que você quer, Joshua? — Ela girou os olhos, quase cansadamente, foi a brecha que eu precisava.

— Calma aí, vem cá. — Puxei-a delicadamente para um canto, para liberar a passagem da porta — Eu... Queria me desculpar. — Comecei meio exitante. Isso pareceu surpreendê-la e eu sorri por dentro em vitória — Eu realmente tenho sido um babaca esses dias e percebi que isso não é legal com você. — Apesar do que possa parecer, realmente estava sendo sincero com ela.

— Tem razão. Não é. — Ela confirmou me encarando com aqueles olhos expressivos desconfiados, mas recarregados daquele brilho de excitação.

— Isso... — Apertei os dentes para não chiar. Toda essa situação não era algo que eu estava acostumado, estar tão interessado em alguém ao ponto de recuar para começar de novo. — Você acabou de chegar e precisa de tempo para respirar e se acostumar a Los Angeles, não é legal ter alguém te rodeando.

— Exatamente, Capitão Óbvio.

— Eu... — Me contive outra vez de grunhir ou chiar pelos dentes. Alison não tornaria isso mais fácil para mim. — Peço desculpas por tudo... Sério. Não vou mais ficar te chamando pra sair depois da aula, ok?

— Hum, ok... — Aceitou e eu respirei aliviado, isso pareceu satisfazê-la.

— Podemos ser amigos? — Propus — Como bons vizinhos e colegas de estudo?

Alison mordiscou o miolo do lábio inferior, como se reprimisse uma risada  cáustica, e sacudiu a cabeça bem lentamente para os lados. Oh, eu podia imaginar seu cérebro trabalhando, imaginando até onde eu iria para tê-la - e eu estava ansioso por isso. Finalmente ela estalou a língua rosada na ponta dos dentes.

— Vou pensar no seu caso... — Disse. 

Nem tudo é perfeito, eu precisava reconhecer. Mas já era alguma coisa, alguma garantia de que eu podia me aproximar. "Ok, você não desiste e isso, no fundo, está divertido."

Foi como um marco se instaurando automaticamente, um começo de alguma coisa. Uma vibração que eu podia sentir ao nosso redor onde assim era fácil entrar na sua sintonia. Para o bem ou para o mal, meu objetivo então era apertar essa cercania ao longo do dia. Eu tinha apenas umas poucas horas para conseguir que Alison entendesse que eu não era um perigo para ela, que eu não passava de mais um cara interessado e que, de repente, podia ser alguém com quem ela poderia ter um bom momento. Sabe aquela sensação, logo de cara, quando você conhece uma pessoa e sabe que ela tem algum significado pra sua vida, seja lá o que for?

Passei as aulas que fazíamos juntos tentando ficar o mais próximo possível, sentado uma carteira atrás da dela ou do lado, mandando recados engraçados por um pedaço de papel. Me ofereci sua dupla na aula de música e tentamos tocar uma música dos Beatles no piano, ela não era excepcional nos instrumentos como era cantando, era apenas regular como eu e a maioria. 

— Ai, errei outra vez... — Alison reclamou quando seus dedos esbarraram nas teclas erradas pela quarta vez no mesmo trecho. 

—  Tudo bem, ninguém aqui é profissional. — Encolhi um ombro e recomeçamos o acorde.

Juventude à flor da peleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora