Capítulo 14 - Elizabeth

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Ele dirigiu mais rápido do que poderia imaginar que dirigiria alguém de sua idade. Ouvia sua voz distante ao perguntar o que havia acontecido, e por que eu precisava ir para o meio da estrada.

— Eu não quero perdê-lo. Não vou aguentar seu Giuseppe...

— Tutto ficará bene, Eliza,  non te preocupe. — tentou me tranquilizar, mas eu não preciso ficar calma! Preciso sentir tudo isso, preciso implorar por uma terceira chance, para não cometer esse maldito erro de novo! Eu sempre tive esse defeito, acho que vai dar tempo de consertar tudo... achei que poderia trabalhar e pagar o tratamento de vovó, achei que "só mais uns meses juntarei o restante do valor", mas o meu tempo acabou e a vida dela também, e hoje me culpo por não ter aceitado a oferta de Vera! E se ele for embora... me culparei o resto de minha vida, a cada dia, por minha própria voz o mandar embora.

Eu não me importo com nossos infernos pessoais. Não me importa o que ele tenha feito de ruim! Que se exploda minha dor e raiva ao lembrar da mãe dele! Eu prefiro escolher o eterno cliché de curarmos um ao outro. Podemos aprender a amar, podemos aprender a enxergar cada cicatriz que possuímos, e a cada dia... eu sei que podemos disfarçar a dor. Só não podemos... Eu só não posso deixá-lo ir. Não dessa forma. Não agora.

— Dio mio, parece que aconteceu algo na pista, non entendo o que vá querer por cá. — diz ele e só assim percebo que o carro está parando.

Arregalo os olhos saindo de meu estado de congelada negação e abro a porta, não ouço nada apesar de saber que Giuseppe me chama, corro por entre os carros que enfrentam o congestionamento. Há um grupo de curiosos observando o que eu ainda não admito ser, atrás da fita de isolamento. Empurro pessoas sem pedir desculpas, quando consigo respirar melhor sem mais ninguém à minha frente um grito escapa de minha garganta.

Um bombeiro está terminando o que pareceu um trabalho duro de cortar as ferragens do caminhão que está engolindo o carro de Elijah: toda a frente do carro está sobre o caminhão. Em câmera lenta tento focar meus olhos em vertigem, eles param quando o vejo. Os médicos se entre olham para sincronizar o momento de colocar Elijah em cima da maca ao tirá-lo daquele resto de carro. O estabilizam, colocando um colar cervical amarelo em seu pescoço, mas não o levam para a ambulância, começam a fazer massagem cardíaca em seu peito.

Ele está inconsciente. Ele está inconsciente... vozes na minha cabeça não me deixam em paz.

De repente ele parece abrir os olhos o que ditou o caminho para os socorristas: tentaram conversar calmamente com ele, já que Elijah dizia coisas sem sentido e parecia agitado, mas não tinha resultado tentando se levantar.

—  Calme senhor, mantenha a calma, estamos aqui para ajudar você. Vai ficar tudo bem, mas precisa ficar calmo para levarmos o senhor. —  estavam receosos de levantar a maca, e ele se mover muito por a maca não ter amarrações adequadas, e ele acabar caindo. Raciocinei.

Elijah se debateu, gritando de dor. Uma pequena quantidade de sangue começou a sair de seu nariz e ouvido.

— Ele vai acabar tendo uma convulsão se continuar assim. —  comenta um homem atrás de mim. — Nós médicos não somos deuses, não podemos fazer nada se a vítima propagar o sangramento interno cerebral.

Passo por baixo da fita amarela e por baixo dos policiais que cercavam a área, corro antes de ser puxada e me jogo ao chão pegando a mão de Elijah. O médico me encara já esperando o policial me tirar...

— Elizabeth. —  o médico levanta a mão para sinalizar que não precisava de intervenção.

— Sim! —  tento sorrir com as lágrimas — Sou eu, eu tô aqui, fique calmo professor... ainda preciso de suas broncas. —  ele tentava dizer algo — Eu sei, não precisa falar... poderá me dizer daqui a pouco, tudo bem?

O médico assente para mim, entendendo, e se vira para alertar para o seu parceiro que está preparando tudo para o atendimento dentro da ambulância despreparada que carrega outra vítima.

  — Diga...— ele tentou começar.

— Xiiiu... Você não deve falar .

— Pra me perdoarem. Você também poderia...?

Não sei se seria permitido, se isso era um erro no momento, porém o molhei com minhas lágrimas ao me aproximar de seu rosto, então depositei um beijo trêmulo em seus lábios frios, rachados com resíduo de sangue. Por uma fração de segundo seu lábios tentam se curvar em um sorriso.

  — Diga para eles...

Me afastei extasiada vendo levantarem a maca e o colocarem dentro do veículo.

"Lesão no crânio, coluna cervical."

Dor no peito, John, provavelmente perfuração pulmonar, sangramento interno."

Fecharam as portas.

" Prepare o desfibrilador —  pausa —  De novo... Vamos lá, vamos lá... Mais uma vez!"

" O coração não responde"

Fui dando passos para trás, a imagem de tudo em volta deslocando. A van deu partida, e fez a volta, retornando do caminho em que vim pela pista vaga.

—   Pode me dizer para qual hospital o levarão?pergunto ao policial que me ampara.

— Santa Maria Nuova. Não sabemos se ele... Am... Seu namorado precisa de você agora, posso levá-la até lá.

Apenas olho de relance o senhor Giu que parado ali com o rosto vermelho, entendera que devo ir porque assistiu à tudo, como todos ali e seus narizes avermelhados. Mas eu não sei se vou ser forte para aguentar o que acontecerá lá.

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O Inferno de ElijahWhere stories live. Discover now